Fertilizantes: alta dos preços diminui a comercialização antecipada de grãos no País

Os preços elevados dos fertilizantes e a consequente deterioração da relação de troca entre commodity e adubo desestimularam a antecipação das compras dos insumos pelos produtores brasileiros para aplicação neste ano.

Para uso na safra de inverno 2021/22, o ritmo das compras está 16% atrás do mesmo período do ano passado, enquanto para aplicação na safra de grãos de verão 2022/23, há um atraso de 15% na fixação dos preços dos adubos, indicou a pesquisa trimestral da consultoria StoneX.

Na avaliação do diretor de Fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, há um atraso “significativo” na comercialização neste ano. Ele explica que os produtores estavam segurando as compras dos adubos na expectativa de recuo nas cotações a partir do segundo trimestre deste ano, cenário que era considerado provável pelo mercado.

“Os preços dos fertilizantes estavam muito altos, enquanto os dos grãos estavam razoavelmente mais baixos. A partir de janeiro, as relações de troca melhoraram muito, porque os preços dos grãos subiram com a quebra de safra. Entretanto, os problemas geopolíticos no Leste Europeu impulsionaram as cotações dos adubos e agora falta muito para comprar”, disse Mello ao Broadcast Agro, se referindo à invasão da Ucrânia pela Rússia, que contribuiu para a retração do produtor e a desaceleração das compras.

Ritmo lento

A StoneX destaca que além do atraso na comparação anual, se observa que as compras estão evoluindo mais lentamente do que em anos anteriores, mesmo com a aproximação do período de adubação. Tanto a comercialização para o primeiro semestre, quanto para o segundo semestre avançaram apenas 11% e 9% de novembro para fevereiro, respectivamente, quando no mesmo período do ano passado, o progresso foi de 28% e 19%.

Até o fim de fevereiro, 60% dos adubos a serem utilizados nas lavouras brasileiras neste primeiro semestre, período de plantio das culturas de inverno como milho safrinha e trigo e do algodão, já haviam sido comercializados.

No mesmo período do ano passado, o produtor já havia garantido 76% dos adubos a serem aplicados na safra de inverno. A comercialização antecipada de fertilizantes para uso no primeiro semestre vem evoluindo lentamente desde maio do ano passado.

Compras por região

O maior atraso na venda antecipada de fertilizantes para uso no primeiro semestre, de 13%, é registrado no Centro-Oeste, região que lidera a produção de milho safrinha e de algodão e que planta antes que as outras regiões, indicou a StoneX.

O percentual de negociação dos adubos atingiu 66% do volume necessário na região em fevereiro deste ano, contra 79% registrado no mesmo período do ano passado.

Atrás do Centro-Oeste, estão as regiões Norte/Nordeste e Sudeste, ambas com 59% do volume comercializado, contra 58% e 54% reportados em fevereiro de 2021, respectivamente. Já o Sul foi a região que ficou mais distante da média nacional, com 56% das compras asseguradas, ante 65% há um ano.

Segundo semestre

A desaceleração das compras é reportada também na comercialização para aplicação no segundo semestre do ano, período de plantio da safra de verão 2022/23, e nas grandes regiões produtoras de grãos de verão.

Até o fim de fevereiro, 28% dos fertilizantes a serem adquiridos na primeira metade da temporada 2022/23 já haviam sido comprados pelos produtores brasileiros, contra 43% no mesmo período do ano passado.

As compras de adubos para o segundo semestre começaram a serem feitas em novembro do ano passado. Aproximadamente dois terços dos adubos consumidos anualmente no Brasil são utilizados na segunda metade do ano. Desse volume, a maior parte é aplicada a partir de setembro, quando começa o plantio da soja e do milho de verão.

Volumes

No Centro-Oeste, principal região produtora de grãos de verão, a queda da comercialização antecipada para o segundo semestre é ainda maior que o percentual nacional de 24%. No período reportado, 28% dos adubos já haviam sido contratados, idem à média nacional, contra 52% reportado em fevereiro do ano passado.

A região Norte/Nordeste garantiu 37% dos fertilizantes para a segunda metade do ano, contra 45% há um ano. O Sul comprou 28% dos adubos necessários para o segundo semestre (contra 31% de fevereiro/2021) e o Sudeste assegurou 24% dos adubos (contra 22% há um ano).

Pesquisa

O levantamento foi feito pela consultoria até o fim de fevereiro com misturadoras, distribuidoras, cooperativas, médios e grandes produtores de todas as regiões do País e considera as vendas de adubos por meio da fixação de preços e fechamento de contratos para entrega futura.

A pesquisa compreendeu uma área de 26 milhões de hectares, equivalente a 43% da área semeada com grãos na safra 2021/22.

Cenário desfavorável

A redução das compras de adubos começou a ser observada no fim do ano passado, após um longo período, desde 2019, em que o produtor vinha assegurando cada vez mais antecipadamente o seu pacote de adubação, especialmente para grãos.

O adiantamento se intensificava segundo a relação de troca, quando a quantidade necessária de determinada commodity para compra de 1 tonelada de adubo ficava mais favorável ao produtor.

Essa relação, contudo, está menos favorável, em virtude das altas contínuas dos preços dos adubos. Ou seja, o poder de compra de fertilizantes pelo agricultor brasileiro está menor, apesar das cotações sustentadas das commodities.

 

 

Fonte: Broadcast Agro

Equipe SNA

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