O dólar fechou em forte queda nesta quinta-feira, na menor cotação em quase três meses, reagindo à notícia de suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) na operação Lava Jato envolvendo a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dólar comercial fechou em baixa de 2,20%, cotado a R$ 3,8012 para compra e a R$ 3,8022 para venda, após atingir R$ 3,7767 na mínima do dia.
Trata-se da menor cotação de fechamento desde 10 de dezembro, quando a moeda norte-americana fechou a R$ 3,8005. Nas últimas três sessões, o dólar acumulou uma queda de 5,03%.
“Está crescendo no mercado a aposta de que Dilma não vai terminar seu mandato”, disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta. Ele ressaltou, porém, que o quadro é bastante incerto e eventual impeachment pode dificultar o reequilíbrio da economia.
Reportagem da revista IstoÉ mostrou que o senador Delcídio, ex-líder do governo no Senado, teria feito acordo de delação premiada citando Dilma e Lula, o que poderia aumentar as chances de afastamento da presidente.
Em comunicado, Delcídio disse não confirmar a reportagem e não conhecer a origem ou a autenticidade de documentos apresentados pela revista.
“Se a Lava Jato chegar ao Lula, é praticamente certo que o PT não volta ao governo nem em 2018 e isso significa que aumenta a chance de mudança no governo”, disse o operador de um banco internacional.
Outro foco importante foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de acatar por unanimidade denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que passa a ser réu em processo ligado à operação Lava Jato.
Operadores ressaltam que o acirramento das tensões com Cunha pode levá-lo a reagir com ataques ao governo. Por outro lado, eventual cassação do mandato do deputado pode arrefecer as tensões entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
Alguns analistas ponderaram que as turbulências políticas podem prejudicar ainda mais a situação brasileira e os movimentos do mercado podem estar sendo exagerados.
“(A notícia sobre Delcídio) prejudica ainda mais a atual governabilidade e pode adiar os ajustes fiscais necessários”, escreveram analistas do banco JPMorgan em nota a clientes.
A queda do dólar nesta sessão veio também da percepção de que o Banco Central não deve cortar os juros tão cedo, após o Comitê de Política Monetária (COPOM) manter a Selic em 14,25% em decisão dividida na noite passada.
A manutenção de juros elevados sustentaria a atratividade de ativos brasileiros, possivelmente atraindo capitais para o País.
Segundo pesquisa da Reuters, a alta recente do dólar parece estar perdendo força em meio às promessas de mais estímulo monetário pelos bancos centrais e sinais de estabilização nos mercados de commodities. Analistas esperam que o dólar seja cotado a R$ 4,015 em um mês, R$ 4,16 em seis meses e R$ 4,25 reais em 12 meses.
Nesta manhã, o BC promoveu mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em abril, vendendo a oferta total de 9.600 contratos. Ao todo, a autoridade monetária já rolou US$ 1.402 bilhão ou 14% do lote total de US$ 10.092 bilhões.
No mercado internacional, por volta da 17h35 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em baixa de 0,66% cotado aos 97,55 pontos, enquanto o euro estava em alta de 0,87%, cotado a US$ 1,0964.
Juros futuros curtos caem com ajuste de posições
Os contratos futuros de taxas de juros mais curtos fecharam em ligeira queda na BM&F, com o mercado ajustando as posições após a decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de manter a taxa Selic em 14,25%. O mercado discute quando deverá acontecer o próximo passo, o corte de juros. Já os contratos mais longos foram influenciados pelo cenário de menor aversão a risco no exterior e por notícias sobre a política local.
O DI janeiro/2017 recuou de 14,06% para 14,045%, enquanto o DI janeiro/2018 caiu de 14,33% para 14,27%.
O fato de a decisão do COPOM ontem não ter sido unânime e do Banco Central ter repetido praticamente o mesmo comunicado da reunião de janeiro reforçou a leitura no mercado de que não há espaço para um corte de juros no curto prazo. “O BC está procurando por uma oportunidade para cortar juros mais para frente neste ano [desde que a inflação anual caia suficiente]. No entanto, isso está longe de ser trivial e continuamos a esperar que a taxa de juros fique estável ao longo de 2016”, apontou a Nomura Secutiries em relatório.
O banco destaca que eventuais cortes poderiam ser introduzidos apenas no segundo semestre, com o BC inclinado a esperar pela desaceleração da inflação antes de agir.
O dado fraco do PIB é mais um elemento que reforça as apostas de que o BC pode cortar a taxa de juros ainda neste ano. A economia brasileira recuou 1,4% no 4º trimestre em relação ao terceiro e 5,9% em relação ao mesmo trimestre de 2014. Em todo o ano de 2015, a contração foi de 3,8% sobre o ano anterior.
Para o Itaú Unibanco, na medida que a inflação em 12 meses começar a cair e o cenário de recessão intensa em 2016 se consolidar, o COPOM iniciará um processo de redução de juros. O contexto internacional mais incerto, e a tendência mais expansionista da política monetária global, especialmente entre as economias avançadas, também reforçam este cenário. Itaú Unibanco espera uma taxa Selic a 12,75% ao fim deste ano, com três cortes de 0,50% a partir da reunião de agosto.
O maior risco para esse quadro, segundo o banco, seria uma depreciação mais intensa da taxa de câmbio (em função do risco fiscal), o que pressionaria a inflação. Por enquanto, o câmbio tem favorecido a inflação diante do ambiente de menor aversão a risco no exterior e das especulações em torno de certa elevação das chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff, alimentadas pelo avanço das investigações da Operação Lava-Jato.
Esse ambiente também tem favorecido a queda das taxas dos contratos de juros de longo prazo. Hoje o DI para janeiro de 2021 recuou de 15,3% para 15,01%.