O cenário econômico mundial segue trazendo desafios que impactam o desempenho da cadeia produtiva de leite e derivados. Da situação de reorganização das cadeias de suprimentos e insumos, advindos da pandemia do Covid e da guerra da Rússia e Ucrânia, ao desempenho fraco das economias mais dinâmicas, inflação e juros altos, guerra no Oriente Médio, recuo das importações chinesas e perspectiva de produção de leite acanhada dos maiores exportadores, mostram um cenário desafiador para a cadeia produtiva de leite e derivados para o ano de 2024.
Esses vetores do mercado internacional têm mantido os preços dos produtos lácteos com tendência à estabilidade, o que implique em recentes, mas pequenos aumentos. O GDT de 05/12 trouxe preços ligeiramente mais altos do que o leilão anterior (manteiga: US$ 4.936,00; queijos: US$ 3.986,00; leite em pó integral: US$ 3,11; leite em pó desnatado: US$ 2,6714). Além da situação da economia chinesa e dos países mais desenvolvidos, das duas guerras em andamento, muito preocupa a carência de instituições fortes que possam prover soluções no curto prazo que apaziguem o mercado.
No Brasil, a economia tem mostrado desempenho satisfatório, com inflação controlada, crescimento do PIB e redução da taxa de desemprego. Todavia, esse desempenho ainda não impactou positivamente o consumo de lácteos com repercussão na cadeia produtiva.
A fraca demanda resultou em uma piora na rentabilidade dos produtores. Produtores menores já recebem pelo leite preços inferiores a R$1,80/litro em diversos estados, o que não remunera a atividade. Em 2023 a entressafra foi atenuada, já que a queda de produção foi suprida pelas importações e proveu maior oferta de leite gerando uma pressão baixista nos preços.
Até setembro, enquanto a produção aumentou 1,40% em relação ao mesmo período de 2022, a disponibilidade per capita aumentou 5,30%. Até novembro, as importações brasileiras de lácteos totalizaram 1.963 bilhão de litros de leite equivalente, ou seja, uma média mensal de 178.5 milhões de litros. Mesmo com as quedas dos preços internos, as importações têm sido motivadas pela diferença de preços internos para os externos. Na muçarela a diferença em novembro foi de 45,80% e no leite em pó integral de 31,50%.
Os principais derivados lácteos no mercado atacadista registraram queda de preços ao longo do ano. No leite UHT, as cotações caíram 18,60% de maio a novembro chegando a R 3,76/litro. Na muçarela a queda foi de 15,60%, chegando a R$ 26,88, no mesmo período. As margens industriais estão ruins, com diversos laticínios contabilizando prejuízo nas suas atividades. Desde julho do ano corrente a relação de troca do produtor (índice de preços recebidos IPR/índice de preços pagos – IPP) é menor que a média dos últimos 7 anos, impactando a rentabilidade dos produtores e, como consequência, desestimulando a produção. O aumento da produção de leite no 3° trimestre foi de apenas 0,80% em relação ao ano passado e é provável que essa produção siga fraca também no último trimestre deste ano e no início de 2024.
Todavia, além da desaceleração da produção interna, a ligeira recuperação nos preços internacionais e o Decreto 11.732/2023, que vai entrar em vigor em janeiro/2024, tendem a limitar a importação de leite. Isso pode contribuir para a recuperação nos preços no varejo, no atacado e ao produtor. No entanto, o fraco consumo é um limite para as pressões altistas. O país ainda é um grande importador de lácteos. A reversão deste quadro passa pela competitividade dos nossos sistemas de produção, o que é corroborado pela Figura 1 abaixo, que mostra ilhas relevantes de elevada produtividade comparada.
Os vetores da demanda e da oferta aqui explicitados apontam um ano de 2024 de grandes desafios e de continuidade dos ajustes em curso, em período longo de tempo. É importante focar na competitividade dos nossos sistemas de produção e promover uma maior adoção de tecnologias. Da mesma forma, é urgente investimentos em inovação que estimulam o consumo e melhorar a eficiência no setor industrial, criando um ambiente promotor de competitividade.