As importações de amêndoas de cacau pelo Brasil deverão atingir neste ano cerca de 80.000 toneladas, contra 11.000 toneladas no ano passado, aumentando os custos do setor após uma expressiva quebra de safra pela seca na Bahia, afirmou o diretor-executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Eduardo Bastos.
“É muita coisa essa importação, para nós é ruim porque é sempre melhor se abastecer com safra interna, (para importar) tem que fazer compras seis meses antes…”, disse Bastos em entrevista à Reuters, ressaltando que o Brasil já importou quase 50.000 toneladas até o momento no ano.
A safra do país foi estimada pela AIPC em 150.000 toneladas na temporada 2016/17, queda de quase 30% em relação a temporada anterior, com perdas expressivas no principal Estado produtor do Brasil, um dos maiores consumidores globais de chocolate em volumes.
A estiagem foi tão severa na Bahia que provocou a morte de lavouras, o que terá impacto na produção dos próximos anos e consequentemente manterá as importações mais altas do que as cerca de 10.000 toneladas registradas nos últimos anos.
“O volume a ser importado (nos próximos anos) dependerá muito das próximas safras, mas esperamos redução pelo menos para a metade (do importado neste ano)”, disse Bastos, da AIPC, que tem entre as associadas grandes companhias multinacionais como Olam, Cargill e Barry Callebaut.
Isso significaria importações de aproximadamente 40.000 toneladas ao ano até que a cultura possa se recuperar da severa estiagem.
Costa do Marfim
Diante desse cenário, a associação está pressionando o governo federal para reverter uma proibição fitossanitária à importação do produto da Costa do Marfim, o principal produtor e exportador global, que poderia dar mais uma opção e aliviar custos para a indústria, que hoje só traz cacau de Gana.
“Como o pessoal sabe que o Brasil está importando só de Gana, o preço está muito alto”, afirmou, sem dar detalhes.
O preço no mercado interno também está alto, com a quebra de safra. O prêmio do cacau de Ilhéus (BA) em relação à cotação na bolsa de Nova York atingiu média de US$ 268,00 a tonelada em julho contra um deságio de US$ 623,00 a tonelada no mesmo mês do ano anterior, segundo a consultoria INTL FCStone.
Bastos acredita que até o final do ano a indústria conseguirá autorizações para importar da Costa do Marfim.
As importações terão um papel importante para o mercado brasileiro, segundo o dirigente da associação, ainda que com a crise econômica o consumo tenha caído em 8% no ano passado, para 220.000 toneladas, com projeção de estabilidade em 2016.
Até porque a indústria nacional deverá exportar 69.000 toneladas (no equivalente em amêndoas) em derivados, como a manteiga de cacau e o cacau em pó. Estas exportações ocorrem em regime de “drawback”, com benefícios tributários.
Para os próximos anos, o Brasil espera reduzir fortemente suas importações, uma vez que há um plano para o País voltar a produzir pelo menos 300.000 toneladas em cinco anos e assim se tornar autossuficiente.
Fonte: Reuters