O recuo da carga de energia elétrica no Brasil, de modo geral, traz boa perspectiva de melhora nos preços para os próximos anos, principalmente para compra no chamado mercado livre de energia. É o que aponta Antônio Carlos Bento, presidente da IBS-Energy, empresa de soluções e consultoria em gestão neste setor. E o agricultor brasileiro também pode aproveitar este cenário para reduzir seus custos no campo.
Segundo o executivo, o recuo da carga está diretamente ligado ao aumento dos preços e ao momento econômico do País, que fazem com que o mercado livre apresente valores competitivos, para quem busca comprar energia para os próximos cinco anos. E as expectativas são de obtenção de bons resultados sobre o mercado cativo (tradicional).
No setor agropecuário, assim como em qualquer tipo de empresa, Bento sugere que o produtor rural faça um planejamento. Ensina ainda que o primeiro passo é fazer a gestão do consumo de energia, verificando a média nas épocas do ano, conforme cada atividade realizada.
“Com relatórios mensais, é possível obter dados mais consistentes para iniciar um processo que visa à redução de custo com energia. Também é importante fazer manutenção de máquinas e equipamentos usados no campo, para evitar excesso de consumo. Este trabalho envolve várias questões, para que seja possível encontrar a melhor solução”, ressalta.
Bento pondera que a adesão a outras fontes de distribuição de energia também depende da localização da propriedade. “É necessário verificar a forma mais adequada (para compra de energia) – seja pelo mercado livre, pela construção de uma subestação ou pela instalação de grupos de geradores.”
Por isto, reforça que existem várias soluções e cada caso precisa ser estudado para ver o que é mais viável. “Tudo é avaliado por uma empresa de consultoria especializada em gestão de energia, sempre levando em consideração os custos e as garantias de abastecimento contínuo.”
Independentemente da região onde a propriedade rural está localizada, é possível que o agropecuarista compre energia no mercado livre, diz o presidente da IBS-Energy. E continua: “O produtor rural, assim como qualquer outro empresário, pode escolher de quem compra energia”.
“Ele continuará pagando a distribuição (de energia), que é fixada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), baseada no transporte, mas conseguirá escolher de quem comprar e negociar o restante da tarifa (é a commodity “energia elétrica”). No mercado cativo (convencional), este tipo de negociação não é possível, porque os consumidores, necessariamente, compram a energia de uma distribuidora regulamentada.”
A COMPRA
Atualmente, no Brasil, existem duas maneiras de comprar energia elétrica: em ambiente regulado (convencional ou cativo) ou contratação livre. No primeiro caso, informa Bento, os consumidores adquirem energia das concessionárias de distribuição, com tarifas reguladas pelo governo. Já contratando livremente, ou seja, diretamente das geradoras ou comercializadoras, podem negociar preços, volume e prazos.
“É bom reforçar que o mercado livre de energia elétrica ou Ambiente de Contratação Livre (ACL) foi criado em 1995, pelo governo federal, com o objetivo de gerar competitividade à indústria nacional. Por isto, participar do mercado livre pode apresentar diversas vantagens.”
A gestão programada de energia elétrica, garante Bento, proporciona uma economia para a operação das empresas, incluindo as do agronegócio. Criado há 20 anos a partir da Lei nº 9.074/95, o mercado livre ainda é pouco conhecido, mesmo apresentando ampla vantagem, admite o executivo.
Ele conta que, no momento, a Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia) tem dado alguns passos importantes em direção à regulamentação da portabilidade da conta de luz, com o objetivo de garantir que todos os consumidores deste setor possam escolher de quem irá comprá-la.
“A possibilidade de escolha do fornecedor melhora as condições do serviço e reduz seu custo, contribuindo para reverter, pelo menos em parte, a posição nada honrosa de nosso País, que está entre os recordistas mundiais em termos de tarifas e preços de energia elétrica mais cara.”
Bento informa também que já existe uma discussão sobre a adesão de consumidores menores ao mercado livre de energia, por meio da figura do comercializador varejista. “Mas não houve ainda nenhuma definição concreta sobre este tópico no mercado.”
VANTAGENS
O executivo avalia que, a exemplo de outros setores da economia brasileira, o agropecuário também vem sofrendo com o aumento das tarifas de energia, que impacta no custo final de suas operações.
“Adotando o mercado livre de energia, é possível negociar o que vai consumir, a custo mais baixo do que é oferecido pelas concessionárias no mercado cativo. O agropecuarista pode comprar, antecipadamente, o que vai consumir, por um período mínimo de um a cinco anos. Pode comprar de quem oferece mais em conta e, se não utilizar todo o montante, poderá liquidar o excedente de energia pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Já existe todo um procedimento para isto.”
Entre os benefícios de participar do mercado livre de energia elétrica no Brasil, Bento destaca, além da possibilidade de escolha do fornecedor, “a previsibilidade no dispêndio com energia elétrica; preços mais competitivos; comutação de cargas entre unidades consumidoras; não incidência do sistema de bandeiras tarifárias; entre outras”. “As operações no mercado livre contemplam os resultados do mês anterior, uma vez que o consumidor consome antes e paga depois”, informa.
Bento garante que comprar energia elétrica no mercado livre, por um valor negociável, é seguro e confiável. “Com a negociação, é possível reduzir os gastos com insumos, fator relevante para garantir a competitividade do agronegócio, especialmente em épocas de turbulências na economia.”
Ele cita que, nos Estados Unidos, 65% dos consumidores usam o mercado livre e, em muitos países da União Europeia (UE), “ele representa impressionantes 100% do mercado energético”.
“Em alguns países da Europa, todos os consumidores são livres, o que pode ser analisado como exemplo para adotar medidas semelhantes para a economia do Brasil, pois existe uma relação íntima entre economia e mercado.”
Por equipe SNA/RJ