O Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, poderia quase dobrar o plantio da oleaginosa nos próximos anos somente com a incorporação de áreas de pastagens com maior vocação agrícola, apontou um estudo do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
A pesquisa, à qual a Reuters teve acesso, mostra que Mato Grosso pode incorporar, numa visão conservadora, 6,6 milhões de hectares de áreas com “boa aptidão” para agricultura.
O Estado plantou na safra 2013/14 uma área recorde com soja de 8,3 milhões de hectares, segundo o Imea, órgão ligado aos produtores.
“Estamos falando de áreas ‘filés’ (as melhores)”, disse o diretor-executivo da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo, em entrevista à Reuters, referindo-se aos 6,6 milhões de hectares de pastagens que poderiam se transformar em lavouras de soja, algodão e outras culturas.
Considerando somente o atual plantio de soja, a área poderia crescer em cerca de 80 por cento, com terras na região do Vale do Araguaia (leste mato-grossense), áreas entre o Parque do Xingu e o Estado de Tocantins, ou ao longo da rodovia BR-158, próximas ao Pará, no nordeste do Estado.
O executivo da Famato também citou terras na região noroeste do Estado, nos municípios de Porto dos Gaúchos, Juína e Brasnorte, entre outros, com boa aptidão agrícola.
O estudo, concluído em dezembro mas ainda não divulgado, foi feito com base na área ocupada pela pecuária (incluindo as chamadas pastagens degradadas), a partir da imagens de satélite e levou em conta fatores como clima, solo e relevo.
A partir daí, a pesquisa classificou as áreas entre favoráveis e desfavoráveis para uso agrícola.
A bovinocultura em Mato Grosso, maior produtor brasileiro de gado, ocupa 25,673 milhões de hectares.
Os dados do estudo acessados pela Reuters não indicavam quanto os pecuaristas teriam que elevar a produtividade por hectare, para compensar eventual ocupação das pastagens pela agricultura.
A expansão agrícola e pecuária ao norte do Estado gera preocupações relacionadas ao avanço do desmatamento, uma vez que muitas das cidades citadas no estudo estão dentro do bioma amazônico.
Por outro lado, a ocupação agrícola de áreas de pastagens, com o aumento da produtividade das fazendas de gado, pode evitar novos desmatamentos ao reduzir a demanda por abertura de novas áreas.
Segundo o estudo, a efetiva incorporação das áreas agrícolas depende de questões econômicas, uma vez que nas áreas de fronteira o custo de transporte dos produtos agrícolas é mais elevado, e da disponibilidade de mão de obra, entre outros fatores, disse o executivo.
“Precisa de ambiente de negócio todo propício, e quem constrói esse ambiente são os óbices da rentabilidade. Se o produtor continuar com a rentabilidade positiva dos últimos anos, automaticamente essas novas áreas vão sendo incorporadas a todo o processo, é natural”, disse Paludo, destacando que atualmente a agricultura remunera mais que a pecuária.
EXPANSÃO NO NORDESTE
A região nordeste de Mato Grosso já tem colaborado há alguns anos para um aumento na área plantada do Estado.
No nordeste mato-grossense, a área de soja mais que dobrou nas últimos cinco temporadas, de 501 mil hectares, em 2008/09, para 1,2 milhão de hectares em 13/14.
Em todo o Estado, a expansão registrada no mesmo período foi de cerca de 45 por cento, de 5,7 milhões de hectares no ciclo 2008/2009, para a estimativa de 8,3 milhões em 13/14, segundo dados do Imea.
Fonte: Reuters