
Iniciativas da Abiec ocorrerão na China e buscam estreitar laços em momento decisivo
Apesar da expectativa de que o tarifaço possa ser flexibilizado, na esteira do encontro entre os presidentes de Brasil e Estados Unidos, os representantes do setor de carne também seguem trabalhando para prospectar novos mercados e consolidar parcerias de sucesso em outros continentes. Nesse sentido, o mês de novembro já começa com eventos estratégicos para o segmento: a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) realizam, neste domingo (2/11), a terceira edição do projeto The Beef and Road: Bridging the Brazil–China Beef Routes, na cidade de Zhengzhou, capital da província de Henan.
Iniciado em 2001, o projeto setorial Brazilian Beef, uma parceria entre ApexBrasil e Abiec, tem o objetivo de fortalecer a imagem da carne bovina brasileira, melhorando a percepção de sua qualidade nos países importadores e ampliando, assim, a participação no mercado mundial de carnes. Em 20 anos, já foram firmados dez projetos, com investimentos de mais de R$ 60 milhões e crescimento das exportações em mais de 500%.
A iniciativa dá continuidade às ações de promoção do setor, com foco na interiorização das atividades comerciais e na aproximação de empresas brasileiras com novos polos de consumo e distribuição fora dos grandes centros, como Pequim e Xangai. O evento conta ainda com o apoio do governo da província de Henan e deve reunir cerca de 100 empresários chineses e 40 brasileiros, todos associados da ABIEC, além de autoridades locais, representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Trata-se de um passo decisivo para reforçar a presença da carne bovina brasileira no maior mercado importador do mundo. A programação inclui rodadas de negócios, apresentações culturais e o tradicional Brazilian Beef Dinner, que servirá cortes selecionados, harmonizados com vinhos brasileiros. “Os chineses estão conhecendo com mais detalhes o sabor da carne bovina brasileira. Estamos promovendo o encontro direto entre quem compra e quem vende. E mais: as pessoas não precisam percorrer cidade por cidade. Esse trabalho da ABIEC, em parceria com a Apex, evita tudo isso, reúne compradores e vendedores no mesmo espaço, e os negócios acontecem. Por isso, estou muito contente por estarmos ajudando quem trabalha e produz no Brasil a vender a carne na China”, afirmou o presidente da ABIEC, Roberto Perosa.

Polos estratégicos para as rotas da carne brasileira
Com uma população superior a 12 milhões de habitantes, Zhengzhou é um dos principais centros logísticos e de consumo da China, conectando o comércio entre o leste e o interior do país. A cidade reafirma-se como ponto estratégico na consolidação do Brazilian Beef no mercado asiático. Outras edições do projeto foram realizadas em Hangzhou, capital da província de Zhejiang, e em Nanjing, fortalecendo a estratégia de expansão regional e a diversificação dos canais de distribuição. A agenda da ABIEC em Zhengzhou também inclui participação na China–LAC Business Summit, fórum que reúne representantes de governos e empresários da América Latina e do Caribe com autoridades e investidores chineses.
O Brasil é o maior fornecedor mundial de carne bovina à China, responsável por cerca de 50% de todas as importações do país asiático. Atualmente, 67 plantas frigoríficas (SIFs) e 31 empresas associadas à ABIEC estão habilitadas a exportar para o mercado chinês. Entre janeiro e setembro de 2025, o Brasil exportou 1,15 milhão de toneladas de carne bovina para a China, com faturamento de US$ 6,06 bilhões, altas de 38,7% em volume e 75,8% em valor em relação ao mesmo período de 2024. A China responde, neste ano, por 48,8% da receita total das exportações brasileiras de carne bovina e 47,3% do volume embarcado, consolidando-se, pelo quinto ano consecutivo, como principal e mais relevante destino do produto brasileiro — muito à frente dos Estados Unidos (10,4%) e do México (4,1%). Esse panorama se consolidou com o tarifaço americano.
Após o evento em Zhengzhou, a ABIEC participará, entre 5 e 10 de novembro, da China International Import Expo (CIIE) 2025, em Xangai, uma das maiores feiras de importação do mundo. A participação ocorre em parceria com a ApexBrasil, o MAPA, a Embaixada do Brasil em Pequim e o Consulado-Geral do Brasil em Xangai. Os expositores da ABIEC estarão no Pavilhão das Empresas, que contará também com o tradicional churrasco brasileiro assinado pelo Barbacoa, uma das atrações mais procuradas pelos visitantes da feira. Organizada pelo governo chinês, por meio do Ministério do Comércio (MOFCOM), a CIIE é reconhecida como a primeira feira nacional de importação do mundo, reunindo mais de 3.500 expositores e centenas de milhares de visitantes. Desde sua criação, em 2018, o evento já recebeu mais de 3.400 empresas de 128 países e cerca de 800 mil visitantes.
Essa soma de esforços reflete o compromisso do setor com a divulgação do produto no exterior, num ano particularmente delicado pelo tarifaço. Mesmo antes da crise, mercados importantes já vinham abrindo suas portas à proteína animal brasileira, a exemplo de Japão e Vietnã. Visitados em março pela comitiva presidencial, composta também por empresários e representantes da pecuária, inclusive associados da Abiec, esses países enviaram missões técnicas ao Brasil nos últimos meses e já negociam os primeiros embarques. Outros, como Filipinas, receberam etapas do projeto Brazilian Beef e consolidaram suas parcerias, conforme mostrou o Portal SNA.

Continuidade de agendas positivas no Sudeste Asiático
Em outubro, a passagem da comitiva presidencial por Malásia e Indonésia coincidiu com fóruns empresariais nos dois países, nos quais a Abiec se fez presente nas agendas de autoridades locais e brasileiras. Foi uma oportunidade rica em encontros, diálogos com importadores e divulgação do produto nacional. Entre janeiro e setembro de 2025, o comércio de carne bovina brasileira com a Indonésia e a Malásia apresentou forte expansão, consolidando ambos os países como mercados estratégicos no Sudeste Asiático.
Para a Indonésia, o Brasil exportou US$ 76 milhões e 17 mil toneladas, alta expressiva em relação a 2024, posicionando-se como o 3º principal fornecedor após Austrália e Índia. Já para a Malásia, as exportações brasileiras somaram US$ 46 milhões e mais de 15 mil toneladas até setembro, crescimento de 32% em valor e 15% em volume sobre o mesmo período do ano anterior. Ambos os mercados reconhecem o Brasil como fornecedor de carne bovina halal, segura e competitiva, com destaque para o avanço das habilitações e protocolos sanitários que ampliam o acesso a novos produtos e oportunidades comerciais na região
Coincidentemente, foi na Malásia que os presidentes de Brasil e Estados Unidos tiveram seu primeiro encontro, em meio à crise do tarifaço. O diálogo aumentou as expectativas de que as barreiras tarifárias americanas sejam flexibilizadas, o que traria alívio a segmentos impactados como o da carne. Enquanto isso, os esforços de divulgação e fechamento de negócios continuam. Cabe lembrar o sucesso da participação brasileira na Anuga 2025, maior feira de alimentos do mundo, realizada recentemente na Alemanha.






