O mercado futuro da soja – e das demais commodities – vem sendo pautado pelos movimentos do mercado financeiro e os últimos e turbulentos dias foram suficientes para derrubar os preços da oleaginosa na CBOT, fazendo-os perder, inclusive o suporte dos US$ 10,00. A aversão ao risco esteve bastante presente e motivou uma saída dos fundos de ativos mais sensíveis para outros mais seguros, como o dólar, que subiu e também contribuiu para a recente pressão.
Assim, com a trégua do financeiro e do dólar no mercado externo, as cotações também puderam recuperar uma parte da perdas. “O que foi sentido hoje foi que os preços da soja, do milho e trigo já estão baratos para os compradores, ou seja, os importadores. Então, o mercado está sendo, desde a semana passada, bastante comprador, e agora os grandes investidores – que estavam liquidando suas posições – já começaram a recomprá-las sabendo que tem muito comprador de físico agora e não tem mais oferta de físico no mercado global”, disse Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting.
Ao mesmo tempo, o mercado segue observando a falta de novidades sobre o clima nos Estados Unidos o que é, ainda segundo Brandalizze, um fator que limita grandes altas no mercado futuro. Segundo o Farm Futures, as condições atuais do clima nos Estados Unidos são “moderadamente favoráveis”, com chuvas que agora se mostram localizadas e menos intensas.
No mapa que traz a previsão climática para os próximos sete dias nos EUA, o NOAA – departamento oficial de clima dos Estados Unidos – mostra que o calor ainda é moderado e que as tempestades se deslocaram de Iowa e Minnesota hoje, mas que as precipitações devem ficar mais limitadas à região leste do Corn Belt. Já nas previsões mais longas, para 6 a 10 e 8 a 14 dias, o padrão deverá ser de temperaturas abaixo do normal e as chuvas voltando aos corredores I-70 e I-80.
No período de 28 de julho a 4 de agosto, alguns estados como Missouri poderão receber chuvas entre 0,25 mm a 31,75 mm. O percentual é o mesmo previsto para o estado de Illinois. Em Indiana, as precipitações poderão totalizar entre 0,25 mm a 12,70 mm. Já em Ohio, o índice deverá ficar entre 0,25 mm e 6,35 mm. No estado de Iowa, as chuvas poderão somar entre 12,70 mm a 50,80 mm, conforme indica o mapa abaixo.
Previsão de chuvas nos EUA entre os dias 28 de julho a 4 de agosto – Fonte: NOAA
Apesar dessa melhora no clima, o boletim semanal de acompanhamento de safras divulgado pelo USDA na tarde desta segunda-feira (27) manteve inalterado o percentual das lavouras de soja em boas ou excelentes condições em 62%. O percentual é o mesmo das duas semanas anteriores e ainda está abaixo da média dos últimos cinco anos de mais de 70%.
Mercado no Brasil
Com o dólar fechando em alta pela quinta sessão consecutiva, os preços da soja no Brasil também registraram um dia de alta. As cotações subiram tanto nos portos como no interior do País, e onde não subiram se mantiveram estáveis. Segundo Vlamir Brandalizze, o ritmo dos negócios, no entanto, está bem lento nesse início de semana, já que os atuais níveis de preços já não são mais tão atraentes para produtores, que se aproveitaram bem das recentes oportunidades do mercado para comercializar bem a safra nova e o remanescente da safra velha.
Em Paranaguá, a saca da soja disponível subiu 2,01% para R$ 76,00, e a futura, recuou ligeiramente – 0,80% – para R$ 74,30. Já em Rio Grande, alta de 1,59% para a saca da soja disponível e 1,18% para a futura, com os últimos preços a R$ 76,70 e R$ 77,10, respectivamente. Em Santos, alta de mais de 4% para R$ 77,50. No interior, o destaque ficou por conta de São Gabriel do Oeste/MS, onde a alta foi de 2,46%, com a saca cotada a R$ 62,50 e em Não-Me-Toque, com a saca em alta de 1,59%, cotada a R$ 64,00.
