Por Marcelo Sá
Equipe SNA
A World Barista Championship (WBC), considerada a principal competição internacional do ramo, consagrou na primeira colocação o brasileiro Boram Um. Realizada em Atenas, na Grécia, o torneio teve sua cerimônia de encerramento e premiação no último sábado, 24 de junho. Boram já tinha conquistado o tricampeonato brasileiro em março, após os êxitos de 2020 e 2022.
O título é inédito, já que o melhor resultado havia sido em 2007, com Silvia Magalhães terminando em sexto lugar. Trata-se de uma dupla consagração, pois Boram utilizou, entre o rol de cafés da apresentação, um arábica produzido em sua fazenda, localizada em São Gonçalo do Sapucaí (MG).
O cafeólogo e mestre de cerimônias da final Edgard Bressani, em depoimento à Globo Rural, classificou a performance do brasileiro como “impecável”, em especial a bebida com leite preparada por ele, uma das modalidades obrigatórias. Bressani já foi juiz em outras competições e destacou a importância da vitória para o Brasil, que já é o maior produtor mundial de café.
À mesma publicação, Boram afirmou: “Vai ter impacto no café especial brasileiro, não só no consumo, mas também no investimento. Acho que é um marco para o Brasil, um sonho que se tem há muitos anos, desde o início das competições. O País está pronto para ser reconhecido com um dos maiores em cafés especiais no mundo.”
Sobre ter usado um café de sua fazenda, ele disse: “É um café em segundo ano de produção. É um sonho poder ver café produzido por minha família nessa competição. É muito gratificante ver isso”
O irmão de Boram, Garam Um, obteve o terceiro lugar na disputa dos melhores baristas no preparo de cafés coados. Foi também uma evolução em relação ao quinto lugar na categoria, que até então era o melhor desempenho de um brasileiro. Eles vêm de uma família sem longa tradição na cafeicultura, atuante há apenas quinze anos. Barista nos últimos sete, Boram afirma que, após o título, se credencia como embaixador mundial da indústria brasileira de cafés especiais.
Expoente consolidado da cafeicultura, o Brasil atravessa também uma fase de valorização de grãos nobres e ingredientes diferenciados que acompanham o já famoso espresso, e é nesse contexto que se insere o barista, palavra de origem italiana que, inicialmente, designava qualquer atendente de bar.
Com o tempo, esses profissionais se especializaram no preparo de bebidas especiais à base de café, na esteira do crescimento de cafeterias varejistas nos EUA e Europa. No Brasil, apenas a partir de 2013 a profissão foi oficialmente reconhecida e regulamentada. O barista, atualmente, conhece a fundo o processo de plantio, torra e preparo dos cafés, bem como seu potencial de mescla. Há uma demanda crescente em eventos, restaurantes, hotéis e cruzeiros de luxo.
O grau de customização desse atendimento tem sido determinante, a ponto de os baristas serem comparados ao sommelier, profissional conhecedor do vinho que, de tão onipresente, entrou para o vocabulário popular.
Os baristas e a vitória de Boram contribuem para que a pujante indústria cafeeira nacional obtenha reconhecimento para além da qualidade e tamanho de sua produção, mostrando como a cafeicultura está enraizada como símbolo cultural brasileiro. A expansão e o aprofundamento se dão na mesma cadência de outros países que valorizam, cada vez mais, o apuro e a competividade dos profissionais em todo o processo, que termina e se renova na experiência do consumidor.