O número de produtores agrícolas com capacidade de utilizar mecanismos do mercado de capitais para captar recursos, como alternativa aos empréstimos obtidos junto aos bancos, ainda é muito pequeno e há diversas barreiras para ampliar esse uso, quando a iniciativa é exclusiva do agricultor, avaliou nesta terça-feira um executivo do banco de investimentos Itaú BBA.
Instrumentos financeiros, como os CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio), vem sendo uma aposta do governo federal para custear o setor, em um momento em que o crédito oficial subsidiado torna-se cada vez menos abundante. Mas esse mecanismo acaba sendo mais usado somente quando grandes companhias, como tradings agrícolas, estão envolvidas no processo.
Para a emissão direta pelos produtores rurais, o que seria uma alternativa de captação mais barata do que os financiamentos bancários, ainda há diversos entraves.
“É um mercado muito pequeno, ainda precisa evoluir… Não é qualquer um que está qualificado”, afirmou o diretor de Produtores Rurais do Itaú BBA, Antônio Carlos Ortiz.
Pelas estimativas do Itaú BBA, a agricultura empresarial, que reúne um universo de cerca de 100 mil produtores rurais, movimenta anualmente R$ 40 bilhões em crédito com condições controladas (muitas vezes por oferta e regulamentação do governo) e R$ 60 bilhões em condições de livre mercado (incluindo juros negociados diretamente entre bancos e agricultores).
Deste universo, uma parcela muito pequena, praticamente impossível de calcular, é de crédito obtido por meio do mercado de capitais, com emissões de títulos pelos próprios produtores.
Segundo Ortiz, o número de agricultores em condições de realizar a emissão de títulos, como o CRAs, seria suficiente apenas para encher a sala de reuniões em que ele conversou com jornalistas na terça-feira(4), na sede do banco em São Paulo.
“Quase ninguém tem números auditados”, disse o executivo, citando um dos pré-requisitos para lastrear a emissão dos títulos, que é a total transparência das finanças do produtor rural ou sua empresa, reduzindo a percepção de risco por parte do comprador.
Além disso, devido aos custos de estruturar os detalhes burocráticos dos títulos e de oferecê-los aos investidores, trata-se de um mecanismo mais adequado para captar grandes volumes de recursos, da ordem de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões, ou mais.
“Operações pequenas não compensam…tendem a ser operações maiores e para prazo maior”, disse Ortiz.
O executivo lembrou que a emissão de títulos de dívida para negociação no mercado de capitais já é uma prática corriqueira por parte de grandes empresas, como tradings de commodities e indústrias de insumos, mas que “está começando agora” entre agricultores.
Ainda assim, Ortiz destacou que a presença deste tipo de mecanismo no mercado tende a melhorar as condições para o financiamento de toda a cadeia do agronegócio.
“Isso aumenta a concorrência financeira na cadeia como um torno”, afirmou.
Fonte: Reuters