O ano de 2016 o setor de alimentos perdeu cerca de R$ 7 bilhões, por danos, logística, aparência ou validade, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Os destaques do período foram as frutas, os legumes e as verduras (FLV).
De acordo com o vice-presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Coriolano Xavier, esse valor é relacionado apenas às perdas de alimentos (in natura ou processados) nos supermercados. São alimentos descartados devido à aparência, danos ou validade, a maior parte entre frutas, legumes e verduras, mas também itens de padaria, confeitaria, comida pronta, carnes e peixes. “Juntos, esses alimentos representaram cerca de 20% das chamadas “perdas operacionais” dos supermercados, naquele ano”, informa.
O executivo acrescentou que os índices de perdas estiveram bem próximos em 2016 e 2015, não havendo ainda consolidação de dados sobre 2017. “Mas a tendência é uma redução desse tipo de desperdício nos supermercados. Um sinal disso é o fato de que 60% do setor estão de alguma forma profissionalizando a gestão da prevenção de perdas, segundo estudos da Abras”.
Xavier, que também é professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), afirma que na cadeia produtiva de alimentos tudo o que se perde ao longo de suas fases tem um custo. E tudo o que se perde depois que chegou à mão do consumidor também custa. “Ou seja, há custo para se produzir, transportar, armazenar, conservar e distribuir. Um custo em dinheiro, em recursos naturais em energia humana e social”, explica.
LOGÍSTICA
O vice-presidente do CCAS credita boa parte do alto nível de desperdício aos gargalos relacionados à logística para transporte dos alimentos. “Basta observar a situação dramática de estradas e portos que se repete a cada safra, e mesmo depois dos picos de colheita, ao longo de todo o ano, devido às condições precárias de sistema de transporte nos modais rodoviário, ferroviário e fluvial”, comenta. “É preciso ter a consciência de que, na maioria das vezes, o desperdício está associado a algum grau de ineficiência, seja na condução e gestão dos processos, seja na criação e manutenção de estruturas produtivas.”
PERDAS
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 25% das perdas acontece na fase de produção, outros 25% na logística e armazenagem,5% no processamento e 10% na distribuição. O que a experiência mostra, quando se olha da fazenda até a mesa do consumidor, é que o desperdício é maior em segmentos nos quais há um menor rigor quanto à gestão dos processos.
“Os segmentos de menor índice são aqueles em que há uma normatização e controle de processos maior (processamento e distribuição dos alimentos), possivelmente refletindo grau de tecnologia, equipamentos, automatização e automação, gestão, capacitação de mão de obra e outros fatores”, pondera.
Ele destaca ainda outra preocupação na pauta constante nas discussões do CCAS, que é o desperdício de alimentos ao nível do consumidor, que no Brasil e no exterior (principalmente nos países desenvolvidos e nas economias emergentes) está na casa de 35%. Levantamento feito pela FAO estima que 30% de todos os alimentos produzidos perdem-se ao longo da cadeia. Essa quantidade perdida ocorre depois que o consumidor adquire o seu alimento, seja por sobras, por consumo mal planejado, problema de conservação, deterioração e prazo de validade.
SOLUÇÕES
Um ponto importante observado por Xavier é que, na complexa cadeia produtiva de alimentos, em geral as soluções são múltiplas. “Dificilmente uma só coisa resolve os grandes problemas, e com o desperdício ocorre a mesma coisa”.
Para ele, no varejo, o recuo do desperdício está ligado a aspectos de estrutura, como conservação e refrigeração, também a melhorias na gestão de processos, como manuseio dos produtos, inventário, giro e até segurança preventiva em relação a furtos.
“O marketing também pode ser um aliado importante para mudar a percepção das pessoas em relação aos chamados ´produtos feios`, ou aproveitá-los em soluções de maior conveniência como sopas, sucos, saladas e outras”, destaca o executivo.
De acordo com Xavier, dados de pesquisa recente mostraram que mais de 40% das pessoas ainda associam produto feio a impróprio para consumo. “Existe aí um espaço importante para a educação do consumidor, com transparência e dentro de princípios éticos, contribuindo assim para diminuir o refugo de alimentos”, argumenta.
“O olho maior que a barriga”, costumava dizer minha avó. E os remédios são parecidos com aqueles que comentamos para as perdas de varejo, educação do consumidor, via campanhas na imprensa, e também ações de marketing educativo por parte das próprias marcas e organizações do agronegócio, já que no momento é difícil contar com apoios governamentais em estratégias dessa natureza”, arremata.
Por Equipe SNA/SP