Sem gritos nem dogmas, ex-ministra construiu pontes entre o agro e a floresta, com método, memória e coragem

Existem no ambientalismo 2 tipos de protagonistas: os que ressaltam problemas e os que procuram soluções. Izabella Teixeira pertence ao 2º grupo.
Ministra do Meio Ambiente do Brasil por 6 anos, de 2010 a 2016, Izabella é bióloga por formação, com especialização em gestão ambiental pela FGV/Brasília e doutorado em planejamento estratégico pela UFRJ. Seu elevado preparo técnico a diferencia na mediocridade nacional.
Nunca teve filiação partidária. Izabella é daquelas pessoas que lideram pelo que entregam, no trabalho da defesa ambiental. Sua vitoriosa carreira, iniciada, por concurso, no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a levou ao assento do Conselho Consultivo de Alto Nível da ONU. Em 2013, ganhou o prêmio “Champions of the Earth”, concedido pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Quando Lula, em 2008, nomeou o deputado estadual Carlos Minc para suceder Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, ficamos preocupados. Havia, naquela época, grande polarização no debate sobre as mudanças no Código Florestal e o novo ministro, embora boa praça, pouco entendia do assunto.
Todos nos acalmamos ao saber que a Secretaria Executiva do ministério seria ocupada pela dra. Izabella. O ecologista Minc poderia falar suas maluquices costumeiras, que ressaltavam a problemática, porque sabíamos que, em sua retaguarda, havia alguém trabalhando na solucionática.
Em 2010, com a desincompatibilização eleitoral de Carlos Minc, a dra. Izabella assumiu o ministério, sendo mantida no cargo por Dilma Rousseff. Sob seu comando, aprovamos, em 2012, o novo Código Florestal, a mais rigorosa e abrangente lei, em termos mundiais, sobre a ocupação territorial do agro e a proteção da biodiversidade.
Outros 2 personagens foram fundamentais nesse avanço legislativo: a então ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e o relator da matéria no Congresso, deputado federal Aldo Rebelo. Depois de 15 anos de encrencas, a nova legislação seria aprovada no Senado pela elevada margem de 59 votos a 7. Marina Silva estava no grupo que votou contra.
Viramos a página. Aldo Rebelo estimava em seu relatório apresentado ao Congresso que 90% dos produtores rurais estavam funcionando na “ilegalidade”. Por quê?
Porque o processo histórico de ocupação da agropecuária nacional havia levado ao avanço sobre áreas que, frente à moderna compreensão da realidade, deveriam estar preservadas….
Os catastrofistas, com apoio do Ministério Público Federal, queriam que os produtores rurais retrocedessem em suas áreas cultivadas, zerando o “passivo ambiental” de nosso desenvolvimento. A ideia era totalmente inviável….
Izabella Teixeira centralizou uma proposta conciliadora para promover a consolidação dos territórios produtivos ocupados e estabelecer doravante uma condição: quem fizesse coisa errada, passaria a ser considerado um criminoso ambiental.
Essa foi a essência do acordo que permitiu avançar a legislação ambiental no país: nem condenar nossos antepassados por terem sido “antiecológicos”, nem tampouco permitir a repetição futura da prática predatória de agricultura.
Denominei essa solução, na época, uma saída “agroambiental”: nem ruralista nem ambientalista, mas a síntese das duas perspectivas. Hoje, sob sua guarda, nos movemos no agro tecnológico….
A visão pragmática sobre os problemas ambientais, que caracteriza a dra. Izabella, foi igualmente decisiva para definir a posição brasileira no acordo do Clima de Paris, realizado na COP21, em 2015. Com o respaldo da Embrapa, o Brasil apresentou uma NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada, na sigla em inglês) inovadora, mostrando ao mundo que nós, da agricultura tropical, poderíamos ajudar na mitigação do aquecimento global por meio do sequestro de carbono da atmosfera….
Agora, estamos nos preparando para a COP30, a ser realizada em Belém, no Pará, no final deste ano. Dez anos depois da reunião de Paris, o agro moderno quer aproveitar a oportunidade para mostrar que, a despeito de certas imperfeições, caminha para colher a safra mais sustentável do planeta.
“Nós precisamos parar de movimentar o passado e pensar no futuro, no pós-COP30, porque somos um país provedor de soluções sustentáveis para o mundo”. Quem mostrou essa virtude do Brasil foi exatamente a dra. Izabella, em recente reunião realizada no Cosag (Conselho Superior de Agronegócios) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Acostumados a levar chicotadas de autoridades ambientais, os participantes do Cosag se impressionaram vendo a ex-ministra tratar o agro com o respeito de quem sabe que precisa aproximar e conciliar, e não afastar e condenar quem produz o alimento, as matérias-primas e a bioenergia do futuro….
Izabella Teixeira deu um show de competência. Como é bom escutar a voz da sensatez….
Xico Graziano é engenheiro agrônomo e doutor em administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV. Escreve para o Poder360 semanalmente.
Artigo publicado anteriormente no Poder360 e gentilmente cedido pelo autor à SNA