Governo de Goiás cogita fim da vacinação contra aftosa no Estado

 

Maurício Velloso. Foto: Fredox Carvalho
Maurício Velloso, da Faeg, diz que o status de área livre de aftosa sem vacinação causaria danos irreversíveis ao agro goiano. Foto: Fredox Carvalho

 

Goiás pode se tornar o segundo Estado brasileiro, além de Santa Catarina, a ganhar status de região livre de aftosa sem vacinação. O debate foi lançado pela Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seagro) e pela Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), que cogitam a possibilidade de colocar fim à vacinação contra a febre aftosa.

O governo vem afirmando que a decisão será do setor privado, mas o assunto já causou reboliço entre pecuaristas e entidades representativas do segmento goiano, por acreditarem se tratar de uma decisão precipitada. Eles temem perder o que já conquistaram sem uma fiscalização mais acirrada e que as previsões da Seagro e da Agrodefesa (de aumento dos preços e acesso a novos mercados) não se concretizem. Hoje, os goianos já exportam para 140 países.

“Há muitos anos, vacina-se o rebanho com o sonho da extinção da febre aftosa e, por conseguinte, também da vacinação. Alcançar o status de área livre de aftosa sem vacinação seria a meta natural, o coroamento de um trabalho bem feito de planejamento, execução e fiscalização das campanhas pela erradicação da febre aftosa, levadas a termo no Estado”, ressalta Maurício Velloso, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg).

A criação goiana de bovinos não registra casos da doença há 19 anos. Para combatê-la, o governo federal criou o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção Contra a Febre Aftosa, em 1992. A doença causa febre e aparecimento de aftas na boca e nos pés de bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e suínos. É provocada por um vírus e contagiosa. O último foco da doença em solo brasileiro foi registrado em 2006, em Mato Grosso do Sul e no Paraná.

“Acredito que ninguém, em sã consciência, queira o fim da imunização. Talvez o momento de euforia, causado pelos excelentes percentuais de vacinação do Estado (99,5%), tenha dado ensejo ao pleito de área livre de aftosa sem vacinação. Entretanto, o histórico do setor e o bom senso demonstram que este caminho não é o mais adequado para o negócio pecuário de Goiás.”

Na opinião do especialista, os riscos seriam enormes.

“O status de área livre de aftosa sem vacinação causaria danos irreversíveis ao agronegócio goiano, e não apenas à pecuária de corte. Não se concebe, em pleno século 21, na era da globalização total e do fim das barreiras comerciais, propor uma ação que condenaria Goiás ao isolamento. Este é o efeito perverso da medida”, critica Velloso.

O presidente da Comissão de Pecuária da Faeg afirma que tal isolamento poderia, em uma primeira fase, elevar os preços do gado e do leite, mas poderia resultar “em uma enxurrada de contrabando de reses e leite, em proporções impossíveis de reprimir na sua totalidade”.

“Uma vez tornado ‘sem vacinação’, o rebanho goiano estaria fragilizado perante a ameaça permanente da doença, cujo surgimento eventual ou proposital condenaria Goiás ao impedimento comercial do seu rebanho de corte e de leite. Goiás estaria fechado ao recebimento de reses de outros Estados, exceto de Santa Catarina, que por sua vez não possui tradição da pecuária de corte”, alerta.

Atualmente, Santa Catarina é o único Estado brasileiro, reconhecido pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), como região livre da doença sem vacinação no País. Os demais Estados brasileiros, além do Distrito Federal, são livres de aftosa com vacinação.

Para Velloso, se Goiás recebesse o mesmo status de Santa Catarina, o gado de elite goiano, considerado um dos melhores em território nacional, ao sair para as exposições, não mais poderia retornar à região de origem.

“As indústrias da cadeia pecuária, frigoríficos, curtumes e laticínios apenas fariam as malas e partiriam para onde houvesse oferta competitiva. O desemprego cresceria exponencialmente, acompanhando o efeito dominó na ‘pequenização’ da cadeia pecuária do Estado. Ou seja, seria um desastre completo.”

JUSTIFICATIVA

O governo de Goiás vem argumentando que a suspensão da vacinação aumentaria, sim, a responsabilidade do Estado, mas traria benefícios como economia para o produtor rural e ampliação de mercados importadores da carne goiana.

“O Estado quer escutar a opinião do setor privado e não vai tomar a atitude sem que isso aconteça. Vamos começar a abrir essa discussão”, garantiu o assessor técnico da Seagro, Uacir Bernardes, durante reunião realizada no dia 18 de março.

Nove dias depois, representantes da Faeg e do setor pecuarista se reuniram para analisar a proposta de fim da vacinação contra a febre aftosa.  Na ocasião, os participantes deram continuidade ao debate iniciado na semana anterior. Um próximo encontro com entidades representativas e órgãos estaduais está marcado para o próximo dia 14 de abril.

Entre prós e contras, a Federação se posicionou contra a proposta do governo estadual, porque ela impediria a entrada de animais em solo goiano (a liberação seria apenas para embriões e sêmem); a circulação do couro somente processado; o rifle sanitário sem indenização dos animais que adentrassem Goiás, vindos de outras regiões com status inferior ao goiano; e o não retorno do gado que saísse do Estado (para exposições agropecuárias, por exemplo).

Uma das críticas do governo goiano – e que tem recebido apoio dos produtores de bovinos – é que não há, por exemplo, a necessidade de se fazer vacinação contra a febre aftosa duas vezes ao ano. Os bovinocultores querem que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) faça um estudo a fim de alterar o calendário para apenas uma etapa da vacinação de todo o rebanho. Hoje, isto ocorre em duas fases: em maio, quando são vacinados todos os bovinos e bubalinos; e em novembro, quando são imunizados apenas animais de até 24 meses.

 

Por equipe SNA/RJ

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