Os desafios no uso de modelos climáticos em bacias hidrográficas e seus conflitos de escala foram analisados hoje em seminário coordenado pelos pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna/SP) Aline Maia e Alfredo Luiz. Segundo Aline, foram divulgados resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbito da Rede AgroHidro.
O objetivo principal do projeto é contribuir para a interação entre profissionais e instituições nacionais e estrangeiras na busca de soluções voltadas à sustentabilidade nas relações entre os recursos hídricos e as cadeias produtivas agropecuárias e florestais. A Rede também busca a melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais e da população em geral, promovendo o avanço do conhecimento e das tecnologias para o uso eficiente da água.
Por ocasião do evento, foram abordados conflitos relacionados à compatibilização de escalas (espaciais e temporais) das informações fornecidas por modelos climáticos globais e regionais e informações requeridas para estudos de impacto de mudanças climáticas em bacias. “A avaliação de um modelo regional em três bacias hidrográficas (rios Paracatu e São Marcos; Jaguaribe e Alto Rio Paraguai-Pantanal), ilustra os desafios no uso das projeções dos modelos em escalas para as quais estes não apresentam boa destreza”, explica a pesquisadora.
Luiz esclarece que, “para a utilização segura das projeções de precipitação oriundas de modelos climáticos regionalizados, no intuito de estudar os impactos de possíveis mudanças climáticas sobre recursos hídricos, em escala de bacia hidrográfica, é preciso que se tenha confiança que os modelos são capazes de reproduzir com consistência os dados reais”. Para ele, é aceitável que um modelo não reproduza exatamente a realidade e até apresente vieses passíveis de correção. “Entretanto, especialmente na escala de bacias e sub-bacias brasileiras, carecemos de estudos que avaliem o desempenho desses modelos”.
“Neste trabalho, avaliamos a consistência do modelo regionalizado Eta-HadGEM-ES, com relação às projeções médias mensais de chuva (1999-2013), para as bacias dos rios Paracatu e São Marcos, na região central do Brasil, comparados aos dados interpolados fornecidos pelo Climate Research Unit (CRU) e dados reais obtidos de estações meteorológicas locais. As diferenças observadas no tempo e no espaço foram elevadas, tanto em valor absoluto quanto relativo, e não apresentaram um padrão sistemático de desvios que permitisse a correção de viés.
Para Luiz, “projeções de variáveis climáticas, em geral, apresentam vieses importantes que requerem uma avaliação criteriosa numa etapa de pré-processamento, anterior ao seu uso em estudos de avaliação de impacto de mudanças climáticas. Nesse contexto, os vieses correspondem a desvios entre projeções retrospectivas da variável de interesse e respectivos valores da base de dados CRU, obtidos por interpolação de dados observados.
Os trabalhos são de autoria de Alfredo Luiz e Aline Maia, em parceria com os pesquisadores Carlos Padovani e Balbina Soriano da Embrapa Pantanal (Corumbá/MS) e Rubens Gondim, da Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE), com a participação do bolsista Arthur Marques, estudante do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará.
Fonte: Embrapa