Jônatas Pulquério, gestor de risco (MAPA)

Jônatas Pulquério, diretor do Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)

 

Nomeado em março pelo governo federal para exercer o cargo de diretor do Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Jônatas Pulquério é servidor público do estado de Mato Grosso e graduado em administração de empresas pelo Centro Universitário de Várzea Grande. Além disso, ele é especialista em gestão pública e processos licitatórios e formado em Direito pela Universidade de Cuiabá.

No novo cargo, comanda três pilares essenciais para o agronegócio: o gerenciamento de risco, que envolve a elaboração de estudos e propostas relacionados a administração de risco do setor agropecuário e ao desenvolvimento do seguro rural no país; as negociações para o setor, que consistem em formular propostas e participar de negociações de acordos, tratados ou convênios internacionais referentes à gestão de risco rural; e o Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático – ZARC.

 

Sobre esse e outros assuntos, ele conversou com a SNA. Confira a entrevista a seguir.

 

SNA – O ZARC remonta aos anos 90, mas desde então expandiu sua presença para dezenas de culturas e todas as unidades da federação, com regulação específica em decreto de 2019. Que avaliação faz do estágio atual do Programa, entre os benefícios já são tangíveis e o que pode melhorar?

O ZARC, estabelecido nos anos 90, expandiu-se amplamente no Brasil, cobrindo todas as unidades federativas e diversas culturas, oferecendo uma série de benefícios tangíveis. Primeiramente, ele proporciona informações valiosas para os agricultores, incluindo orientações sobre o momento adequado para o plantio e as melhores cultivares a serem utilizadas, o que contribui significativamente para a redução de riscos climáticos na agricultura.

Outro benefício é seu papel no suporte ao crédito rural. As recomendações do ZARC são utilizadas como referência para operações de custeio, facilitando o acesso dos agricultores a financiamentos, movendo o desenvolvimento do setor agrícola e garantindo a segurança alimentar. No entanto, há áreas de melhoria que podem ser exploradas. Uma delas é o foco em tecnologias sustentáveis. O programa pode promover ainda mais práticas agrícolas ecologicamente corretas, incentivando o uso de variedades de culturas resistentes a doenças e pragas, bem como práticas de conservação do solo e da água.

Tecnologias sustentáveis 

Outro aspecto de aprimoramento é a precisão das recomendações climáticas. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem aperfeiçoar a coleta de dados climáticos atualizados e a utilização de modelos de previsão mais avançados, tornando as informações mais confiáveis para os agricultores. Além disso, o ZARC pode ampliar sua cobertura para incluir uma maior diversidade de culturas, promovendo a rotação de culturas e a diversificação agrícola, o que contribuiria para a sustentabilidade do setor. Por último, é crucial garantir que as informações do ZARC sejam facilmente acessíveis a todos os agricultores, independentemente de sua localização geográfica. Isso envolve melhorias na divulgação das recomendações, tornando-as mais acessíveis por meio de plataformas digitais e outras iniciativas de comunicação.  No entanto, há espaço para melhorias, incluindo o foco em tecnologias sustentáveis, aprimoramento da precisão das recomendações, diversificação de culturas e garantia de fácil acesso às informações.

SNA – Sendo uma colaboração entre entes públicos, pesquisadores e produtores, como o ZARC poderia incluir ainda novas camadas da sociedade de modo a replicar o êxito em outras áreas, num momento em que as intempéries climáticas se avolumam e ocupam o centro das atenções, trazendo prejuízo e perda de vidas?

O ZARC desempenha um papel essencial na mitigação dos riscos climáticos na agricultura. Com o aumento das intempéries climáticas e seus impactos, é crucial expandir sua influência. Uma abordagem eficaz é envolver novos setores da sociedade, como organizações da sociedade civil, ambientalistas e especialistas em mudanças climáticas, para contribuir com perspectivas adicionais e soluções sustentáveis. Além disso, o ZARC pode colaborar com instituições acadêmicas para educar e capacitar agricultores em melhores práticas agrícolas adaptadas às mudanças climáticas. Incentivar a participação de empresas e investidores interessados em apoiar a agricultura sustentável e a adaptação climática também é fundamental.

Finalmente, é importante lembrar que o ZARC está ligado ao crédito agrícola, Proagro e Seguro Rural, envolvendo instituições financeiras, reguladoras e seguradoras na promoção de práticas agrícolas resilientes. Expandir o alcance do ZARC para envolver novos setores da sociedade é essencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e replicar seu sucesso em outras áreas, promovendo uma agricultura mais sustentável.

SNA – Entre suas atribuições, está a negociação de acordos que respeitem metas estipuladas por tratados e acordos internacionais. Como manter o equilíbrio entre demandas globais de sustentabilidade sem afetar a pujança da produção nacional, que passa por nuances únicas de nossos biomas e infraestrutura?

 O desafio de equilibrar as demandas globais de sustentabilidade com as particularidades da produção nacional brasileira, influenciada por seus diversos biomas e infraestrutura, é complexo. Para abordar essa questão, é necessário adotar um tratamento multifacetado. Começando com uma base de conhecimento científico sólido, que considere as características únicas dos biomas brasileiros, é possível definir metas realistas e políticas baseadas em evidências. O estímulo à tecnologia e inovação pode promover práticas agrícolas sustentáveis e eficientes. Regulamentações ambientais rigorosas e fiscalização eficaz são essenciais para garantir que as atividades econômicas estejam em conformidade com padrões ambientais. Além disso, a promoção de mercados sustentáveis, através de certificações e incentivos fiscais, pode impulsionar a adoção de práticas responsáveis.

