Importação de lácteos sobe 37% e já preocupa indústria

As importações brasileiras de lácteos cresceram 37% em volume nos primeiros cinco meses do ano na comparação com 2014 e esse cenário já afeta o dia a dia das empresas que atuam no segmento de leite em pó no Brasil. Isso porque o produto é o item mais representativo nas importações nacionais.

Conforme dados da Secex, compilados pela consultoria MilkPoint, de janeiro a maio, o Brasil importou 53.307 toneladas de lácteos, 37,1% acima das 38.873 toneladas de igual período em 2014. Uma fatia de 67,9% desse total se refere às importações de leite em pó, especialmente do produto utilizado como matéria-prima pela indústria de alimentos. As importações de lácteos custaram US$ 177.208 milhões, 4,7% mais do que no mesmo período de 2014.

Quando os volumes são transformados em equivalente-leite, o avanço das importações entre janeiro e maio deste ano é mais expressivo: de 73,4% na mesma comparação, para 425.378 milhões de litros, segundo os cálculos da MilkPoint.

Apesar da alta do dólar, que normalmente desestimularia as importações, as compras de lácteos no exterior avançam em decorrência da queda dos preços no mercado internacional. No último leilão quinzenal de lácteos realizado em 16 de junho pela plataforma Global Dairy Trade (GDT), referência no mercado internacional, o leite em pó integral ficou em US$ 2.327 por tonelada. O valor é o menor desde janeiro deste ano e bem inferior ao recorde de US$ 5.245 por tonelada, alcançado em abril de 2013, quando a demanda chinesa puxava os preços.

O resultado agora é que, mesmo com o dólar mais caro, o leite em pó importado chega ao Brasil com preços mais baixos do que o produto local. Enquanto o leite em pó destinado à indústria é negociado entre R$ 9,80 e R$ 9,90 o quilo no mercado doméstico, o importado chega pelo equivalente a R$ 9,20 (preços de maio), conforme levantamento da MilkPoint. “Está pressionando o mercado local”, afirma Galan.

Outro efeito do aumento das importações é que algumas empresas que atuam no segmento de leite em pó estão tendo de buscar alternativas para driblar a concorrência com o produto importado. “As empresas começam a direcionar leite para fabricar outros produtos”, acrescenta.

Um exemplo é a catarinense Coopercentral Aurora, que vende leite em pó fracionado para o varejo e também para o mercado institucional, isto é, indústrias de alimentos que utilizam o produto como matéria-prima.

De acordo com Leomar Somensi, diretor comercial da Aurora, o momento é mais favorável para o leite longa vida e para o queijo muçarela em termos de preços. Com isso, a empresa está reduzindo a secagem de leite para fabricar o produto em pó. Conforme levantamento da MilkPoint, o leite longa vida terminou a semana de 15 a 19 de junho em R$ 2,21 o litro, em média, no atacado, ante R$ 2,19 na semana anterior. A muçarela subiu para R$ 14,20 ante R$ 13,90 o quilo no período anterior.

Somensi afirma que esse desequilíbrio no mercado por conta da oferta de leite em pó importado acaba “segurando” os preços da matéria-prima. Normalmente, as cotações pagas ao produtor de leite estariam em alta, mas o mercado tem ficado estável, entre R$ 1,00 e R$ 1,10 o litro em Santa Catarina.

A mineira Itambé, joint venture entre a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) e a Vigor, também está produzindo mais leite longa vida neste momento de maior concorrência para o leite em pó. “Fizemos algum direcionamento do leite em pó para o longa vida, aproveitando o preço favorável [do UHT]“, afirma Ricardo Cotta, diretor de relações institucionais da Itambé.

Ele observa, contudo, que a Itambé não tem sofrido tanto com a concorrência do leite em pó importado porque atua com força no segmento de produto destinado ao varejo, com marca, “o que garante estabilidade de preços”. Além disso, o peso do leite em pó para o mercado institucional (indústria de alimentos) na receita da Itambé é pequeno, segundo Cota. “Em nossa estratégia de agregação de valor, temos um posicionamento forte de marca do leite em pó no mercado do Nordeste”, acrescenta. A região é um dos principais mercados para a categoria no Brasil.

 

Fonte: Valor Econômico

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