Especialistas, produtores e jovens empreendedores do universo da agricultura orgânica se encontraram no “1º Fórum Orgânicos em Ação: Empreendedorismo e Mercado”, promovido pela Sociedade Nacional de Agricultura, na quarta-feira (28), na sede da entidade, no Centro.
O evento, que teve uma programação de palestras temáticas, também marcou o lançamento do livro “Como produzir Orgânicos”, desenvolvido pelo CI Orgânicos, projeto SNA/Sebrae comandado por Sylvia Wachsner. A publicação foi introduzida ao público presente pelo presidente da SNA, Antonio Alvarenga, na abertura do fórum, que também contou com as presenças de José Antonio da Silva, chefe da Unidade de Atendimento de Agroecologia do Sebrae Nacional, e Cezar Kirszenblatt, Gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae-RJ.
O primeiro tema discutido durante a tarde foi “O crescimento do mercado de orgânicos”, apresentado por Sebastião Tivelli, chefe da Seção Técnica da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de São Roque, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (UPD/APTA-SP). O palestrante falou sobre a grande dificuldade de encontrar estatísticas realistas em torno do segmento no Brasil. “Como pesquisadores científicos, quando precisamos defender um projeto, temos que justificá-lo também falando do mercado. Mas, no Brasil, não temos uma estatística confiável para mostrar esse crescimento”, reforçou o especialista.
Ele conta que, em 2003, o Censo Agropecuário apontou que existiam 90.497 produtores que se declaravam orgânicos. No entanto, segundo Tivelli, o método adotado não teria traduzido a realidade da atividade na ocasião, com números considerados por ele duvidosos. “Sabemos que esse número não é exatamente verdade. A pergunta feita para os entrevistados era se eles produziam organicamente. A pessoa respondia que sim mesmo sem saber o que a legislação em torno dos orgânicos exigia para a produção”, observou.
De acordo com Tivelli, em janeiro de 2011, dados do Ministério da Agricultura mostravam a existência de cerca de 5.500 produtores, o que, para ele, reforça o questionamento em torno dos números do censo. “Talvez um resultado mais real é pegar os mesmos dados do Mapa de março deste ano que mostram que tínhamos 10.736 produtores registrados. Assim, podemos analisar o crescimento a partir da mesma base de dados. É um aumento bastante interessante nos últimos quatro ou cinco anos. O próprio IBGE nos mostrava, em 2006, que o mercado de orgânicos no Brasil movimentava R$ 1,3 bilhão”, citou.
Profissionalismo é a palavra de ordem
O técnico agrícola Fernando Ataliba, do Sítio Catavento, localizado em Indaiatuba, interior de São Paulo, apresentou o tema “Produção orgânica: como criar um negócio lucrativo e sustentável”. Produtor orgânico há duas décadas, ele conta que, para que o negócio seja economicamente viável, quem produz deve encarar a atividade com uma visão profissional. “Comecei na agricultura orgânica na década de 90, quando ainda existia um gargalo, mas, hoje, é possível notar que ocorreu uma mudança qualitativa. No entanto, tenho visto em minhas andanças por aí muito amadorismo, muito agricultor que não aposta de verdade na atividade. Ele a vê como algo paralelo. Talvez porque lhes falte a confiança de que ela pode ser uma atividade interessante. É preciso encará-la com uma perspectiva profissional”, salientou.
Segundo Ataliba, o planejamento da produção é essencial para a empreitada ter sucesso. “É necessário planejar a agricultura de forma eficiente. Olhar para a vocação da propriedade, relacioná-la com os fatores de produção, com as questões mercadológicas. Às vezes, uma propriedade tem vocação para gerar caruru, mas não existe mercado para isso”, exemplificou.
Empreendendo em orgânicos
Durante o evento, dois cases de sucesso em empreendedorismo no segmento mostraram que a tecnologia começa a ter papel de destaque na promoção da agricultura orgânica.
Fundadores de uma plataforma online de compra e venda de alimentos orgânicos, batizada de Clube Orgânico (www.clubeorganico.com), os publicitários Victor Piranda e Eduardo Boorhem contaram que resolveram deixar seus trabalhos em importantes agências para criar um negócio que desse sentido aos seus esforços. “Depois de muito tempo de agência, nos perguntamos: ‘Por que não usamos o nosso trabalho para fazer algo que valha a pena para todo mundo?'”, questionou Piranda, de 28 anos.
“Eu percebia uma dificuldade grande das pessoas no acesso aos orgânicos. Elas também sempre compravam com uma certa desconfiança. Numa conversa de bar, a gente achou que tinha um buraco no mercado. Nosso negócio não foi criado para eliminar nenhum outro canal de venda, apenas para somar. A ideia é formar um casamento mais harmonioso entre quem consome e quem produz, uma relação mais feliz”, justificou Piranda.
“O agricultor produz e, quando está tudo pronto, ele tenta escoar pelos mais diversos canais de venda. Estamos propondo um convite aos consumidores. A gente criou uma plataforma que funciona como uma ponte para conectar pessoas que não tinham acesso a alimentos a produtores”, complementa Boorhem.
A mesma motivação encontrada pelos jovens empresários do Clube Orgânico foi o impulso para a criação do Organomix, supermercado virtual de produtos orgânicos e naturais, como contou durante sua palestra o diretor de marketing da empresa, Leandro Dupin. “Também era publicitário e larguei a agência pensando em construir algo. Sempre digo que o Organomix não é só um negócio, é uma missão.”
O executivo mostrou, entre outros pontos, os benefícios do negócio online para consumidores e produtores. Segundo ele, a tecnologia favorece o conhecimento detalhado sobre o produto, com melhor controle de validades e de estoques, evitando, por exemplo, a falta de alimentos. Para o produtor, a plataforma permite acesso a informações valiosas, como o número exato de itens fornecidos e o perfil de quem compra. “Atraves de check-in e check-out, o produtor já sabe como o seu produto chegou ao estoque. Isso ajuda a reduzir a perda, permitindo que ele ofereça um produto melhor ao consumidor.”
Por Equipe SNA/RJ