Enfezamento do milho aparece como problema na atual safra

Cigarrinhas atacam folhas de milho. Foto: Fabiano Bastos/Divulgação Embrapa

As doenças do milho denominadas enfezamentos têm causado danos expressivos nas lavouras, especialmente nas regiões quentes do Brasil, onde a cultura é cultivada em mais de uma safra ao ano. As doenças podem reduzir em 70% a produção de grãos da planta doente, em relação à planta sadia, em cultivar susceptível às doenças. Em surtos epidêmicos, como os ocorridos recentemente no oeste da Bahia, sudoeste de Goiás, Triângulo Mineiro e o noroeste de Minas Gerais, as perdas superam esse percentual.

Para o controle dessas doenças, os pesquisadores Charles Martins de Oliveira, da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) e Elizabeth de Oliveira Sabato, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas- MG) indicam uma série de medidas preventivas que devem ser adotadas pelos agricultores.

Os produtores devem evitar a semeadura do milho próximo a lavouras mais velhas e com alta incidência dos enfezamentos; semear mais de uma cultivar de milho; tratar as sementes com inseticidas registrados no Ministério da Agricultura para controlar a cigarrinha (inseto transmissor das doenças); e sincronizar a semeadura do milho com o período de semeadura adotado para a maioria das lavouras na região.

Em localidades com alta incidência de enfezamentos e de cigarrinhas, os pesquisadores recomendam a interrupção temporária do cultivo do milho para eliminar tanto as doenças quanto os insetos-vetores. Além disso, o agricultor não deve deixar na área plantas de milho voluntárias (tiguera), que podem servir de reservatórios do inseto e dos enfezamentos para os cultivos de milho subsequentes.

A utilização de cultivares de milho com resistência genética aos enfezamentos é uma alternativa que pode minimizar danos por essas doenças. De uma maneira geral, uma opção para escapar dos enfezamentos é evitar a semeadura tardia do milho.

Doenças

Os enfezamentos são causados por molicutes (espiroplasma e fitoplasma), microrganismos semelhantes a bactérias. O espiroplasma é responsável pela doença denominada enfezamento-pálido e o fitoplasma pelo enfezamento-vermelho.

Os molicutes afetam o desenvolvimento, a nutrição e a fisiologia das plantas infectadas e, em consequência, a produção de grãos. As plantas infectadas com esses patógenos têm internódios mais curtos, menos raízes, e produzem menos grãos que as plantas sadias. A amplitude desses efeitos e a intensidade dos sintomas dependem do nível de resistência da cultivar de milho e são, aparentemente, proporcionais à multiplicação dos molicutes nos tecidos da planta, sendo mais intensos quando a infecção das plântulas ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento.

Os sintomas dos enfezamentos manifestam-se caracteristicamente, e em maior intensidade, na fase de produção das plantas de milho. No enfezamento-pálido aparecem manchas cloróticas e independentes, produzidas na base das folhas que, posteriormente, se juntam e formam bandas grandes. Os entrenós se desenvolvem menos e a planta tem a altura reduzida (“fica enfezada”). Também formam-se brotos nas axilas das folhas, e o colmo e as folhas adquirem cor avermelhada.

Já o enfezamento-vermelho caracteriza-se por plantas severamente “enfezadas” (menor altura) e pela maior intensidade da cor vermelha, que chega a ser púrpura nas folhas mais velhas, e por abundante perfilhamento nas axilas foliares e na base das plantas.

Transmissão

No Brasil, os agentes causais dos enfezamentos são transmitidos de uma planta de milho doente para uma planta de milho sadia por um único inseto-vetor, denominado de cigarrinha-do-milho, com o nome científico de Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae). Essas cigarrinhas são pequenos insetos, medindo aproximadamente quatro mm de comprimento. Apresentam coloração amarela-palha, com duas manchas circulares negras bem marcadas no alto da cabeça, o que permite diferenciá-las de outras cigarrinhas comumente encontradas na cultura do milho.

O pesquisador Charles Martins explica que essas cigarrinhas se alimentam sugando a seiva das plantas de milho e localizam-se nos ponteiros, principalmente no interior do cartucho das plantas. “A duração do ciclo biológico do inseto (ovo até o adulto) é influenciada pela temperatura, mas em média dura cerca de 25 dias. Em regiões quentes, se houver plantios de milho disponíveis, pode apresentar várias gerações ao longo do ano”, ressaltou.

Os espiroplasmas e fitoplasmas são adquiridos pelas cigarrinhas durante a alimentação do inseto nas plantas doentes. Esses microrganismos atravessam as paredes intestinais, caem na hemolinfa (“sangue dos insetos”), se espalham por diversos órgãos e passam a se multiplicar no interior dos insetos, principalmente nas glândulas salivares de onde são inoculados em plantas sadias quando as cigarrinhas iniciam o processo alimentar.

Este tipo de transmissão de microrganismos por um inseto-vetor é denominada de “persistente e propagativa”. Sendo assim, uma vez que a cigarrinha adquire os molicutes, ela se torna transmissora por toda sua vida.

Assista ao vídeo sobre enfezamentos do milho.

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LIVRO

Os pesquisadores Charles Martins e Elizabeth de Oliveira Sabato são editores técnicos do livro “Doenças em Milho: insetos-vetores, molicutes e vírus”, que está à venda na Livraria Embrapa. Participam da obra 25 pesquisadores da Embrapa e de outras instituições de ensino e pesquisa do Brasil, da Itália, da Argentina e dos Estados Unidos.

A publicação bilíngue (português/inglês), destinada a técnicos, pesquisadores, professores e estudantes da área, reúne informações sobre os enfezamentos e viroses. Apresenta ao leitor uma visão detalhada da complexidade do ciclo, da incidência, do diagnóstico e do manejo dessas doenças disseminadas por insetos-vetores (cigarrinhas e pulgões).

Fonte: Embrapa Cerrados

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