Henrique Meirelles debate oportunidades do agronegócio brasileiro na Feicorte 2013

Por equipe SNA

O Brasil não está imune aos problemas da economia global, mas tem oportunidades que devem ser aproveitadas, como taxa de câmbio mais competitiva, urgência em resolver os gargalos de infraestrutura e logística, e redução das barreiras comerciais dos países. Essa foi a principal mensagem de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, em sua palestra sobre o tema “Riscos e Oportunidades da Desaceleração da Economia para o Agronegócio”, realizada na última quinta-feira (20/6), durante a Feicorte 2013 – 19ª Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo (SP).

Segundo Meirelles, este é um momento importante no contexto econômico global, que vive com um cenário de desaceleração da taxa de câmbio. “O Brasil cresceu somente 10,6% em relação ao último trimestre do ano passado e, depois da forte recuperação, entrou em desaceleração consistente desde 2010, e deve fechar o ano com a maior queda dos últimos tempos”, diz ele, que acrescenta: “Embora o Brasil tenha aumentado a produtividade do agronegócio, de forma consistente, há duas décadas, para crescer precisa aumentar ainda mais os investimentos nessa direção”.

Meirelles lembrou que, enquanto a economia global cresceu 3,75%, em média, nos últimos anos, e 2,84% em 2013, os países apresentaram melhor resultado, na mesma análise: evolução de 6,19%, em média, e 4,48 % neste ano.

Uma boa notícia, continua Meirelles, é que alguns países que antes restringiam as importações estão abrindo as portas. “O Japão, por exemplo, deverá reduzir a proteção ao setor agrícola, em razão dos altos custos da renda da alimentação”, justifica.

Na opinião de Meirelles, o Brasil também será beneficiado com o consumo crescente de carne nos países emergentes, em razão do maior poder de compra da população e da migração da fonte de proteína para as de origem animal. Para ilustrar, ele citou a China, cujo consumo per capta anual de carne suína (que passou de 41 kg, em 2002, para 48,7 kg, em  2010) deve chegar a 54,8 kg, em 2020, e 58,3 kg, em 2030); de aves (que passou de 12,9 kg para 19 kg, entre 2000 e 2010) deve chegar a 31,6 kg, em 2020, e 42 kg, em 2030; e bovina (que passou de 5,2 kg para 7,7 kg, entre 2000 e 2010) deve chegar a 15,8 kg, em 2020, e 23,8 kg, em 2030.

O diretor de Commodities da BM&FBovespa, Ivan Wedekin, que participou dos debates, considera emblemática a velocidade de consumo na China. “Em 20 anos, para atender ao aumento do consumo per capita, ao invés de criar porco, a China terá que criar suínos. Para isso, terá que investir em tecnologia, isso significa mais grãos, mais soja, mais milho”, destaca.

Wedekin também considera um desafio o aumento da produtividade brasileira. Ele destacou a evolução da pecuária nas duas últimas décadas, em melhoramento genético, mas, em sua opinião, para alavancar os ganhos de produtividade, nos próximos 20 anos, a pecuária vai ter que se tecnificar e se transformar em um ramo da agricultura.

Lembrou, também, que 70% do que o agronegócio brasileiro produz é consumido no mercado interno. “Mesmo que o Brasil cresça, não podemos perder o patamar alcançado, afinal, passamos de um terço para dois terços em dez anos”, comenta. E deixa um recado: “A sociedade brasileira tem uma grande dívida com o campo, portanto, assim como precisamos de hotéis padrão Fifa, devemos ter portos, estradas e ferrovias com padrão de copa do mundo”.

Ivan Wedekin finalizou afirmado que a força do agro brasileiro é a iniciativa privada. “Todo mérito é do produtor, assim como todo risco.”

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