Leite: produção cai no país, mas líderes do setor elevam oferta

Depois de um cenário adverso em 2015, as 100 maiores fazendas de leite do Brasil voltaram a acelerar o ritmo de crescimento no ano passado. A produção média do grupo ficou em 16.179 litros por dia em 2016 – aumento de 4,5% em relação à média das 100 maiores de 2015 (15.486 litros), segundo o levantamento Top 100 MilkPoint. Marcelo Pereira de Carvalho, coordenador da pesquisa da consultoria, afirma ser “difícil dizer se (o movimento) é uma retomada”. Mas acrescenta que é importante destacar que a produção dessas propriedades “vem crescendo continuamente; são projetos com constância”.

Além disso, o desempenho é muito diferente do verificado na produção brasileira nos últimos anos. Em 2016, por exemplo, houve queda de 3,7% na produção de leite inspecionada no país, que somou 23.17 bilhões de litros. No ano anterior, a produção nacional já havia recuado. Em sua 16ª edição, a pesquisa da MilkPoint obteve informações dos 100 maiores produtores de leite do Brasil sobre o desempenho de 2016, comparando-as com as do ano anterior.

Mais uma vez, a maior propriedade produtora de leite do Brasil em 2016, entre a 100 maiores, foi a Fazenda Colorado, dona da marca de leite Xandô. A fazenda, que no ano anterior tinha reduzido em 3,4% sua produção diária, elevou o volume em 4,2% em 2016, para 63.133 litros por dia.

 

 

Entre as dez maiores produtoras de leite, houve mudanças no ranking em relação ao levantamento anterior. Os destaques de crescimento entre os dez maiores foram a Sekita Agronegócios, que ampliou a produção diária em 32% em relação a 2015, e manteve o quarto posto no ranking. Outro destaque foi o Grupo Melkstad, de Carambeí/PR, que elevou a produção diária em 63,1% e saiu da 24ª posição para o nono lugar.

Também houve mudanças no ranking geral em relação ao ano anterior: 13 produtores deixaram de participar, três ficaram abaixo dos 100 maiores, três saíram da atividade e 13 entraram na listagem.

Os preços mais favoráveis que os recebidos por outros produtores de leite de menor porte no país explicam, em parte, o incremento dos volumes dos 100 maiores, de acordo com Carvalho. Esse é um cenário que estimula o investimento em tecnologia, o que resulta em maior produção. “O mercado precisa de volumes e quem tem escala obtém preços mais altos”, disse.

E no ano passado, quando houve queda na oferta de leite como um todo no país, as grandes fazendas de leite foram beneficiadas. “Na falta de leite, quem tem volume passa a valer mais no mercado”, disse o analista. O maior valor recebido por litro de leite permite a esses grandes produtores margens maiores por comparação, embora também tenham sido afetados pela elevação dos custos de produção no ano passado, em decorrência da alta dos grãos. “A margem boa é um estímulo para o aumento da produção”, disse.

O levantamento mostrou que o custo operacional médio entre os 100 maiores do país cresceu no último ano, para R$ 1,06 por litro, acima dos R$ 1,01 de 2015 (dados já deflacionados pelo IPCA). Segundo o estudo, o valor é o maior dos últimos oito anos.

Apesar dos custos maiores, a pesquisa mostrou produtores mais satisfeitos com a rentabilidade no negócio em 2016. Entre os 100 maiores, 54% consideraram a rentabilidade da atividade melhor em 2016 do que a média de outros anos; 36% disseram que ficou na média e só 10% a consideraram pior que a média.

Marcelo Pereira de Carvalho destaca que uma característica dos maiores é o foco na continuidade do crescimento. Essa tendência ganha força diante do fato de que esses produtores obtêm preços mais atrativos do que a média do mercado. Assim, quando questionados se pretendem ampliar a produção nos próximos três anos, só uma fatia de 10% dos 100 maiores diz que não têm a intenção de fazê-lo. Outros 38% pretendem ampliar em até 20% a produção; 35% de 20% a 50% e 17% afirmam ter a intenção de elevar em mais de 50%.

Entre os maiores desafios da atividade apontados pelo levantamento, o custo de produção é o item mais citado pelos pecuaristas (24,8%). Em segundo lugar, 17,4% dos produtores apontam como desafio a mão de obra, e em terceiro, o preço do leite, que recebeu 10,1% das citações.

Conforme a pesquisa, a produção média de leite por vaca em lactação no ano passado nas 100 maiores subiu para 24,9 litros por dia (considerando a média nacional). No ano anterior havia sido de 22, 9 litros. Para se ter uma ideia, a produção média estimada pela MilkPoint para o Brasil, levando-se em conta dado de 2015 do IBGE, é de cerca de 7,6 litros por vaca por dia.

Em 76 das 100 maiores fazendas, a raça holandesa é a mais utilizada em 2016. A raça Girolando está em 29 propriedades e 26 fazendas utilizam mais de uma raça, segundo o levantamento. Além disso, 53% das propriedades trabalhavam com confinamento total, enquanto 15% têm sistemas baseados em pastagens e cerca de 33%, sistemas mistos.

 

Fonte: Valor Econômico

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