O Brasil foi destaque entre os BRICS (grupo formado também por Rússia, Índia e China) na BIO 2013, maior convenção do setor, encerrada no final do mês passado (25/04), em Chicago (EUA). O país foi representado por 53 empresas integrantes do Projeto Setorial de Internacionalização da Biotecnologia Brasileira Brasil Biotechnology, desenvolvido pela Fundação BIO-RIO em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O resultado da participação foram cerca de 350 contatos entre os participantes brasileiros e empresas, entidades governamentais e universidades dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia, que podem gerar novos negócios e intercâmbios tecnológicos– sobretudo no setor de saúde. A expectativa é de uma geração de negócios em torno de US$ 280 milhões.
Em destaque na publicação World View, A Global Biotechnology Perspective, da revista Scientific American, a expansão da biotecnologia brasileira no mercado externo – sob a marca Brasil Biotechnology – foi evidenciada pelos mais de 2 mil visitantes que o pavilhão brasileiro na BIO 2013 recebeu, entre autoridades, cientistas e executivos estrangeiros interessados em articular pesquisas, acordos e negócios. “A maior procura de investidores do exterior retrata a valorização do nosso potencial biotecnológico”, afirma Kátia Aguiar, coordenadora do projeto.
Para Arnaldo Varella, gestor do projeto – que congrega empresas, instituições de pesquisa e entidades públicas sob a marca setorial Brasil Biotechnology –, a participação na BIO 2013 vai ao encontro da relevância crescente do país em escala mundial: “Não só pelo tamanho da delegação, a maior dos cinco anos em que participamos, mas pela integração das esferas pública e privada em torno da internacionalização da nossa biotecnologia”, diz.
A delegação brasileira reuniu 200 integrantes, entre profissionais de 53 empresas do setor de biotecnologia, 50 representantes de governo, acadêmicos, pesquisadores e consultores. Eles representam a conjugação de esforços e competências para consolidar a ampliação das fronteiras da biotecnologia nacional. “Estimulamos a integração de setores públicos, empresas e instituições científicas do Brasil e de outros países. Este ambiente da aproximação favorece o desenvolvimento de pesquisas e negócios, o que se traduz nas novas parcerias em vista. O Brasil já se torna uma referência mundial”, afirma Varella.
Saúde
Cerca de 70% dos encontros de negócios realizados pela comitiva brasileira na BIO concentram-se na área da saúde. Refletem, segundo o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, os investimentos feitos em inovação: “30% das pesquisas realizadas no país são voltadas para a saúde”, informa. O setor corresponde a 40% da bioeconomia nacional, calcula o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e, segundo Ricardo Mendes, da Prospectiva Consultoria, empresas de biotecnologia estrangeiras mostram-se inclinadas a exportar ou firmar convênios para atender às demandas do SUS.
Outro ponto que tem despertado grande interesse da comunidade internacional é o uso da biodiversidade brasileira nos processos farmacêuticos. “As empresas estrangeiras têm dúvidas sobre como utilizar extratos ou matérias-primas da flora brasileira sem desrespeitar a legislação”, observa Marco Aurélio Braga, do escritório especializado em direito econômico Braga & Carvalho. Ele foi procurado por empresários do Canadá, da Áustria e dos Estados Unidos interessados em assessoria para investimentos nos setores de saúde e agronegócios.
De acordo com o consultor, questões referentes a regulação e propriedade intelectual tornam-se preponderantes, na medida em que o mundo abre os olhos para a biotecnologia verde-amarela. “O Brasil passou a receber atenção de empresas de biotecnologia dos Estados Unidos e da Europa. Estes empresários buscam informações sobre propriedade intelectual, mas principalmente sobre a regulação sanitária do setor”, diz Braga.
O peso crescente do Brasil no cenário mundial é indicado também pelo prestígio conquistado na principal convenção da área. O país foi tema de uma tarde de painéis dedicados a mostrar a força da biotecnologia brasileira. Participaram desde cientistas e profissionais de companhias farmacêuticas até representantes de entidades governamentais, como o secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Fujimoto; o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano; o secretário de Saúde do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha; o vice-presidente da Fiocruz, Jorge Bermudez; o coordenador de Biotecnologia do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Henrique Canto; o secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Gustavo Tutuca Reis; e o secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, Glauco Ivo.
O reconhecimento internacional rende também novos espaços no mapa da biotecnologia global. A missão brasileira em Chicago foi convidada a integrar, ainda neste ano, outras nove convenções do gênero, em Seul, Cingapura, Alemanha, Argentina, China, França e também outras três nos Estados Unidos.
Na avaliação de Sílvio Arndt, diretor-técnico da Bioclin, integrante da Associação Mineira de Empresas de Biotecnologia e Ciências da Vida (Ambiotec), o interesse do investidor estrangeiro resulta tanto dos esforços públicos e privados voltados ao crescimento biotecnológico, quanto das características do mercado nacional – o maior da América Latina, com enorme potencial a ser explorado. “A regulação revela-se essencial para impulsionar a biotecnologia brasileira interna e externamente” comenta.
Arndt considera estratégico o papel do Projeto Brasil Biotechnology. Destinado a fomentar a internacionalização de empresas brasileiras do setor de biotecnologia, a iniciativa multiplica a interação entre pesquisadores e investidores internacionais. Favorece, assim, a atualização de conhecimentos e a constituição de novas parcerias, sobretudo as associadas à transferência de tecnologia. “O mercado evolui muito rapidamente. É preciso acompanhar as mudanças. Hoje só utilizamos 5% da tecnologia que tínhamos há 37 anos, quando começamos o trabalho na empresa. A tecnologia neste setor muda a todo instante”, lembra o especialista, pela terceira vez na BIO.
Outro combustível para acelerar a internacionalização dos setor, observa Arndt, refere-se à mão de obra especializada. O coordenador da pós-graduação em biotecnologia da Universidade Estadual de Pelotas (UFPEL), João Deschamps, prevê um “grande salto” deste segmento nos próximos anos, mas ressalva que, para aproveitar as novas oportunidades, deve-se estar alinhado às exigências internacionais.
O consultor Ricardo Mendes também destaca a importância do incentivo à produção científica e à qualificação do setor, “bastante fortes na Rússia, Índia e China, principais players no cenário da biotecnologia”. Para ele, a regulamentação brasileira está no mesmo nível de outros países, inclusive dos Estados Unidos. “Precisamos melhorar a estrutura e eficiência do setor, no que a Anvisa vem trabalhando fortemente nos últimos tempos”, comenta.