Preços do arroz parecem encontrar o piso; para variedades nobres, leve reação

Os preços médios do arroz em casca no Rio Grande do Sul, e o comportamento da relação entre oferta e demanda, na semana atual, parecem indicar que as cotações estão encontrando o piso de comercialização nesta temporada. Ainda que o produto importado alcance São Paulo numa equivalência de R$ 36, especialmente do Paraguai (cerca de 11,50 dólares pela cotação desta quarta-­feira, 19 de abril), e até 3% abaixo das cotações gaúchas e catarinenses no beneficiado, o mercado doméstico busca equilíbrio do produto gaúcho na faixa de R$ 38,50 a R$ 39 por causa da oscilação do produto ofertado e a estratégia de aquisições das indústrias.

O indicador Esalq/Senar-­RS mostrou nos três últimos dias mínima reação, de R$ 38,83 para R$ 38,97. Ainda assim, por causa do movimento cambial, em dólar o valor caiu dez centavos da moeda estadunidense para US$ 12,41. No mês, em reais, os preços acumulam desvalorização de 2,33% nos 19 primeiros dias de abril.

De parte das empresas paraguaias há duas realidades. A primeira é a falta de capacidade de estocar toda a safra e, portanto, a necessidade de escoar parte da produção em casca para o Brasil, que comporta mais de 80% do mercado exportador guarani. A segunda é a busca de fazer a média de preços de venda com bases remuneradoras, uma vez que nos padrões atuais a margem é muito pequena, quase empata, e os fornecedores do Mercosul sabem que haverá reação nos preços do Brasil no segundo semestre ampliando estas margens. Então, há um limite para suportar a venda com valores praticamente iguais ao custo de produção do casca.

Ao mesmo tempo, uma oscilação climática vem alongando o ciclo de colheita no Rio Grande do Sul. E a colheita da soja em várzea, para quem já colheu o arroz, está ocupando as atenções dos agricultores. Deste a última semana, empresas médias e pequenas entraram timidamente no mercado em busca de variedades nobres (BR Irga 409, Irga 407, Guri Inta e Puitá Inta, principalmente). Aparentemente, empresas que tiveram menor fôlego para financiar os agricultores e estabelecer o padrão de variedades que seriam plantadas.

Industrial da Planície Costeira Interna confirmou que o alto volume de Irga 424 e Irga 424 RI recebido pela sua empresa exigiu uma compra estratégica, que não era prevista inicialmente, de material superior para a composição do produto final que entrará no mercado entre julho e agosto.

Com isso, algumas empresas da Zona Sul, da Planície Costeira Interna e, pontualmente, de algumas regiões da Fronteira Oeste, fizeram aquisições de lotes na faixa de R$ 42 a R$ 43. Mesmo observando que se trata de compras de exceção, não deixa de ser uma boa notícia e ter um impacto “psicológico” positivo ao mercado. Contudo, convém ressaltar que, naturalmente, é um grão que opera num mercado levemente superior.

A safra no Rio Grande do Sul superou 70%, apesar de algumas dificuldades pontuais por causa do clima que vem alongando a temporada de colheita.

Exportações

Outra boa notícia vem das exportações brasileiras. Na semana que passou um navio com 25 mil toneladas de quebrados de arroz deixou o porto de Rio Grande rumo à África, e uma empresa de Pelotas (RS) embarcou 100 contêineres de beneficiado para o Peru. Apesar das dificuldades, o esforço da indústria e tradings que operam no mercado gaúcho vem sendo importante para consolidar negócios e, no conjunto da temporada, deve ter reflexo (maior ou menor, mas positivo) na estabilização do mercado em patamares remuneradores.

Os gaúchos fecharam uma exportação de sementes de arroz para o México. Embora em volume pequeno e com algumas opiniões contrárias, o entendimento é de que esta venda rentabiliza a empresa de pesquisas que comercializou, que está precisando, e começa a estabelecer uma relação comercial necessária. Na semana passada a Argentina comemorou a primeira venda aos mexicanos de arroz em casca. E os paraguaios festejaram uma venda também pequena, de grão beneficiado para Dubai, nos Emirados Árabes. Dependentes do Brasil, os paraguaios procuram outros mercados, e mais valorizados ­ para reduzir os riscos. Naquele país, recentemente foi inaugurada uma grande indústria de processamento de um grupo que tem investidores brasileiros.

Duas novidades são esperadas pelos paraguaios: a liberação ambiental da captação de água da bacia do Rio Paraná, que vai ampliar em 150 mil hectares a capacidade de irrigação e plantio no país vizinho (praticamente dobrando sua lavoura) e o anúncio das primeiras variedades locais de arroz, numa parceria com o Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) da Colômbia e o Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar), que também dão suporte às pesquisas de Irga e Embrapa, por exemplo.

Santa Catarina e Mato Grosso

No Litoral Norte, também há um fator regional interferindo nas cotações. A estabilização dos preços na zona de R$ 40,00 no mercado catarinense e a demanda anual de quase 500.000 toneladas de arroz gaúcho por parte do parque fabril do estado vizinho vem “travando” uma queda maior de preços na região. Sem capacidade de estocar todo este volume de uma só vez, a indústria catarinense vem atuando comedidamente nas regiões produtoras praianas gaúchas em cotações levemente acima das empresas rio­grandenses. E, pela necessidade da compra e a característica de processar parboilizado em maior volume, não apresenta a mesma exigência das empresas gaúchas.

No Mato Grosso uma retração mais forte foi verificada, com o fluxo de comercialização mais acelerado com a entrada da nova colheita. Preços variando de R$ 41,00 a R$ 45,00 nas zonas de produção e até R$ 47,00 colocada a saca de 60 quilos (55% acima) em Várzea Grande, no parque industrial. A baixa capacidade de armazenamento dos produtores e a produção dimensionada à capacidade de mercado das indústrias concentram o período de comercialização naquele estado.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 38,80 para a saca de 50 quilos do arroz em casca no mercado livre gaúcho, com queda de 0,5% na semana. Ao mesmo tempo, aponta retração de 2,4% nos preços da saca de 60 quilos do beneficiado (sem ICMS ­ FOB). Entre os quebrados, estabilidade para canjicão e quirera (R$ 48,00 e R$ 45,00 respectivamente) em sacos de 60 quilos. O farelo de arroz desvalorizou 4,7% nos últimos 10 dias, para R$ 400,00 a tonelada.

Expectativa

A expectativa para essa reta final de abril se divide em dois momentos. Em primeiro lugar para o fluxo de colheita, por causa da previsão de instabilidade climática nos próximos dias. Em segundo lugar, para o fluxo de comercialização.

Alguns contratos de financiamento direto da indústria vencem em 30 de abril e outros em 15 de maio, o que pode gerar um avanço da pressão de oferta e suplantar a sensação desta semana de que o “pior já passou”. De qualquer maneira, espera­-se que até junho, pelo menos, os preços se mantenham em patamares inferiores ou muito próximos do custo médio de produção no RS (R$ 44,00).

 

Fonte: Planeta Arroz

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