Sinop pode ser o primeiro município brasileiro movido predominantemente por biocombustíveis? Sinop, pode se transformar na principal sede do debate amazônico? Como mandar uma mensagem ao Brasil e ao mundo que a cidade aceita o desafio de ajustar sua realidade urbana e rural como um exemplo global de desenvolvimento sustentável pleno?
O que precisa ser feito? Quais Soluções Baseadas na Natureza (SBNs) podem ser propostas para credenciar Sinop como modelo global de desenvolvimento economicamente auspicioso, socialmente justo e ambientalmente sustentado? Sinop, pode liderar uma revolução e na economia circular através do uso de placas de poliuretano vegetal (desenvolvido a partir do óleo de soja) na construção civil?
Qual o potencial de crescimento do PIB municipal que esta visão de planejamento da Bioeconomia é capaz de gerar? Quantos empregos novos e dignos podem ser criados? Estamos preparando a capacitação de jovens para as necessidades de um mercado que mal conhecemos ainda? Conseguimos enxergar a dimensão do volume de riqueza que pode ser acrescentado aos setores da indústria, do comercio, do turismo receptivo, dos projetos imobiliários, da promoção de eventos que a ousadia de conceber uma visão de futuro atrelada às mais modernas tendências já praticadas nas Nações mais desenvolvidas do Planeta?
A parceria Fórum do Futuro/Sinop já começa a desenhar um sentimento de esperança num mundo melhor para pessoas e para o Planeta. Não é pouco. Sim, tivemos estadistas do porte de Juscelino Kubitscheck e Alysson Paolinelli, que juntos modernizaram o País através da interiorização do desenvolvimento. Mas, desaprendemos a pensar. E pensar, juntos, como explorar a imensa janela de oportunidades que a História abre sobre nós.
As principais cidades do mundo já se organizam para reduzir o impacto do aquecimento global programando um forte incremento na relação habitante/árvore no centro urbano: Sinop pode fazer o mesmo? Pode se transformar no primeiro município brasileiro sem fome, aproveitando conhecimento e tecnologia para demonstrar que a Amazônia é capaz de deixar de ser a região brasileira recordista em miséria?
Fundador do Fórum do Futuro, o Ex-Ministro Alysson Paolinelli idealizou a criação dos Polos Demonstrativos da Bioeconomia Tropical Sustentável, Inclusiva e Saudável considerando os seguintes cenários:
a) O Brasil possui a mais avançada Ciência Tropical do mundo, mas existe um abismo entre o que acumulou de conhecimentos – em especial no caso da Amazônia – e aquilo que efetivamente aplicado na realidade dos territórios onde operam os usuários finais, sejam produtores ou empresas, de todos os tamanhos.
b) Estudo da Embrapa aponta a existência de 4.5 milhões de endereços agrícolas no País sem acesso a conhecimentos de gestão e de Ciência. Na zona tropical global, são dezenas de milhões de produtores excluídos.
c) A ideia de desenvolver modelos de gestão e de inclusão social e tecnológica num Polo que demonstre de maneira cabal e incontornável que o mundo tropical é fonte de soluções, não de problemas. “Produtor copia o que dá certo há dez mil anos”, argumentava Alysson, atraindo o Banco Mundial e FAO para a necessidade de desenvolver modelos que comprovem o grau de produtividade e de sustentabilidade do que temos a oferecer.
E, nesse sentido, a Embrapa sugeriu que o primeiro exercício prático de aterrissagem fosse o Polo Digital, que a atual Presidente da Instituição, Silvia Massruhá concebeu quando ainda era Chefe-Geral da unidade Embrapa Informática e participou da comitiva de Alysson Paolinelli que foi a Rondônia, no final de 2021 apresentar essa proposta.
A síntese dos desafios foi feita a seguir por Roberto Rodrigues: insegurança climática e energética; mudanças climáticas; desigualdade social.
O Fórum do Futuro acrescentou a perspectiva da Comunicação Estratégica como ferramenta indispensável para o dialogo com o consumidor final.
Tudo isto debatido e aprofundado na Rede de Conhecimento do Fórum do Futuro há 11 anos, com a participação da nata da inteligência estratégica brasileira.
É com esse histórico que chegamos a Sinop para finalizar a estratégia de gestão de complexidade imensas, mas a bordo de um trunfo espetacular: antes de completar 8 meses de interação e de construção colaborativa da visão de futuro, Sinop já é o Polo Agrícola onde a aproximação entre a capacidade científica e empresarial disponível no Brasil está mais próxima de materializar exemplos de modelos de gestão aplicáveis na realidade onde operam os atores.
A proposta do Polo Demonstrativo Global da Bioeconomia Sustentável, Inclusiva e Saudável traz em si uma potente contribuição: referenciado em Ciência, os primeiros eventos naturalmente serão na área cientifica, articulando as entidades locais (Embrapa, Universidades Federal e Estadual do Mato Grosso e Instituto Técnico Federal) aos parceiros acadêmicos nacionais e internacionais do Projeto.
Transformar Sinop no principal centro de debates das soluções sustentáveis para biomas similares ao da Amazônia em todo mundo é um desafio gigante, mas factível. É o primeiro elo de união entre os interesses dos diversos atores: todos – os mundos rural, urbano e científico – se beneficiam.
Importante destacar: nosso foco é desenvolver modelos que comprovem a viabilidade dos projetos, que acelerem a velocidade da aterrissagem de inovações e processos na vida real de produtores, empresas e dos habitantes da região. A proposta é fazer com que os modelos influenciem diretamente as agendas de Agências de Fomento (Banco Mundial e FAO); das Universidades no Brasil e fora dele; no desenvolvimento de “Sciences Policies”, o conjunto organizado de orientações de políticas públicas e privadas que possam inspirar gestores, stakeholders, líderes culturais e políticos.
Demonstrar que ONGs e representantes da juventude podem contribuir na formatação de modelos replicáveis sem comprometer seus respetivos compromissos conceituais é essencial.
O Fórum do Futuro não trabalha em agendas do presente onde atuam os governos e um sem número de organizações públicas e privadas. Reconhecemos a importância do curto prazo, mas escolhemos o foco na perspectiva futura. A imensa maioria das instituições já trabalha nos desafios do presente. Além disso, a polarização e a fragmentação do debate contribuíram soterraram os espaços de reflexão e planejamento.
O fenômeno de perda da capacidade da Ciência influenciar a sociedade não é uma exclusividade brasileira. É global. E assim muito dos fundamentos originais dos conceitos de desenvolvimento sustentável instituídos pela ONU, em 1987, sairam de cena. Naquele ano foi divulgado o Relatório Brundtland, intitulado “Nosso Futuro Comum”, produzido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (1988), que popularizou a expressão “desenvolvimento sustentável” e sua definição.
Era tudo muito simples, direto e tangível. Com papéis claros para os atores. Hoje, o que era fácil compreender e assimilar, tornou-se num emaranhado de interesses que misturam oportunismo e ideologias numa pauta quase sempre associada à disputa pelos espaços políticos de poder.
O “Relatório Brundtland” (cuja redação foi liderada pela então primeira ministra da Noruega, Gro Harelem Bruteland) indicava que a pobreza dos países do terceiro mundo e dos países do primeiro eram as causas fundamentais que impediam um desenvolvimento igualitário produziam graves crises ambientais. Não mudou muito. Os principais emissores de gases de efeito estufa são EUA e China e a miséria está fortemente concentrada no mundo tropical.
Então, como conciliar o aumento da produção de riquezas com o impacto mínimo do processo produtivo sobre a natureza e gerar inclusão social, tecnológica e qualidade de vida e de oportunidades para todos e ainda por cima enfrentar o desafio climático?
Ora, não é outra a agenda dos Mestres criadores do Fórum do Futuro. O Fórum não tem a pretensão de substituir a governança política da sociedade, nem pela ótica pública, muito menos pela privada. Nossa contribuição é demonstrar através de modelos práticos que aquele sonho do “Desenvolvimento Sustentável” do Relatório Brundtland não é utopia. É método. De gestão do próprio futuro. É método de comunicação, de Planejamento e desenho da estratégia.
Operar sinergias e convergências e torno de uma causa comum é a nossa tarefa maior.
Os modelos podem irrigar os debates sobre a aterrissagem do conhecimento em toda a esfera amazônica latino-americana e na África Meridional. Podem ser uma amostra demonstrativa de inserção de uma determinada tecnologia num grupo de dez fazendas; numa única escola que possa receber o conceito de introdução da visão científica na análise dos problemas da realidade de alunos e professores (inclui a questão de como o Agro é traduzido no ensino público) ou ainda o conhecimento compartilhado de como são conduzidos Programas de cidades globais que escolheram a agenda da construção de um “Destino Turístico Inteligente”.
O segredo fundamental: a percepção dos envolvidos que todos sairão ganhando: pequenos, médios e grandes produtores e empresas; comunidades excluídas; sociedade civil; comunidades hoje excluídas; agências de fomento, que muitas vezes investem pesado na busca dos mesmos objetivos sem alcançar os resultados desejados. Ganham os cientistas que terão a oportunidade de produzir sentido social e econômico para a aplicação prática do conhecimento. Ganham o Brasil e o Planeta, na medida em que a partir de Sinop podemos, sim, iluminar um novo caminho, uma nova rota para uma humanidade em busca desesperada por novas alternativas.
Não é “Projeto”, é “Processo”.
Nesta fase estamos conhecendo as demandas, as problemáticas e a visão dos que fazem a vida girar em Sinop. Do nosso lado, vamos apresentar o cardápio de oportunidades. E, seguida, vamos escolher juntos aquilo que é prioridade, o por onde começar. O caminho visa a construção da confiança, da segurança de estarmos juntos, na mesma página do futuro que queremos na visão de “Sinop, 2040: uma referência global do desenvolvimento sustentável para os povos tropicais.
Por Cesar Borges de Sousa – CEO do Instituto Fórum do Futuro
• Presidente da Rede Soja Sustentável
• Presidente do Instituto Soja Livre
• CEO da EDB – Desenvolvedora das Casas de Soja
• Sócio e membro do Conselho Deliberativo da Caramuru Alimentos
Edição de texto e imagem: Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290)