Na contramão da tendência geral observada na safra 2015/16, as aplicações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em programas e linhas de crédito rural voltadas a investimentos aumentaram mais de 10% e, a partir de uma esperada melhora no cenário econômico, tendem a registrar um novo salto na temporada 2016/17, que teve início no dia 1º de julho.
Como adiantou o Valor PRO, as aplicações do BNDES somaram R$ 15 bilhões no ciclo passado, 10,4% a mais do que em 2014/15 (R$ 13.6 bilhões). Com isso, de uma safra para outra cresceu de 35,5% para 55,6% a participação do banco de fomento nos desembolsos totais de crédito rural para investimentos no Brasil.
Segundo dados do Banco Central compilados pelo Ministério da Agricultura, os desembolsos de crédito rural do Plano Safra para investimentos, incluindo todas as fontes, caíram de R$ 38.3 bilhões, em 2014/15, para R$ 27 bilhões em 2015/16. Esse encolhimento geral foi creditado por especialistas às incertezas políticas e econômicas que marcaram o ano ¬safra encerrado em 30 de junho e limitaram a demanda de crédito rural a juros livres, superiores à taxa Selic.
“No nosso caso, o aumento das aplicações não foi uma surpresa, já que trabalhamos com linhas [com taxas de juros] equalizadas. E é sempre importante realizarmos tudo o que nos propusemos a realizar”, afirmou Ricardo Ramos, diretor da área de Operações Indiretas do BNDES, ao Valor. Segundo ele, o orçamento para esta safra 2016/17 prevê a aplicação de R$ 17.4 bilhões. Se todo o montante for desembolsado, o incremento em relação a 2016/17 será de 16%.
Entre os programas e linhas que contam com recursos do BNDES (ver infográfico), o que liderou as aplicações do banco foi, mais uma vez, o Moderfrota, voltado à aquisição de maquinário. Nessa frente, o montante atingiu R$ 4.1 bilhões em 2015/16, 5% mais que em 2014/15, e esse aumento foi garantido pela aceleração das contratações por parte dos produtores do País em maio.
No início daquele mês, a presidente afastada Dilma Rousseff e Kátia Abreu, então ministra da Agricultura, anunciaram o Plano Safra 2016/17 e confirmaram que os juros para a tomada de crédito rural subiriam no ciclo. No caso do Moderfrota, a alta foi de entre 7,5% e 9% para entre 8,5% e 10,5%. Daí a corrida dos produtores aos bancos, que só não rendeu frutos ainda mais polpudos porque os recursos acabaram em maio mesmo.
O orçamento do BNDES prevê a aplicação de R$ 4.7 bilhões no Moderfrota em 2016/17, e Ramos acredita que a demanda poderá ser maior. “Mas não são só os investimentos em máquinas que estão indo bem. Isso está acontecendo no conjunto das operações agrícolas. Temos registrado muita demanda para investimentos em inovação, agricultura de baixo carbono e em outros programas e linhas que confirmam o compromisso dos produtores – familiares, médios e grandes – com a evolução da produtividade”, disse o diretor.
Ricardo Ramos destacou que foram realizadas cerca de 100 mil operações de crédito rural com os recursos do BNDES para investimentos no campo na safra 2015/16. Esse total foi liberado por 34 agentes financeiros, incluindo bancos públicos e privados e cooperativas de crédito, e o Banco do Brasil foi o maior repassador, com uma participação de 15% no valor total registrado.
Fonte: Valor Econômico