Política de Trump para renováveis pode afetar exportações brasileiras de etanol

Desde que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, começou a isentar pequenas refinarias americanas de petróleo da obrigação de usar de biocombustíveis, o cenário para os produtores de etanol se turvou no país. E, por tabela, trouxe incertezas também para os produtores do Brasil, que no ano passado exportou US$ 578 milhões de etanol para os americanos.

O etanol brasileiro costuma ter uma espécie de demanda “cativa” nos Estados Unidos por causa do mandato específico da EPA para os biocombustíveis “avançados”, categoria em que se encaixa o etanol de cana, e por causa do programa de combustíveis de baixo carbono da Califórnia (LCFS, na sigla em inglês), que valoriza os biocombustíveis quanto menor for sua emissão de carbono.

Mas ainda que o biocombustível brasileiro tenha algum espaço assegurado no mercado americano, a demanda dos EUA pelo produto e a remuneração das vendas do Brasil podem ser afetadas com as isenções.

Ao venderem etanol aos EUA, as usinas de países produtores geram uma espécie de ‘crédito’, os chamados RINs, na sigla em inglês, de uso de biocombustíveis que as refinarias americanas precisam acumular todo ano para cumprir o mandato de biocombustíveis. Caso faltem RINs para garantir o cumprimento, as empresas dos EUA devem comprá-los no mercado.

Do ano passado para cá, quando a EPA começou a conceder isenções ao às refinarias de forma retroativa para os mandatos de 2016 e 2017, o preço dos RINs desabou para todos os tipos de renováveis.

O valor dos RINs para os biocombustíveis “avançados”, que podem ser gerados pelos exportadores brasileiros de etanol de cana, caíram de US$ 0,70 por unidade no começo do ano para US$ 0,20 no início de agosto. É o que mostra a análise da S&P Global Platts.

A Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) emitiu cerca de 50 isenções para os mandatos de 2016 e 2017, o que aumentou o estoque de RINs para cerca de 3.1 bilhões, mais que o dobro de dois anos atrás, segundo a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA) dos EUA.

Indicações mais explícitas por parte do governo americano de modificação do Programa de Combustíveis Renováveis (RFS) também pressionam esse mercado. A desvalorização dos RINs se intensificou em meados de fevereiro, quando a Casa Branca chamou o setor petroleiro para discutir uma possível reforma do programa.

E a pressão sobre os valores dos RINs se acentuou quando a refinaria Philadelphia Energy Solutions (PES) pediu proteção na Justiça contra credores, culpando o RFS por seus problemas.

Para Sophie Byron, analista de preços agrícolas para as Américas da S&P Global Platts, os produtores brasileiros de etanol ainda estão se beneficiando da remuneração relativamente alta oferecida pelo programa da Califórnia. Entre agosto e setembro, disse a analista, quatro carregamentos de etanol brasileiro devem chegar à Califórnia mesmo em meio ao baixos preço dos RINs.

Como os preços de etanol no Brasil também estão baixos e o dólar cada vez mais alto, a exportação ainda é um bom negócio, afirmou a analista ao Valor, após apresentação em seminário na última quinta-feira (23/8). Mas “com os preços em queda dos RINs e o cenário incerto, fica cada vez mais difícil”, disse.

A perspectiva, segundo Byron, é que os RINs permaneçam sob pressão nos próximos meses. Para ela, o receio é de que a EPA inclua no próximo mandato de biocombustíveis para o próximo ano as previsões de isenções que podem ser dadas às refinarias.

“Se a agência ampliar essas isenções para grandes refinarias, isso pode reduzir os volumes obrigatórios (de uso de biocombustíveis). Se elas não precisarem atingir a meta, isso aumenta a pressão sobre os RINs”, afirmou a analista.

A pressão sobre as exportações de etanol aumenta se for considerada a queda dos preços do biocombustível no mercado internacional neste ano, em decorrência da oferta maior de milho nos EUA.

De janeiro a julho deste ano, o valor das exportações brasileiras de etanol aos EUA somou US$ 257.8 milhões, com queda de 27% na comparação com igual intervalo de 2017, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).

 

Fonte: Valor Econômico

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