Grande produtor vê avanço e pequeno critica

Pesquisa realizada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) com quase 600 produtores neste fim de ano mostra que o nível de satisfação do segmento com a gestão de Jair Bolsonaro está na estratosfera.

Quase 90% dos entrevistados consideraram o desempenho do governo ótimo, e ninguém o avaliou como ruim ou péssimo. “Só pelo que foi desmanchado de coisas ruins, como conselhos e instruções normativas, já foi um ano excelente”, disse Antônio Galvan, presidente da entidade e vice-presidente da Aprosoja Brasil.

Em boa medida, essa avaliação positiva está ligada à figura de Tereza Cristina. A ministra da Agricultura é considerada uma liderança com autoridade e diálogo fácil dentro do governo. E responde à altura.

Além das funções à frente da Pasta, atuou como articuladora do governo no Congresso, apagou incêndios em debates ambientais e tentou estreitar laços com países importadores de produtos do agronegócio brasileiro. De quebra, participou como deputada, quando convocada, de votações no Congresso como a da reforma da Previdência.

“A indicação da ministra Tereza Cristina levou para dentro do governo uma figura política de notável capacidade de diálogo. Com humildade e serenidade, impôs sua autoridade”, afirma o deputado Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (MDB/RS), sobre sua antecessora à frente da bancada ruralista. Sempre que tem a chance, Bolsonaro repete que Tereza vale por dez ministros.

Mesmo alinhada com o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, Tereza Cristina passou quase incólume pelas discussões que se seguiram aos aumentos do desmatamento e das queimadas na Amazônia, enquanto o colega foi alvo de críticas severas.

“O trabalho é homogêneo, sempre alinhado, em benefício do Brasil, dos brasileiros, do meio ambiente, da agropecuária. Ganham todos com o esforço conjunto, e é dessa forma que trabalhamos”, disse Salles em reunião na sede da FPA na semana passada.

Essa afinidade, porém, preocupa cada vez mais os ambientalistas, que vêem riscos de a nova orientação ambiental brasileira, que, em sua visão, atende aos interesses do agronegócio, prejudicar as exportações, posição compartilhada por segmentos da agroindústria. Márcio Astrini, coordenador de políticas pública do Greenpeace, ressalva que empresas europeias continuam comprando do Brasil, “mas a contragosto”.

Segundo ele, a mensagem que tem sido passada pelo governo é de permissividade e apoio a grileiros, e a desmobilização de órgãos de fiscalização como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) reforça a sensação, embora os produtores sustentem que cumprem as leis ambientais, “as mais severas do mundo”.

Nesse campo, Tereza Cristina também parece ter driblado as críticas mais duras quanto ao aumento do número de agrotóxicos liberados este ano, embora reclamações perdurem.

Na avaliação de Welber Barral, consultor e ex-secretário de Comércio Exterior, a atuação da ministra não deixou que as relações internacionais brasileiras fossem abaladas. E fortaleceu a presença dos produtos do campo na pauta de exportações, com ações estratégicas no Oriente Médio, na Ásia e na África.

Barral atribui à Tereza Cristina, por exemplo, parte importante do sucesso na conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia. Mas há problemas nessa frente, e um deles é a dificuldade para reabrir o mercado dos EUA à carne bovina in natura brasileira.

Apesar de reconhecer avanços, o cientista político Leandro Gabiati, diretor da Dominuim Consultoria, afirma que Tereza Cristina, considerada por ele o destaque de 2019 da Esplanada, ao lado de Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), terá, sim, um grande desafio para melhorar a imagem do agronegócio do Brasil no exterior em 2020. Segundo Gabiati, o discurso “incendiário” de Bolsonaro sobre temas ambientais e a postura de Salles ficam mal na foto.

Em meio ao avanço do grande agronegócio, a agricultura familiar também reclama. Alega que não se vê representada nas aberturas de mercado no exterior negociadas por Tereza Cristina. A Confederação Nacional dos Trabalhadores, Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) rechaça o jargão de “uma só agricultura”, repetido pela ministra, e cobra ações mais direcionadas e o fortalecimento da assistência técnica e extensão rural.

Outra reclamação da Contag é que a medida provisória da regularização fundiária “liberou demais” e será um instrumento para favorecer grileiros e grandes produtores. “A MP facilitará a participação de pessoas que não são agricultores no processo de regularização”, afirma o secretário de Política Agrícola da entidade, Antoninho Rovaris.

O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) pensa diferente. Para ele, a MP vai simplificar o processo de regularização fundiária. “Os truculentos do passado e o presidente reacionário são as pessoas que estão resolvendo” os problemas sociais, ironiza, em referência ao secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antonio Nabhan Garcia e a Jair Bolsonaro.

Almejado por vários ex-ministros da Pasta, o orçamento de R$ 1 bilhão para o seguro rural em 2020 é uma das conquistas mais comemoradas por Tereza Cristina e pelo setor produtivo, principalmente pela articulação feita junto ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para garantir os recursos.

Mudanças no crédito rural, com incentivos aos recursos privados, também são citadas como ganhos, mas o economista e professor licenciado da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques, tem ressalvas. Para ele, o governo precisa prever dificuldades econômicas e não pode trabalhar com um cenário eterno de juros e inflação em baixo patamar.

 

Valor Econômico

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