Após um movimento de alta pela manhã, quando se aproximou dos R$ 4,95 na máxima do dia (R$ 4,9410), o dólar perdeu fôlego ao longo da tarde e chegou a operar pontualmente em baixa, registrando a mínima do dia a R$ 4,8900. No fim do dia, a moeda fechou cotada a R$ 4,8980 para a venda, em leve alta de 0,06%. Foi o quinto pregão de valorização da moeda americana nas seis primeiras sessões de agosto, o que eleva o ganho do mês para 3,55%.
Analistas atribuíram a reação do real ao longo da tarde a movimentos de ajustes de posições no mercado futuro, com realização parcial de lucros, em meio a inversão de tendência dos preços do petróleo no mercado internacional, após quedas de mais de 2% pela manhã. O vencimento outubro do Brent fechou em alta de 0,79%, diante de revisão para cima na projeção do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos para o preços da commodity no 2º semestre de 2023. Traders relataram também internalização de recursos por parte de exportadores pela manhã, estimulada pelo dólar acima de R$ 4,90.
O real, que caiu mais do que seus pares nos últimos dias, marcados por uma depreciação de divisas latino-americanas, hoje registrou o melhor desempenho entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes. No exterior, dados fracos da Balança Comercial chinesa em julho avivaram temores de desaceleração mais forte da economia global, deprimiram os preços de commodities metálicas e agrícolas e levaram a uma demanda pela moeda americana e pelos Treasuries, cujas taxas recuaram. Termômetro do desempenho do dólar em relação a seis divisas fortes, o Dólar Índice voltou a superar os 102.500 pontos, registrando uma máxima aos 102.796 pontos.
Por aqui, o movimento comprador foi, em parte, acentuado pela manhã com a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central, que reforçou a perspectiva de cortes seguidos da taxa básica em 0,50%. Uma ala dos analistas indica, contudo, que esse primeiro impacto provado pelo documento se dissipou ao longo da tarde, dado que o nível de juro real ainda seguirá elevado, potencialmente atraindo investidores.
Para o analista de câmbio sênior Elson Gusmão, da corretora Ourominas, a ata do COPOM não representou papel relevante na formação da taxa de câmbio hoje.
Tirando o ambiente externo de pouco apetite por risco, o mercado parece mais atento, segundo ele, aos ruídos em torno da aprovação final do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, cujo adiamento pode sustentar um dólar mais alto no curto prazo. “Mas a tendência ainda é de queda do dólar. Temos juros ainda altos e o investidor estrangeiro pode voltar a trazer recursos para a bolsa”, disse Gusmão.
Em sua ata, o COPOM repetiu a mensagem de que vai manter “uma política monetária contracionista” para promover a ancoragem das expectativas, que vê ainda como parcial, e levar a inflação para a meta de 2%. Os membros do COPOM, segundo o documento, “unanimemente, anteveem a redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”, em referência a cortes de 0,50%. Esse ritmo seria o “apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. Há a ponderação de que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária.