Chuvas assustam, mas clima em MT volta a favorecer soja e milho

As chuvas intensas em Mato Grosso na semana passada tiraram o sono de produtores de soja e milho, mas tudo indica que foi apenas um susto. As perspectivas para a produtividade dos grãos de verão que estão sendo colhidos no Estado permanecem otimistas, e o plantio do milho safrinha deverá ganhar fôlego até o fim deste mês, dentro da “janela” climática considerada ideal.

Se tudo correr como as previsões meteorológicas sinalizam, tanto a colheita da soja quanto a semeadura da segunda safra do milho estarão concluídas nas próximas semanas. “Não teremos mais problemas com a colheita”, disse Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da consultoria Rural Clima. Segundo ele, a partir de hoje o clima ficará mais estável, apenas com as pancadas de chuva normais para o período. “Voltaremos à condição que estávamos observando há um mês. Isso deverá durar pelo menos três semanas”.

No último dia 12, chuvas intensas castigaram a região oeste de Mato Grosso, Estado que lidera a produção nacional de grãos, e algumas lavouras foram inundadas. O sinal de alerta soou, mas as perdas foram pontuais. “Lavouras de milho ficaram embaixo de um metro e meio de água. Coisa assustadora. Mas a água baixou e já sumiu completamente, mostrando que as perdas foram bem menores que o inicialmente esperado”, disse Giovana Velke, presidente do sindicato rural de Campo Novo do Parecis. No município, a colheita de soja e o plantio de milho safrinha pouco evoluíram na semana passada. Mas, mesmo assim, as perdas foram relativamente pequenas. De acordo com Giovana, não houve relatos de perdas significativas na soja.

Mas houve atrasos. Segundo dados divulgados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a colheita de soja avançou apenas 6,15% na semana passada, chegando a 51,9% da área plantada estimada de 9.4 milhões de hectares no ciclo 2016/17, para um volume estimado de 30.5 milhões de toneladas, 9,6% maior que o de 2015/16. Na semana anterior, quando o clima havia sido mais camarada, a colheita havia registrado um incremento de 15,16%.

“As chuvas provocaram perdas pontuais, mais concentradas no oeste de Mato Grosso, onde a safra está mais adiantada [caso de Campo Novo do Parecis]”, disse Endrigo Dalcin, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

Para Daniel Latorraca Ferreira, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea/Famato), de maneira geral a antecipação do plantio no ciclo 2016/17 compensou o atraso da colheita na semana passada. “O adiantamento foi muito grande e produtividade está maior que na temporada passada. A chuva até segura um pouco o grande avanço que a gente esperava, mas não a ponto de prejudicar de maneira geral o Estado”, disse.

Arlindo Moura, presidente da Terra Santa, uma das maiores companhias de grãos e fibras do País, afirma que, nas fazendas da empresa, 58% da soja havia sido colhida na semana passada, com produtividade acima de 60 sacas por hectare. “A chuva atrapalha, a gente não consegue ficar com as máquinas mais de cinco horas por dia na lavoura, mas a colheita está seguindo com ótima produtividade”.

No Estado do Paraná, segundo maior produtor de grãos do País, a situação é um pouco diferente. Há um atraso nos trabalhos, decorrente do alongamento do ciclo de desenvolvimento da soja. “A colheita está um pouco atrasada, porque houve um período de frio mais intenso em novembro e dezembro. Isso é atípico. Estamos com 15% [do volume esperado] colhido. No mesmo período da safra passada, o percentual superava 40%”, disse Edmar Gervásio, economista do Departamento de Economia Rural do Estado (Deral).

Segundo ele, isso não deve afetar a produção paranaense de soja nesta safra 2016/17, estimada pelo Deral em 18.3 milhões de toneladas, 11% mais que em 2015/16. Mas a de milho poderá ser afetada. “A preocupação é com o milho. Vai acabar havendo um afunilamento, um grande número de lavouras plantadas numa mesma época. Essa concentração nunca é boa, porque aumenta o risco de termos uma condição climática adversa que prejudique uma parte maior da lavoura”, disse.

Até o momento, portanto, não há nada no radar que ameace as previsões de safras recorde tanto de soja quanto de milho nesta temporada. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou que a colheita da oleaginosa somará 103.8 milhões de toneladas em 2016/17 no País, um aumento de 10,6% em relação ao último ciclo, e que a do cereal, a mais prejudicada pelas adversidades climáticas provocadas pelo fenômeno El Niño em 2015/16, atingirá 84.5 milhões de toneladas, incremento de 31,4% na comparação.
Fonte: Valor

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