Roberto Perosa, 46 anos, assumiu a presidência da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) no final de dezembro do último ano. Concedeu entrevista a SNA abordando os desafios e perspectivas para o setor em 2025.
Perosa traz para o cargo uma trajetória consolidada no agronegócio, incluindo 21 meses à frente da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, onde liderou grandes avanços para o setor. Sob sua gestão, o Brasil alcançou recordes históricos na abertura de 250 novos mercados em 60 países, na ampliação de 40% no número de adidâncias agrícolas e no aumento expressivo das exportações agropecuárias. Com sólida formação acadêmica e passagens de sucesso pela iniciativa privada, ele discorre a seguir sobre importantes questões. Confira:
SNA – O Brasil sempre foi referência na qualidade e controle sanitário em suas exportações de proteína animal, abrindo mercados historicamente rigorosos nesse quesito. A ABIEC e outras entidades tiveram papel fundamental na consolidação dessa hegemonia. Qual é o principal desafio nos dias de hoje?
Perosa – ABIEC, que é a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, representa hoje 98% da exportação de carne bovina brasileira. Os nossos principais desafios são a abertura de novos mercados, aos quais o Brasil ainda não tem acesso e que são muito representativos no âmbito do consumo de carne bovina global. Então, eu poderia citar aqui os quatro principais mercados que são importantes para a ABIEC e para todo o nosso setor: os mercados do Japão, do Vietnã, da Turquia e o da Coreia do Sul. Esses quatro mercados representam 30% da demanda por carne bovina no mundo e, no entanto, ainda não estamos autorizados a exportar para lá. Por isso, é essencial um trabalho conjunto da ABIEC, do setor, com a Apex Brasil, Ministério da Agricultura e Pecuária e o Itamaraty, para que possamos abrir esses mercados e dar oportunidade aos exportadores brasileiros de levar os produtos nacionais para esses destinos.
SNA – Adversários da agropecuária brasileira passaram a adotar a estratégia de questionar a higidez da carne nacional, como ilustrou o recente episódio do Carrefour. A reação a essas investidas é determinante para manter a confiança do mercado e coibir futuras contestações. Como avalia o papel das entidades de representação nesse contexto?
Perosa – As ações protecionistas que existem, seja de blocos ou de países, têm sido combatidas conforme surgem, pois, na verdade, são todas motivadas pela competitividade do Brasil. O Brasil possui uma vantagem competitiva na produção de carne bovina, que é 80% realizada a pasto, o que a torna muito diferente em relação aos métodos de produção de outros países. Essa diferença de custo incomoda, e precisamos estar preparados para enfrentar essa realidade. Isso não vai acabar, mas continuaremos sempre a demonstrar a nossa competência, a sanidade da nossa carne e a sua qualidade, para que possamos seguir competindo globalmente. A união do setor é muito importante nesses momentos de ataques, seja por parte de empresas, blocos ou países, para que possamos defender a qualidade e a grandiosidade do setor de carne bovina brasileira.
SNA – O Brasil embarca volumes consideráveis em tonelagem de carne para países atualmente conflagrados no Oriente Médio, o que encareceu o frete e apresentou novos desafios logísticos para a exportação. Como a ABIEC e entidades análogas podem ajudar nesse sentido?
Perosa – As questões geopolíticas não são algo em que a ABIEC possa atuar diretamente. Nós acompanhamos essas situações, e o mercado acaba se ajustando às mudanças geopolíticas. Se não é possível entregar a carne em um determinado país, ela é direcionada para outro país próximo ou para outro mercado que faça sentido. Na verdade, o nosso papel é monitorar o mercado internacional e garantir que a carne brasileira chegue com qualidade, no tempo certo e a um preço competitivo.
SNA – Ainda no horizonte geopolítico, há uma apreensão no mercado pelo novo mandato de Trump nos EUA, reaquecendo uma disputa tarifária com países e blocos comerciais. Internamente, a carne também encareceu e afetou os hábitos de consumo. Qual sua perspectiva diante desses cenários?
Perosa – As perspectivas do Brasil para o setor de carne bovina em 2025 são bastante promissoras, com expectativas de aumento nas exportações. Acreditamos que haverá ampliação das possibilidades de mercado e também do volume de vendas nos mercados onde já atuamos. Alguns mercados, como o Chile e o México, estão em franco crescimento, o que reforça essa tendência. Além disso, aguardamos os próximos passos do governo americano. O Brasil mantém um ótimo relacionamento histórico com os Estados Unidos, um dos nossos principais parceiros comerciais. No ano passado, exportamos um volume significativo de carne bovina para os EUA, em grande parte devido ao ciclo pecuário que o país atravessa. Esperamos dar continuidade a essa parceria e manter nossas exportações para todos os mercados já consolidados.
SNA – A pecuária sempre ganha destaque nos debates sobre práticas sustentáveis, regeneração de pastagens, emissões de carbono e bioinsumos, entre outros. Que papel o segmento terá na transição para uma economia cada vez mais verde, da qual o Brasil busca ser protagonista? Acredita num legado produtivo da COP 30, que será realizada em Belém do Pará, em novembro?
Perosa – Os eventos internacionais, como a presidência do BRICS e a realização da COP, especialmente sendo um evento climático anual, representam grandes oportunidades para o Brasil e para o nosso setor de destacar a sustentabilidade da pecuária e da indústria de carne bovina brasileiras. Esses momentos são ideais para mostrar a todos os participantes da COP quão sustentável é a produção no Brasil e como ela se diferencia significativamente dos métodos utilizados em outros países. Estamos muito confiantes nas iniciativas lançadas pelo governo e pelo Ministério da Agricultura, como o sistema de rastreabilidade individual e a plataforma AgroBrasil Mais Sustentável. Essas ações reforçam nossa capacidade de demonstrar ao mundo a sustentabilidade da produção brasileira e a conformidade com os novos critérios internacionais. A realização da COP e de outros eventos internacionais no Brasil é, sem dúvida, uma oportunidade ímpar para consolidarmos essa mensagem e reforçarmos o papel de liderança do país no cenário global.
Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13. 9290)
Agradecimento especial a Bruno Guzzo (Gerente de Comunicação – Abiec)