Dependência de fertilizantes importados deve se manter a longo prazo

O mercado nacional importou 85% dos fertilizantes provenientes de outros mercados, com destaque para a China, a Rússia e o Canadá.Foto: Pixabay

Assunto importante no contexto agrícola nacional, a dependência brasileira de fertilizantes vindos de outros países já foi tema de matérias, reportagens e artigos no Portal SNA, como o abrangente e minucioso texto de Hélio Meirelles, diretor executivo da entidade. Considerando a pujança da cadeia produtiva do agro, é um forte contraste com a realidade de concorrentes diretos como EUA e China, únicos rivais que ainda superam o país na tonelagem colhida de grãos. Com as safras recordes, cresce a demanda por fertilizantes e adubos, sem que a indústria nacional desses insumos avance minimamente.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, em 2023 o Brasil produziu apenas 6,8 milhões de toneladas destes produtos, mas precisou de 45,8 milhões para abastecer as lavouras. Assim, o mercado nacional importou 85% dos fertilizantes provenientes de outros mercados, com destaque para a China, a Rússia e o Canadá. As compras internacionais somaram 42 milhões de toneladas, mantendo um pequeno estoque regulador no setor. A maior parte dessa carga entra pelos portos de Paranaguá e Antonina, no Paraná.

Esse dispêndio financeiro pesa no bolso dos produtores, que destinam praticamente um terço do custo de produção com adubos e fertilizantes, proporção que chega a ser maior quando se fala em soja e milho. Para 2024, os números não devem mudar. O Ministério do Desenvolvimento diz que o país já importou 18 milhões de toneladas dos insumos, tendência que deve se manter com o cultivo de verão e o plantio da safra de soja em setembro. Mesmo em anos de produção constante, a compra de fertilizantes e adubos aumenta, como atestam dados da CONAB: as importações avançaram quase 23% entre 2019 e 2023.

Apesar dos gastos, vantagens de produção local ainda são poucas

Mesmo assim, analistas de mercado e estudiosos da agricultura brasileira não creem numa mudança de cenário. Isso porque, ainda que alto, o custo de importar ainda é menor do que uma produção nacional mais significativa. O Brasil não possui jazidas consideráveis dos principais componentes químicos que compõem os fertilizantes usados aqui, a saber: nitrogênio, potássio e fósforo. Ademais, a extração e preparo industrial desses elementos, caso do nitrogênio, é cara e depende de uma logística de distribuição que o país não possui, além de ensejar elevada carga tributária sobre sua cadeia produtiva.

O potássio ainda é encontrado em quantidades ligeiramente maiores na Amazônia, mas entraves burocráticos para exploração em áreas protegidas. Além disso, a repercussão potencialmente negativa do ponto de vista ambiental pode afugentar investimentos. Ademais, estudos feitos estimam que o gasto seria infinitamente desproporcional ao resultado obtido, R$ 1 bilhão em investimentos a cada um milhão de tonelada produzida de potássio.

Situação semelhante se aplica ao fósforo, encontrado razoavelmente em Minas Gerais e Goiás. Por isso, a dependência de outros países deve continuar, apesar dos planos ousados do atual governo em produzir, até 2050,entre 45% e 50% dos adubos e fertilizantes nacionais para atendimento do agro brasileiro. Especialistas, no entanto, acreditam que essa meta é pouco realista, sobretudo pela pouca oferta de plantas industriais, hoje sob responsabilidade da Petrobras, para processamento dos insumos.

Essas fábricas estão hoje em: Três Lagoas (MS), que segue inacabada há quase uma década e que ainda precisa de recurso bilionário para ser finalizada; a de Araucária, no Paraná, que a companhia anunciou a retomada das operações em 2025, e as plantas em Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE). As que estão em funcionamento sofrem para manter as operações e acabam gerando prejuízo assimilado pela estatal.

Uma exceção, vinda do ramo privado, foi a inauguração, em março deste ano, do Complexo Mineroindustrial da EuroChem, em Serra do Salitre (MG), que vai produzir um milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano destinado, exclusivamente, ao mercado interno. O Paraná é o terceiro estado que mais consome fertilizantes com 13,7% do total importado. Perde apenas para o Mato Grosso com 16,6% e o Rio Grande do Sul com 15,7%.

Mas as preocupações também envolvem a segurança alimentar, pois caso algum problema ocorra com os fornecedores habituais do Brasil, a produção nacional pode ficar comprometida. Por isso, mesmo com a continuidade das importações, é necessário estipular metas concretas e factíveis de setor próprio de fertilizantes e adubos. Ademais, pode-se prospectar novos mercados que possam servir como fonte alternativa.

Mesmo com uma produção tímida, o Brasil também exporta fertilizantes e adubos. Neste ano, de janeiro a junho, foram 221 mil toneladas somando R$ 700 milhões. A maior parte das vendas vai para países vizinhos, como o Paraguai, que também não produz esses insumos.

 Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br
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