E o combustível principal para os ganhos da soja no Brasil tem sido o dólar. Nesta terça-feira, a moeda americana fechou em alta de 0,15%, cotada a R$ 3,3690 para venda. Porém, ao longo do dia, as altas foram muito superiores e a divisa bateu na máxima de R$ 3,4353, subindo 2% depois que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s sinalizou que o Brasil poderia perder seu grau de investimento. “Mas o avanço foi limitado porque investidores ponderaram que a deterioração da nota do país já estava parcialmente embutida nos preços”, noticiou a agência Reuters.
Milho: Em Chicago, mercado esboça reação após quedas expressivas e fecha em leve alta
Em uma sessão marcada pela volatilidade, os contratos futuros do milho negociados na CBOT fecharam esta terça-feira (28) em leve alta, próximos da estabilidade. Os principais vencimentos terminaram o pregão registrando altas de 2,00 a 2,25 centavos. O vencimento setembro/15 fechou cotado a US$ 3,75 o bushel. Já o maio/16 retomou o patamar dos US$ 4,00 por bushel, fechando cotado a US$ 4,02½ o bushel.
Durante o pregão, as cotações tentaram se manter em alta, após acumular quedas expressivas, especialmente nos dois últimos pregões. Somente na segunda-feira, os contratos futuros perderam entre 18,00 e 19,50 centavos em Chicago, pressionados por informações negativas do mercado financeiro e também pela previsão de clima mais seco no Meio-Oeste dos EUA para os próximos dias, depois das chuvas registradas ao longo dos meses de maio e junho.
Até o último domingo (26), 70% das lavouras do cereal estavam em boas ou excelentes condições, segundo relatório de acompanhamento de safras do USDA. O percentual está acima do da semana anterior, de 69%. Já no mesmo período do ano anterior, o percentual era de 75%. Ainda de acordo com o USDA, 21% das plantações estão em situação regular e 9% em condições ruins ou muito ruins.
Além disso, 77% das lavouras estão em fase de espigamento contra os 55% divulgados na semana anterior. 14% das plantações já estão em fase de enchimento de grãos contra a média dos últimos anos de 17%.
Porém, alguns analistas ainda ressaltam que os preços do cereal podem encontrar suporte nas informações sobre a produção de milho mundial. Em outras partes do mundo, as adversidades climáticas têm castigado as lavouras do cereal. Na Europa, as plantações sentem os impactos de uma seca severa e ondas de calor.
Segundo informações da divisão de meteorologia agrícola da Comissão Europeia de Monitoramento de Recursos Agrícolas (MARS), a cultura do milho é a mais afetada neste momento. Como consequência, a projeção para o rendimento das lavouras do cereal caiu para 6,71 toneladas/ha, bem abaixo da média dos últimos cinco anos. Na França, a produtividade foi reduzida em 0,76 toneladas por hectare, passando para 8,63 toneladas/ha, como reflexo das altas temperaturas que se aproximaram dos recordes de 1975 e da seca intensa.
Na Alemanha, o segundo maior produtor de milho na União Europeia, a produtividade do milho também foi revisada para abaixo da média dos últimos anos. Agora, a produtividade do cereal está estimada em 9,62 toneladas por hectare. “O El Niño tem causado estragos na Europa, Ásia, África e algumas localidades do Hemisfério Norte, a perspectiva é que uma parte desses impactos já seja divulgada no boletim de oferta e demanda do USDA de agosto. Teremos menos grãos e o consumo será mantido, consequentemente, deveremos ter uma queda nos estoques globais. Já no curto prazo, o mercado ainda segue pressionado pelo mercado financeiro”, disse Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting.
Mercado interno
A saca do milho negociada no Porto de Paranaguá, para entrega em setembro/15, encerrou o dia cotada a R$ 28,00. No terminal de Santos, o preço da saca permaneceu estável a R$ 31,00. Apesar da forte alta do dólar, o movimento pouco expressivo em Chicago acabou não dando sustentação aos preços do cereal.
No mercado interno a situação é um pouco mais tranquila, uma vez que boa parte da safrinha de milho já foi negociada antecipadamente. Inclusive, Brandalizze ressalta que, o mercado de milho tem fluído sozinho e que já há negócios sendo fechados para a safrinha de 2016. “Pela primeira vez, temos o mercado de milho fluindo e, até o momento, cerca de 10% da próxima safrinha já foi negociada, o que seria equivalente a cerca de 5 a 8 milhões de toneladas do cereal”, disse.
Fonte: Notícias Agrícolas com SNA