Maior compradora mundial da celulose produzida no Brasil, a China também assumiu o posto de maior importadora de toras de eucalipto plantado no país.
Diante do acesso limitado a recursos naturais para produção da celulose em fábricas locais, o país asiático tem recorrido cada vez mais às compras externas de madeira e levou o Brasil a dobrar as exportações do insumo entre 2017 e 2018.
Os volumes embarcados ainda não são expressivos, especialmente se comparados aos da celulose, mas o ritmo de crescimento chama a atenção.
Segundo levantamento da consultoria Forest2Market, com base em dados de comércio exterior do governo brasileiro, a exportação de toras de eucalipto totalizou 234.000 toneladas no ano passado, 122% acima do registrado em 2017. Desse total, 89% foi exportado para a China.
Além da China, outros produtores asiáticos e europeus estão intensificando as compras de madeira brasileira para abastecer linhas de produção instaladas em seus países de origem. Em 2018, o Vietnã respondeu por 10,4% dos embarques de toras de eucalipto e na lista de compradores aparecem também Camboja, França, Taiwan, Hong Kong e Tailândia.
“Essa é uma tendência clara. Se comparado com outros países, o Brasil sai à frente em todas as variáveis, como produtividade, e as exportações devem continuar avançando”, disse o diretor da consultoria americana no Brasil, Marcelo Schmid.
O acesso à matéria-prima de qualidade e baixo custo há anos atrai investidores estrangeiros ao país – é fato que o ímpeto diminuiu com a restrição à compra de terras por estrangeiros. O interesse original, de fixar operações produtivas no Brasil, levou a disputas por fábricas e, com os grandes ativos já negociados, a busca se voltou à matéria-prima.
Mais recentemente, com as restrições à importação de aparas de papel na China e a menor disponibilidade de madeira em diferentes regiões do mundo, a procura por toras e cavacos no país cresceu.
No caso de cavacos, mostra a Forest2Market, houve estabilidade nos volumes comprados entre 2017 e 2018, na casa de 1,6 milhão de toneladas, mas em dez anos o crescimento supera 40%.
No ano passado, o grande consumidor do cavaco brasileiro foi o Japão, com pouco mais de 82%. A Turquia veio a seguir, com 9,7%, à frente de China (2,1%) e Portugal e Finlândia (ambos com 2%).
Segundo Schmid, a maior procura por madeira tende a se refletir em preços mais altos no futuro, devendo atrair mais investimentos para o país. Em relação a 2019, a Forest2Market projeta investimentos de R$ 600 milhões em terras e florestas por parte de “timos”, fundos de investimento dedicados ao setor florestal (nacionais e estrangeiros).
Nos últimos dois anos, os preços da madeira em pé nos principais estados produtores do país avançaram, com destaque para Minas Gerais, onde os valores dobraram (para R$ 52,50 o metro cúbico).
Contudo, entre investidores em reflorestamento, o preço atual não necessariamente remunera o investimento. Em Mato Grosso do Sul, diz Luiz Carlos Ramirez, presidente da Ramires Reflortec, os preços atuais, de R$ 50,00 o metro cúbico, não são adequados para o investidor, e R$ 65,00 por metro seria o desejável.
A valorização do insumo, disse o empresário – que participou de um encontro entre líderes e investidores do setor florestal (HDOM Summit), ainda depende da execução de novos projetos industriais.
Valor Econômico