
Reconhecimento é vitória histórica do setor agropecuário
A visita de Estado da comitiva presidencial brasileira à França na semana passada rendeu um momento muito aguardado para o agronegócio brasileiro. O país recebeu, em cerimônia solene, o certificado de país livre da febre aftosa sem necessidade de vacinação, outorgado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), com sede em Paris. A entrega do documento, feita pela diretora da instituição, Emmanuelle Soubeyran, ocorreu em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Os dois defenderam a confiabilidade do sistema sanitário brasileiro e destacaram as oportunidades que o novo status traz para a pecuária nacional.
Num ano em que mercados mais resistentes à proteína animal brasileira estão cedendo aos esforços de produtores e autoridades, esse reconhecimento cacifa o segmento nacional a buscar ainda mais destinos para seus produtos. Há poucos meses, visitas estratégicas ao Japão e ao Vietnã também conseguiram convencer os anfitriões a aceitarem a carne do Brasil gradualmente.
Em seu pronunciamento, o Ministro Fávaro disse: “A partir de hoje o Brasil entra para o rol dos melhores países do mundo com relação à sanidade animal. São mais de 60 anos que o Brasil enfrenta essa doença, com campanhas, parcerias com a iniciativa privada, estados, municípios e países vizinhos. Essa conquista reforça a necessidade de ampliação de investimentos e dedicação, para que a febre não volte”.
A delegação contou com representantes de diversas entidades de classe, entre os quais Ricardo Santin, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e Roberto Perosa, da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que já concedeu entrevista ao Portal SNA. Em sua opinião, o reconhecimento do país livre de aftosa sem vacinação deve incrementar as exportações, principalmente de cortes pouco consumidos no Brasil, como partes do dianteiro dos bovinos e miúdos. O movimento ajuda a equilibrar as margens não tão altas dos frigoríficos e a manter os preços da proteína mais atrativos internamente.
Ele também destacou que representantes japoneses chegam ao Brasil ainda em junho para inspecionar cadeias produtivas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O foco agora é a Coreia do Sul, um dos poucos mercados ainda fechados para a proteína animal brasileira. Com o reconhecimento da OMSA para o país inteiro, o setor está confiante, já que os coreanos recebiam embarques esporádicos apenas de Santa Catarina, que obteve o status sanitário em 2007.
As declarações de Perosa foram dadas ao jornal Valor.
Acordo entre MERCOSUL e União Europeia
A viagem também serviu para que as autoridades brasileiras e empresários da comitiva manifestassem apoio ao acordo comercial entre MERCOSUL e União Europeia, aprovado no fim do ano passado, mas que ainda precisa de homologação e implementação nos países de cada bloco. O Presidente Emmanuel Macron voltou a fazer ressalvas aos termos pactuados, demonstrando preocupação com um possível impacto negativo para os agricultores franceses.
O presidente Lula afirmou a Macron sua disposição em conversar com setores específicos do agronegócio francês, de modo a dirimir dúvidas ou temores que ainda pairem sobre o acordo. Ele lembrou que ajustes sempre são necessários, porém após tantos anos de negociação, é necessário aproveitar a conjuntura favorável e o momento geopolítico, algo que os empresários da comitiva também defenderam. Lula ainda disse que, ao assumir a presidência rotativa do MERCOSUL em julho, não deixará de finalizar o acordo em até seis meses, período em que o Brasil comandará o bloco.

Ainda no quesito sanitário: gripe aviária sob controle
Ainda no quesito sanitário, mas antes de embarcar para a França com a comitiva, o ministro Fávaro se disse otimista quanto à bem sucedida resposta brasileira ao foco de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial na cidade gaúcha de Montenegro. Ele estima que em 18 de junho se encerre o prazo exigido pela OMSA sem novas ocorrências, e as exportações de carne de frango e de ovos devem ser retomadas. No momento, há oito casos da influenza aviária em investigação, mas todos em aves silvestres.
No total, 21 países ou blocos suspenderam integralmente a compra de itens avícolas do Brasil, sendo que outros 17 interromperam a importação do Rio Grande do Sul e quatro deixaram de adquirir somente de Montenegro. Segundo Fávaro, as tratativas com parceiros comerciais para a retomada dos embarques estão em andamento, incluindo aqueles de grande volume, como China e União Europeia. O aumento da oferta interna durante esse período causou uma leve queda nos preços da carne de frango, da ordem de 7%.
Conforme o Portal SNA acompanhou, a atuação conjunta de produtores, autoridades e entidades garantiu uma resposta rápida ao caso e danos mínimos se comparados a outros países em que a doença saiu do controle, por falta de transparência e coordenação. Isso demonstrou a coesão das cadeias produtivas brasileiras e fortaleceu a imagem do país no quesito da segurança sanitária, algo que a OMSA agora reconhece com o certificado entregue em Paris.
Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Com informações complementares da Abiec, ABPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério das Relações Exteriores.