O mercado global de alimentos e bebidas orgânicos deve crescer 11,5% até 2024, chegando a valer 211,3 bilhões de dólares, conforme projeções da empresa de pesquisas BCC Research. A categoria de produtos orgânicos já vinha se desenvolvendo e ganhando capilaridade antes da pandemia.
Isso em razão de motivações multifatoriais. Essas incluem especialmente novas atitudes do consumidor em relação às origens dos alimentos, preocupações com a segurança do alimento, orientação à sustentabilidade, preocupação com o bem-estar animal, apoio a negócios locais e um foco crescente em escolhas alimentares voltadas à saudabilidade.
No entanto, com a pandemia, esse segmento passou a ser ainda mais visado por marcas e por consumidores.
“A demanda por segurança alimentar e saudabilidade, principalmente com a pandemia, contribuiu para a maior procura por orgânicos e por certificações de produção orgânica”, complementa Marcio Mitidieri, CEO da consultoria especializada Agrogenius.
Pandemia e a alta do consumo de produtos orgânicos
No Brasil, para criar incentivos para a comercialização de produtos orgânicos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) lançou uma campanha voltada à promoção dos orgânicos e do seu consumo durante a pandemia. Muitos produtores também se adaptaram para vendas virtuais e delivery nesse período.
“O comércio eletrônico e os canais virtuais, que permitem maior integração com os consumidores, entraram para ficar. Alguns produtores utilizam os canais administrados e que já possuem uma logística para a entrega de alimentos aos consumidores. A presença nas mídias sociais e a parceria com influencers, bloggers, nutricionistas, chefes de cozinha que valorizam alimentos com ingredientes orgânicos também se intensificou durante os últimos meses”, explica Sylvia Wachsner, Diretora da SNA e coordenadora do CI Orgânicos.
Esses são alguns dos diversos exemplos de como os players do setor se organizaram para manter a resiliência e o crescimento da categoria nesse período. Com isso, mesmo com restrições e desafios inerentes a esse cenário, o segmento de alimentos orgânicos alcançou bons resultados.
“A procura pelos produtos orgânicos é uma tendência dos últimos anos, mas, com a COVID-19, ficou claro que, diante de um problema de saúde, as pessoas buscam uma alimentação mais natural e saudável. Segundo especialistas, os cuidados com a saúde e a questão ambiental ganharam relevância no cotidiano dos consumidores, que optaram por comprar produtos considerados bons para eles e também para sua família”, ressalta Wachsner.
De fato, conforme dados divulgados pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), houve caso de produtores que chegaram a triplicar sua produção nesse período, especialmente para atender os canais de venda online. Ainda, de acordo com a entidade, a comercialização de determinados produtos orgânicos registrou crescimento de mais de 50% no varejo.
As projeções da Organis são de que o setor de alimentos orgânicos cresça 10% no país em 2020, porém, com a perspectiva de alcançar um percentual maior se a procura mantiver os mesmos níveis do primeiro semestre do ano.
Projeções positivas para a categoria de orgânicos além da pandemia
Outro fator importante que ajuda a estimular o crescimento da categoria é que tem ocorrido uma calibragem na relação entre oferta e demanda. Com o interesse do consumidor, torna-se cada vez mais comum encontrar gôndolas e corredores inteiros de alimentos e bebidas orgânicas em redes de varejo de todos os portes.
Com o acesso mais fácil nos canais de distribuição, o consumidor pode, ainda, optar pela compra desses itens para saciar também seu desejo por novos sabores e experiências gastronômicas.
O apelo por uma alimentação mais natural e saudável também está cada vez mais estabelecido. No caso dos produtos orgânicos, o consumidor faz uma associação mais direta entre essas duas pontas. Na verdade, conforme um relatório recente da Ecovia Intelligence, historicamente, quando há um aumento mais generalizado da preocupação com a saúde, a venda de produtos orgânicos tende a crescer.
A empresa de pesquisa citou exemplos da crise da BSE (encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como “doença da vaca louca”), que aumentou a demanda por produtos orgânicos sustentadamente nos anos seguintes. Com a SARS e o escândalo da melamina, essa tendência também se evidenciou. Essa análise projeta que as vendas de produtos orgânicos deverão permanecer em alta por um bom tempo.
Essa ideia de usar alimentos para gerenciar a saúde pode, em parte, ajudar a explicar o crescente interesse do consumidor por produtos frescos, naturais e orgânicos. E, em razão desses produtos oferecem muitos dos benefícios que os clientes devem continuar procurando pós-pandemia – alimentos e bebidas naturais, saudáveis e saborosos que são cultivados com segurança e cuidado -, eles representam uma boa oportunidade para a diversificação de portfólio das indústrias.
Millennials também estimulam a procura por produtos orgânicos
Sylvia Wachsner destaca que “alimentação saudável, conveniente e com consciência social e ambiental estão entre os principais fatores decisivos para o consumo da geração conhecida como Millennials. Essa tendência de se preocupar com uma alimentação saudável é um hábito que vem ganhando adeptos, ainda mais nesta pandemia. Para os Millennials, que podemos chamar de ‘consumidores conscientes’, a escolha dos produtos está ligada à saúde e ao bem-estar. Eles procuram adquirir produtos que tenham o menor impacto ambiental. Trata-se de uma geração empenhada em apoiar um sistema alimentar menos destrutivo para o meio ambiente”.
Avanços em ingredientes impulsiona a categoria de produtos orgânicos
À medida que o mercado orgânico mudou de alimentos básicos, como frutas e vegetais, para a produção de itens processados, os fabricantes de ingredientes têm desenvolvido soluções que atendem aos padrões necessários para serem rotulados como orgânicos.
E isso tem possibilitado o desenvolvimento e a expansão dos orgânicos para tantos produtos diferentes. Além de os ingredientes orgânicos agregarem esse apelo aos produtos, eles podem, ainda, ajudar a posicionar o produto como clean label.
Por exemplo, ao se optar por um amido de milho orgânico, é possível simplificar o rótulo e remover da composição texturizantes sintéticos que não serão mais necessários. Ter esse tipo de opção mais versátil abre um leque de possibilidades para o crescimento da categoria de orgânicos.
Tendências para lançamentos em produtos orgânicos
As bebidas são uma espécie de incubadora de tendências para produtos orgânicos, apresentando inovações que atraem novos clientes para a categoria. Ainda, por essa ser uma área com menor sensibilidade a preços, há espaço para lançamentos de maior valor agregado.
Águas saborizadas, bebidas vegetais, kombuchas, vinhos, cervejas, energéticos sucos, chás, tônicas, leite e tantos outros produtos têm conquistado espaço nas prateleiras de orgânicos, especialmente com embalagens diferenciadas que destaquem o item e sua proposta de valor.
Outra tendência são as sopas orgânicas, como alternativa a refeições para viagem e que sejam práticas de transportar e consumir em trânsito. Um exemplo de lançamento é o da marca francesa Hari & Co, que desenvolveu uma sopa de legumes orgânicos embalada em uma prática garrafa, com design exclusivo.
O chocolate representa também uma oportunidade emergente para o mercado de orgânicos. Embora muitos clientes queiram uma experiência indulgente, eles também estão lendo os rótulos com mais atenção, de modo a escolherem a opção de consumo mais saudável. E há diversos ingredientes orgânicos prontos para entregarem essa combinação que oferece oportunidades para novos lançamentos no mercado.