As exportações de nozes e castanhas, em agosto, sofreram uma importante queda de 34% em volume e 7,8% em valor em comparação a igual mês de 2015. No acumulado do ano, as reduções em volume chegaram a 28,5%, mas em contrapartida a quantia recebida teve leve alta de 1,8% sobre mesmo período do ano passado.
As informações fazem parte do relatório mensal do “Frutas, Castanhas, Nozes e Derivados Processados”, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) para avaliar o desempenho do setor no comércio externo, com base nos dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).
“A queda nas vendas externas de nozes e castanhas se deve, principalmente, à redução das exportações de castanhas do Pará com casca”, informa André Fernandes, gerente de Gestão de Inteligência de Mercado do Ibraf.
Ele acredita que nozes e castanhas, que têm maior valor unitário, foram substituídas por produtos mais econômicos, com cascas: “De maneira geral, as compras mais reduzidas destes produtos foram ocasionadas pela recessão mundial, que afetou os resultados”.
Na contramão da crise que atinge o Brasil e o resto do mundo, as vendas externas de preparados homogeneizados de frutas, que incluem as polpas/purês, alcançaram um resultado surpreendente em agosto, em relação ao mesmo mês de 2015: 77,5% em volume e 92,1% em valor. No acumulado de janeiro a agosto, também foi observada uma importante alta: 24,3% e 14,7%, respectivamente.
De acordo com Fernandes, os destaques em 2016 foram os doces, purês e pastas. “A maior parte é composta por polpas/purês semielaborados de goiaba, banana, manga e outras. Infelizmente, nosso País não exporta, de forma representativa, produtos desta categoria de maior valor agregado pronto para o consumo final”, comenta.
IMPORTAÇÕES
As importações de nozes e castanhas, também em agosto, caíram ainda mais: 51,7% em volume e 17% em valor, acumulando reduções de janeiro ao mês passado de 30,7% e 23%, respectivamente..
“Isto é reflexo, com destaque, para menor importação de castanha de caju com casca utilizada como matéria prima pelas indústrias beneficiadoras para complementarem suas demandas”, ressalta Fernandes.
Já as importações dos derivados de frutas homogeneizadas, no mês passado, superaram os resultados de agosto de 2015, ao registrarem alta de 43% em volume e 36,2% em valor. No acumulado, no entanto, houve uma retração destas compras: 23,9% em volume e 34,1% em valor.
“Isto também é reflexo da situação econômica recessiva e do mercado instável dos produtos desta categoria”, salienta o gerente do Ibraf.
CONGELADAS
“Exportamos muito pouco frutas congeladas. Até por causa da falta de incentivo neste mercado, as exportações caíram 35,8% em volume e 14,4% em valor, no mês de agosto de 2016, se comparado a igual mês do ano passado”, destaca Fernandes.
Apesar do resultado negativo, no acumulado, as vendas externas cresceram 9,2% em volume e um leve declínio em valor, comparando com igual período de 2015.
“No mês de agosto, o declínio foi devido à retração dos produtos classificados como outras frutas, excetuando as vermelhas. Já o acumulado, por causa destes mesmos itens, indica um aumento das exportações”, comenta.
Se o Brasil vendeu pouco para o mercado externo, o mesmo não ocorreu com as importações de frutas congeladas. O segmento registrou alta de 187,7% em volume e 135 % em valor, em agosto sobre o mesmo mês de 2015.
No acumulado de oito meses, as importações aumentaram 3,8% em volume, mas caíram 4,5% em valor em relação a igual período de 2015.
“O desempenho se deve ao crescimento das importações de morangos congelados e de outras frutas congeladas vindas da China e do Chile. Normalmente, as importações se referem ao morango 3X1 de açúcar, adquirido principalmente pelas indústrias lácteas e de conservas”, salienta Fernandes.
EM CONSERVA
Conforme relatório do Ibraf, as exportações de frutas em conserva cresceram 57% em volume e 56,6% em valor, no mês passado. No acumulado de janeiro a agosto, as vendas externas tiveram importante aumento: 71% e 35,7%, respectivamente.
“Isto é reflexo, principalmente, do aumento das exportações de preparações de amendoim e das preparações de abacaxi. A crise internacional de suprimento tem estimulado as exportações dos preparados conservados de abacaxi, assim como outros derivados”, comenta o gerente do Instituto Brasileiro de Frutas.
Já as importações de preparados de frutas em conserva caíram em agosto: 54% em volume e 49,4% em valor, acumulando redução, respectivamente, de 50% e 44 %.
“Este desempenho é reflexo da retração de mercado dos produtos desta categoria no Brasil, devido à recessão econômica.”
FRESCAS
As exportações de frutas frescas declinaram 3% em volume, mas cresceram 4,4% em valor, em agosto deste ano em comparação a igual mês de 2015. No período de oito meses de 2016, as vendas externas também sofreram retração de 5,1% em volume e 2,6% em valor, sobre o mesmo período do ano passado.
