A abertura da nova cota temporária para a importação de etanol de fora do Mercosul sem a tarifa de 20% não deve resultar, no curto prazo, em volumes significativos chegando à costa brasileira. Segundo analistas, mesmo sem a tarifa a importação, atualmente o produto perde competitividade por causa do dólar elevado e pelos preços praticados nos EUA, que estão se recuperando do baque provocado pela pandemia.
Hoje, o etanol anidro, o tipo importado pelo Brasil dos EUA, para adição na gasolina, pode chegar daquele país ao Nordeste, principal porta de entrada do biocombustível de fora, por R$ 2.490,00 o metro cúbico (com imposto, mas sem custos de internalização), segundo indicador da consultoria Argus.
Considerados esses custos, o valor supera os preços do etanol anidro produzido nas usinas e colocado nos terminais do porto de Suape, em Pernambuco, que na primeira quinzena de setembro oscilaram entre R$ 2.515,00 e R$ 2.546,00 o metro cúbico. Nas usinas do estado, o preço (sem impostos nem frete) é menor: R$ 2,1678 o litro, de acordo com indicador Cepea/Esalq da semana passada.
Para a segunda metade de setembro, a Datagro estima que o preço interno de etanol estará US$ 85,00 o metro cúbico mais barato do que um produto importado sem tarifa. Nos próximos meses, essa diferença pode até encolher, mas a relação não vai se inverter, disse Plinio Nastari, presidente da consultoria. “Essa extensão da cota provavelmente deve ter pouco impacto para viabilizar algum volume adicional de importação”.
A nova cota deverá expirar na primeira quinzena de dezembro, 90 dias após a publicação da decisão, o que não aconteceu até ontem. Mas, mesmo que o benefício seja estendido por mais tempo, não deverá haver “janela” para a importação de etanol sem tarifa ao menos até fevereiro. Para janeiro e fevereiro, o produto importado dentro da cota deverá chegar US$ 50,00 mais caro que o etanol nacional, segundo a Datagro.
O dólar elevado e a recente recuperação do etanol na bolsa de Chicago estão apreciando o produto importado, segundo Nastari. Mesmo com a entrada, agora, da safra americana de milho (matéria-prima para o etanol nos EUA), os preços do grão estão encontrando suporte após o corte de 10 milhões de toneladas na estimativa de produção do USDA, o que dificulta uma queda do etanol.
Ontem, os contratos do etanol para outubro fecharam em US$ 1,306 o barril, enquanto, em abril, os futuros caíram abaixo de US$ 1,00 o barril.
O câmbio também não dá sinais de arrefecimento. Para Nastari, o dólar teria de cair a R$ 4,60 para que o etanol importado dentro da cota fosse competitivo no Brasil, algo, neste momento, fora do horizonte de qualquer economista. No último boletim Focus, a previsão é que o dólar ficará em R$ 5,25 no fim deste ano. Ontem, a moeda fechou cotada a R$ 5,2759.
A falta de uma “janela” favorável às importações pelos próximos meses não significa que o Brasil não vá importar nenhuma carga. O Nordeste, que consome mais etanol do que produz, deverá importar 900 milhões de litros na safra que começou este mês, a 2020/21.
“Mas essa importação vai acontecer para abastecer o mercado do Nordeste. Como a produção da região vai até o fim de fevereiro e começo de março, é muito provável que de abril a agosto haja importação”, disse Nastari.
Para esta safra, a Datagro estima que o consumo total de etanol (anidro e hidratado) no Nordeste será 4.5 bilhões de litros (2.7 bilhões de anidro), contra uma produção de 2.06 bilhões de litros. Assim, além da importação, o Nordeste também deverá receber 1.6 bilhão de litros do centro-sul, projeta a consultoria.
Mesmo assim, as usinas do Nordeste temem que a importação pressione o mercado. Nas últimas safras, o valor do anidro não ofereceu lucro às unidades da região e só passou a gerar margem positiva na safra passada, cobrindo custos, depreciação e remunerando o custo de capital fixo, segundo a consultoria Pecege.
Valor Econômico