Pesquisadores descobrem como potencializar efeito antioxidante de sucos de frutas

Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical testaram cerca de 90 formulações de blends de sucos de frutas tropicais nos últimos anos.
Pesquisadores da Embrapa testaram cerca de 90 formulações de blends de sucos de frutas tropicais para descobrir combinações que potencializassem seus componentes funcionais

Uma das respostas da natureza aos radicais livres são os agentes antioxidantes. Como possuem grande estabilidade molecular, eles inibem e reduzem as lesões provocadas pela oxidação nas células. Alguns antioxidantes são produzidos pelo próprio organismo, enquanto outros como o alfatocoferol (vitamina E), o betacaroteno (provitamina A), o ácido ascórbico (vitamina C) e os compostos fenólicos podem ser encontrados em frutas e hortaliças.

Algumas frutas tropicais, como a acerola, o camu-camu, o açaí e o caju, possuem grande concentração de antioxidantes. A expressão “Antiox”, relativa ao poder dos compostos bioativos e sua capacidade antioxidante, está se tornando cada vez mais comum nos supermercados da Europa e dos Estados Unidos. Embora seja bastante conhecida a atuação antioxidante desses frutos, ainda há poucos estudos sobre os efeitos que eles podem causar quando consumidos de forma conjunta, sob a forma de blends (misturas) de sucos.

Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical testaram cerca de 90 formulações de blends de sucos de frutas tropicais nos últimos anos. O objetivo era descobrir combinações que pudessem potencializar os componentes funcionais de cada um dos frutos estudados. Dois blends – com proporções diferentes de camu-camu, acerola, açaí, cajá, caju e abacaxi – foram testados in vivo. A pesquisa contou com a parceria da Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de São Paulo (USP) durante a fase de teste com cobaias animais.

De acordo com a pesquisadora Ana Paula Dionísio, da Embrapa Agroindústria Tropical, os efeitos benéficos observados foram o aumento do colesterol bom, o HDL, e também da ação de enzimas antioxidantes em animais saudáveis que receberam a bebida durante 30 dias. Esses resultados confirmaram o que os pesquisadores haviam encontrado por meio de testes in vitro: uma bebida com elevada atividade antioxidante, devido principalmente a sua composição em compostos fenólicos.

“Podemos dizer que dentro do projeto blends nós já conseguimos desenvolver formulações de misturas de sucos de frutas adequadas, pois verificamos a interação entre cada fruta sob algumas respostas, como atividade antioxidante. Porém, uma das grandes preocupações é a matéria-prima de boa qualidade e o processamento adequado. Essas são etapas fundamentais para garantir a manutenção dos componentes bioativos”, diz o pesquisador Nédio Wurlitzer, também da Embrapa Agroindústria Tropical. Embora haja diversas evidências científicas da relação entre frutas tropicais e efeito antioxidante, há poucas informações consolidadas sobre os efeitos delas no organismo humano. Por causa disso, os pesquisadores passaram a testar blends que possam ir além do seu potencial antioxidante. É aí que surge o yacon, uma raiz muito conhecida na região dos Andes e cujo consumo é associado ao controle da glicemia.

 

PRÉ E PRÓ-BIÓTICOS

O yacon possui uma grande quantidade de fruto-oligossacarídeos (FOS), o que o caracteriza como um alimento pré-biótico. Ao contrário dos compostos pró-bióticos, que contêm microrganismos benéficos à saúde humana, os pré-bióticos possuem açúcares que favorecem o surgimento de tais bactérias. “A legislação exige 1,5g de pré-bióticos por 100ml de produto líquido. O produto desenvolvido a partir do blend de frutas tropicais e yacon tem cerca de 6g por porção, quantidade bem superior à exigida”, acrescenta a pesquisadora.

Diversas combinações de yacon com frutas tropicais foram testadas. Uma das mais promissoras é a bebida de caju e yacon. Segundo Ana Paula Dionísio, o yacon foi escolhido por apresentar semelhança sensorial a frutas como pera e apresentar quantidades elevadas de fruto-oligossacarídeos em sua composição. Além disso, é altamente perecível e pouco encontrado na região Nordeste. “A partir do momento em que essa raiz é colhida, o período de armazenamento dela é muito curto. A gente acredita que o yacon em forma de bebida seja uma forma fácil de prolongar sua vida útil. A forma de processamento que desenvolvemos garante que não se tenha uma grande perda desses componentes funcionais. É uma forma de levar esse produto ao consumidor”, explica.

Os experimentos feitos com cobaias, em parceria com a Universidade Federal de Alfenas, também apresentaram resultados bastante animadores. “A bebida à base de yacon e caju serviu para aumentar o sistema antioxidante dos animais diabéticos e os microrganismos benéficos da flora intestinal. Os animais tiveram uma diminuição dos índices de glicemia que foram estatisticamente semelhantes aos índices dos animais saudáveis, embora eles continuassem diabéticos”, informa. Uma parceria com a Universidade Estadual do Ceará (Uece) está sendo estudada para que o mesmo experimento possa ser feito com humanos.

A intenção é que o produto seja caracterizado como uma bebida pré-biótica e rica em antioxidantes. “O yacon seria a matéria-prima que contribui com as fibras solúveis, com os FOS e com o ácido clorogênico, um componente fenólico que também está associado a um efeito hipoglicemiante. Já a fruta contribuiria com os outros nutrientes, ou seja, a vitamina C, os polifenóis e os carotenoides, que também são desejáveis. Esses componentes contribuem para uma capacidade antioxidante. A fibra já é mais responsável na questão da redução da absorção de glicose no organismo, ou seja, acaba sendo desejável, por essas questões. Então você vai começar a juntar funcionalidades dos produtos. Cada vez que se planeja um produto tem que se pensar qual o público-alvo, quais os fatores funcionais”, descreve Nédio.

 

Fonte: Embrapa

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