Os investimentos de produtores e cooperativas em infraestrutura de armazenagem no Brasil aumentaram nos últimos anos. Uma parcela do orçamento da safra desses trabalhadores é destinada a melhorias no setor. Essa constatação, divulgada por analistas do agro, também tem favorecido a indústria da armazenagem, que procura aprimorar tecnologias para garantir mais eficiência.
O diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Paulo Protásio visualiza de forma positiva os investimentos particulares, também levando em consideração a destinação de recursos do governo. “É isso que está fazendo o diferencial. Gera vantagem competitiva. Argentina e Canadá, por exemplo, que são bem menores que o Brasil, e dão um banho no país em matéria de armazenagem. Temos de melhorar”.
Na avaliação de Protásio, a armazenagem é uma das etapas importantes dentro da logística, mas ainda não foi valorizada. “A armazenagem colabora com a demanda do mercado, ao equilibrar as oscilações dos estoques entre as colheitas, a fim de evitar a escassez de alimentos, garantindo continuidade à cadeia de suprimentos. Seu papel tende a crescer graças à elevação da importância de sua cadeia”, ressaltou.
De acordo com o cenário atual, as perdas médias de grãos no Brasil, estimadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Conab e FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) são superiores a 10% do total produzido anualmente. “Isso representou cerca de 12 milhões de toneladas no ano passado, porém, a soma com as perdas em qualidade pode elevar mais ainda esse percentual, uma vez que comprometem o uso do grão ou o classificam para uso com menor valor”, observou o diretor da SNA.
Cooperativas
O coordenador agropecuário da Organização das Cooperativas Brasileira (OCB), Paulo Cezar Dias, em recente declaração ao Canal Rural, afirmou que as cooperativas estão investindo muito na modernização e ampliação nas estruturas de armazenagem. Dados da OCB apontam que as cooperativas são responsáveis por 25% da capacidade estática de armazenagem do país – índice que corresponde a 35 milhões de toneladas. Já os investimentos alcançam, em média, R$ 600 milhões.
Tecnologia e novas visões
Em relação a possíveis avanços no setor, o diretor da SNA defendeu o uso de tecnologias. “Inovação e incorporação de tecnologias de informação e comunicação se mostram necessárias no momento presente, especialmente aquelas que tratam do futuro. É preciso ter novas visões”, salientou Protásio, acrescentando que “as deficiências da rede de armazenagem aumentam a fragilidade do sistema logístico e dificultam o aproveitamento das vantagens do transporte intermodal, comprometendo a renda do produtor”.
Gargalos
Outro problema apontado pelo diretor da SNA se refere à desigualdade na distribuição espacial dos recursos de armazenagem. “Enquanto as regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste concentram 92% da capacidade estática, as regiões Norte e Nordeste são extremamente carentes dessa infraestrutura”, declarou Protásio. “Mesmo nas regiões mais bem aparelhadas, há necessidade de expansão da capacidade de armazenagem, porque as projeções apontam para o fato de que até 2023 a produção dos grãos em apreço, mais café e açúcar, deverá praticamente dobrar, chegando a 292,3 milhões de toneladas”, completou.
Além da carência de instalações, a armazenagem no país enfrenta também a deficiência da defasagem técnica, incluindo a incompatibilidade do equipamento armazenador com as condições climáticas locais e com as especificidades de cada produto. “Muitos armazéns são antigos, e o cenário atual é de necessidade cada vez maior de segregação de produtos, seja pela entrada dos transgênicos, seja pela crescente diversificação da qualidade do mesmo grão, com forte influência no preço de mercado, ou seja, um número crescente de exigências de certificação de produtos mais resistentes e de melhor desempenho impõe uma nova estrutura”, declarou o diretor da SNA.
Por outro lado, Protásio lembrou que a recente aquisição, por parte do Ministério de Meio Ambiente, da base de imagem a ser utilizada para a construção do Cadastro Ambiental Rural (CAR), vai permitir a criação de condições mais atualizadas para uma ação específica do setor transporte e armazenagem.
Além disso, o diretor defendeu a adoção de medidas mais pontuais, entre elas, o incentivo à construção de armazéns com recursos públicos para elevar a capacidade estática em nível de fazenda; a construção de armazéns fora das propriedades rurais; definição de critérios para a liberação de recursos (também para tornar o processo mais ágil); o condicionamento de créditos oficiais aos armazéns certificados, e a criação de uma linha de financiamento exclusiva para as empresas armazenadoras oficiais (federais e estaduais).
Déficit
De acordo com informação divulgada recentemente pelo Diário do Comércio e Indústria, com a intenção de cobrir o déficit do setor de armazenagem em quatro anos, o governo federal disponibilizou financiamentos de R$ 5 bilhões em 2013. Segundo a Kepler Weber – detentora de 50% dos sistemas de armazenagem do Brasil – cerca de R$ 4 bilhões do Plano Nacional de Armazenagem já foi investido. Entretanto, de acordo com analistas, ainda há uma grande defasagem no segmento, que pode ser suprida com a aquisição de equipamentos permanentes ou silos emergenciais, além de entraves relacionados ao licenciamento ambiental para a implantação dos projetos.
Por Equipe SNA/RJ