Metas Globais

O diálogo transversal, envolvendo governo, indústria, sociedade civil e cientistas, permite a consideração de diversas perspectivas, facilitando um equilíbrio entre as necessidades nacionais e globais. Investimentos em infraestrutura, como logística e estradas, melhoram a eficiência da produção e facilitam a exportação de produtos sustentáveis. Reconhecendo a importância da agricultura familiar e promovendo políticas que a fortaleçam, é possível preservar práticas agrícolas sustentáveis e contribuir para a preservação dos biomas e participar ativamente das discussões internacionais sobre sustentabilidade permite ao Brasil influenciar a definição de metas globais, levando em consideração suas características únicas. Manter o equilíbrio entre as demandas globais de sustentabilidade e a produção nacional requer uma abordagem holística que envolve conhecimento científico, inovação, regulamentação eficaz, diálogo multissetorial, investimento em infraestrutura e apoio à agricultura familiar. Essa abordagem é crucial para promover o desenvolvimento econômico sustentável e a preservação dos recursos naturais e biomas do Brasil.

SNA – O seguro rural tornou-se um elemento fundamental no gerenciamento de risco do agronegócio. O montante destinado pelo Plano Safra mais recente recebeu fortes críticas. Levando em conta que algumas instituições já condicionam concessão de crédito ou contratação de apólices à observância dos critérios estipulados pelo ZARC, como avalia o desfio de adequar orçamentos e subvenções?

 O seguro rural desempenha um papel crucial no gerenciamento de risco do agronegócio, protegendo os produtores contra perdas decorrentes de eventos climáticos adversos. No entanto, o montante destinado ao seguro rural no Plano Safra mais recente tem recebido críticas, levantando questões sobre como adequar orçamentos e subvenções diante dessa realidade. Primeiramente, é importante destacar que a alocação de recursos para o seguro rural está sujeita a restrições orçamentárias e políticas do governo. A definição do orçamento pode ser desafiadora, especialmente em um cenário de limitações financeiras. Além disso, a condicionante de que a concessão de crédito ou a contratação de apólices de seguro rural esteja ligada aos critérios estipulados pelo ZARC é uma abordagem sensata, pois visa promover práticas agrícolas mais responsáveis e sustentáveis.

Desafios e alternativas

No entanto, isso também pode criar desafios quando o orçamento alocado não é suficiente para atender à demanda. Uma maneira de enfrentar esse desafio é buscar formas alternativas de financiamento para o seguro rural, como parcerias público-privadas e investimentos do setor privado. Isso pode ajudar a aumentar a disponibilidade de recursos para o setor e reduzir a dependência do orçamento governamental. Além disso, é importante promover a conscientização entre os agricultores sobre a importância do seguro rural e os benefícios que ele oferece em termos de gestão de riscos. Isso pode incentivar mais produtores a aderirem ao programa, mesmo com limitações orçamentárias. Por fim, é fundamental que haja uma gestão eficiente dos recursos disponíveis, priorizando regiões e culturas mais vulneráveis aos riscos climáticos. Isso pode ajudar a maximizar o impacto do seguro rural, mesmo com orçamentos limitados. Dessa forma, adequar orçamentos e subvenções para o seguro rural é um desafio complexo, mas necessário para garantir a sustentabilidade do agronegócio.

SNA – O senhor possui destacada trajetória como servidor público de Mato Grosso, estado que é uma potência agropecuária. Que lições trouxe de lá para sua nova função e como elas têm lhe ajudado nessa fase de sua carreira?

 Me trouxe valiosas lições que agora aplico em minha nova função. Mato Grosso é conhecido por sua produção agrícola e pecuária expressivas, e lidar com os desafios e oportunidades desse contexto me proporcionou insights valiosos. Uma das principais lições foi a importância da colaboração entre diferentes partes interessadas, como entes públicos, pesquisadores e produtores. A parceria entre esses grupos é essencial para o sucesso de políticas públicas voltadas para o agronegócio, como o ZARC. No contexto de Mato Grosso, aprendi como promover essa colaboração de forma eficaz, garantindo que as políticas atendam às necessidades reais dos agricultores. Além disso, a experiência em Mato Grosso me ensinou a importância de considerar as nuances únicas de nossa geografia e infraestrutura. O Brasil é um país vasto, com diferentes biomas e realidades regionais, e é fundamental adaptar as políticas para atender a essas diversidades. Outra lição valiosa é a necessidade de equilibrar as demandas globais de sustentabilidade com as características locais. Isso envolve a promoção de práticas agrícolas responsáveis que respeitem os biomas brasileiros, ao mesmo tempo em que atendem às metas globais de conservação. Minha experiência em Mato Grosso me ensinou a importância da colaboração, adaptação às realidades regionais e busca pelo equilíbrio entre demandas globais e locais. Essas lições têm sido cruciais em minha nova função, contribuindo para a busca de soluções eficazes e sustentáveis no cenário nacional.

 

Por Marcelo Sá, jornalista/editor
Equipe SNA

 

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