Operações de crédito rural aumentam mesmo sem juro subsidiado

A suspensão das operações com recursos equalizados, causada pelo corte no orçamento da subvenção do atual Plano Safra, não afetou o desempenho do desembolso de crédito rural em maio. O volume acessado pelos produtores no período chegou a R$ 24.9 bilhões, 8% a mais que no mês anterior, quando as linhas com juros subsidiados estavam abertas. Em abril, os empréstimos ao setor agropecuário ficaram em R$ 22.9 bilhões.

Nos 11 meses da safra 2020/21, já foram desembolsados R$ 216.2 bilhões, volume 25% superior ao registrado no mesmo período na temporada passada. Houve aumento em todas as frentes.

A alta mais forte foi nos investimentos, com aumento de 47%, para R$ 65.9 bilhões, seguida pelo custeio, que cresceu 21%, para R$ 117.1 bilhões. Os financiamentos para comercialização, com R$ 21.8 bilhões, e para industrialização, com R$ 11.4 bilhões, aumentaram 5% e 11%, respectivamente.

Com a proximidade do fim da safra e a escassez de dinheiro para equalização, as linhas com juros de mercado ou com taxas controladas sem subvenção já eram as principais fontes dos empréstimos nos últimos meses. As principais são a poupança rural livre, os recursos obrigatórios dos depósitos à vista e os recursos livres.

Pequeno impacto

O impacto da suspensão, informada em 4 de maio, foi pequeno, mas existiu. Em abril, quando o acesso às linhas com subvenção estava normalizado, foram emprestados quase R$ 2 bilhões captados pela poupança rural com equalização. Em maio, o volume caiu para R$ 196 milhões, valor referente aos poucos dias de operação antes da paralisação.

Existem R$ 9.4 bilhões equalizáveis ainda disponíveis e que aguardam a promulgação do PLN 4/2021, projeto que recompõe o orçamento da subvenção, aprovado nesta semana pelo Congresso Nacional, para serem liberados pelos bancos.

A expectativa do Ministério da Agricultura é que a safra 2020/21 seja encerrada com R$ 250 bilhões em empréstimos rurais, montante que considera também operações com agroindústrias e Cédulas de Produto Rural (CPRs).

 

“Se a gente tivesse essa demanda de paralisação das linhas no meio do semestre passado, no início de safra, ficaria muita coisa. Mas ela veio quando praticamente já não havia programa aberto, e os que estavam tinham muito pouca coisa para ser utilizada”, disse ao Valor Tiago Peroba, chefe do Departamento de Clientes e RI da Área de Operações e Canais Digitais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O impacto foi muito reduzido”, acrescentou.

Otimismo

Principal fornecedor de recursos para cerca de 40 bancos que operam as linhas de investimentos rurais, o BNDES está otimista com o cenário para a próxima safra.

Influenciado pela forte procura dos produtores até agora e pelos fatores macroeconômicos favoráveis ao campo, como dólar e exportações em alta e aumento no consumo de alimentos no mundo, o banco projeta forte busca por novos empréstimos a partir de julho, com o novo Plano Safra. O esgotamento precoce dos recursos equalizados neste ciclo e a demanda reprimida também compõem o cálculo.

“Em conversas com parceiros financeiros, os principais operadores de crédito agrícola, eles dizem que a perspectiva é de que o segundo semestre de 2021, o primeiro semestre de safra 2021/22, será muito forte”, disse o executivo.

Segundo ele, a chegada da digitalização no campo também é um fator que tem incentivado produtores a renovar o maquinário e comprar equipamentos cada vez mais tecnológicos, o que explica o interesse pelos financiamentos de investimentos.

Juros

A dúvida se concentra, por ora, nas condições de juros que o próximo Plano Safra oferecerá ao setor. Com Selic e Taxa de Longo Prazo (TLP) em alta e aperto fiscal do governo, a tendência é de aumento nas alíquotas do crédito rural.

“É inegável que se as mesmas condições se mantiverem, temos todo esse cenário favorável para a continuidade da demanda por investimentos no campo”, afirmou Peroba.

Sem recursos equalizados para repassar aos agentes financeiros, o banco centrou os esforços na linha com valores próprios e juros livres, a BNDES Crédito Rural. Em um ano, foram aprovados R$ 3.2 bilhões em financiamentos, a maior parte já em 2021, quando o dinheiro da subvenção começou a minguar.

 

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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