“Isto foi reflexo, principalmente, da queda das exportações de melões, mamões e limão Taiti. No acumulado, fundamentalmente, as ‘vilãs’ foram as maçãs. O relativo aumento das exportações de melancia, laranjas e bananas não foi suficiente para reverter a tendência de declínio”, avalia Fernandes.
As importações de frutas frescas em agosto, por sua vez, aumentaram 50% em volume e 42,4% em valor, acumulando alta de 34,4% e 0,3%, respectivamente.
De acordo com o gerente de Inteligência de Mercado do Ibraf, no que se se refere à valorização do conjunto das frutas importadas no mês de agosto, as aquisições foram feitas a preços médios de 978 dólares por tonelada contra US$ 1.028 por tonelada (2015). No acumulado do ano, o valor médio das frutas compradas foi de US$ 1.037/t contra US$ 1.069/t em igual período de 2015.
“Observamos que o bom desempenho se deve às importações de maçãs frescas para atender à demanda interna brasileira insatisfeita, devido à quebra da safra brasileira de 2016. Nas demais frutas, tradicionalmente importadas – como as peras, os pêssegos e as nectarinas – houve retração das compras, de modo geral, provocada pela recessão econômica que estamos experimentando”, analisa Fernandes.
“Curiosamente, diante do atual panorama de recessão, é difícil entendermos como ocorreu um aumento das importações de quiwi, que é uma fruta mais cara (US$ 1360/t FOB). Provavelmente, a fruta foi adquirida por consumidores com paladar mais sofisticado.”
SUCOS
De acordo com relatório do Ibraf, as exportações de sucos de frutas evoluíram em agosto, de forma atípica: 199,8% em volume e 92,9% em valor, capitaneadas fundamentalmente pelas transações dos FCOJ e os NFC. Vale ressaltar que as siglas se referem ao suco de laranja concentrado congelado (Frozen Concentrate Orange Juice – FCOJ) e suco refrigerado (Not From Concentrate – NFC).
No acumulado janeiro a agosto, dados mostram alta de 15,6% em volume, se comparado ao mesmo período de 2015. “Contudo, em valor, as exportações sofreram queda de 0,2%. O comportamento anômalo dos sucos, em agosto, foi reflexo de maiores transações do FCOJ, assim como do NFC em relação a agosto do ano passado”, relata Fernandes.
Segundo ele, alguns analistas internacionais não acreditam em elevação, propriamente dita, das vendas em um mercado retraído, “mas como sendo uma tomada de posição dos exportadores de transferir parte de seus estoques para seus terminais europeus, até porque o custo de armazenamento é menor”.
“Apesar de eclipsados pelos grandes volumes referentes aos sucos de laranja, merecem destaques as expansões dos sucos concentrados de abacaxi, maçã e uva. Os exportadores de suco concentrado de abacaxi estão aproveitando as oportunidades, que o mercado internacional está oferecendo, devido às restrições de oferta.”
ANÁLISE GERAL
Fernandes acredita que o desempenho do comércio exterior das frutas frescas castanhas e nozes e frutas processadas, em agosto e no acumulado de 2016, de modo geral, foram positivos para o setor de castanhas e nozes, derivados de frutas homogeneizadas, frutas conservadas transitoriamente e sucos de frutas.
“As exportações de frutas frescas, com as importações suplantando nossos embarques, tanto no mês de agosto, quanto no acumulado de janeiro a agosto de 2016, continuam causando decepção.”
Conforme o gerente do Ibraf, algumas justificativas explicam o declínio das vendas externas, com destaque para as de origem climática, “que vem prejudicando cultivos importantíssimos, como o de melão, mamão e, de forma gritante, a maçã, neste ano”.
“Estes problemas climáticos têm sido recorrentes, exigindo estudos e pesquisas para determinarmos até que ponto são consequências de mudanças climáticas devido ao aquecimento global.”
Para Fernandes, “parte da queda das exportações deve ser creditada à baixa qualidade, à recuperação de preços no mercado interno, à tendência de valorização cambial do real e de outros fatores decorrentes de alguns aspectos da política fiscal e econômica”. “Mas não podemos nos furtar de reconhecer que o aumento das exportações, principalmente de frutas frescas, exige acesso a novos mercados, até porque os mercados atuais de destino das nossas frutas estão estáveis”.
Segundo o gerente do Ibraf, “os mercados emergentes para a fruticultura nacional são exigentes e os acordos fitossanitários e de livre comércio com eles devem ser feitos sem paternalismo e regionalismo”.
“A nova dinâmica do comércio das frutas, em todo o mundo, exige extrema competência e comprometimento. Por isto, é importante continuar insistindo que o futuro das exportações brasileiras neste setor também depende da oferta de uma cesta de frutas com maior valor unitário médio em relação à nossa oferta atual.”
Por equipe SNA/RJ