Obras de pavimentação e abertura de rodovias, retomada dos investimentos na malha ferroviária e novas concessões no setor de infraestrutura de transporte garantem ao Brasil um amplo espaço de crescimento para poder baratear os custos de logística, favorecendo, principalmente, a expansão do Arco Norte.
A constatação é do diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e professor da Universidade de São Paulo (USP/Ribeirão Preto), Marcos Fava Neves.
Ao participar de uma videoconferência sobre investimentos em infraestrutura portuária, o especialista ressaltou que “o Arco Norte é fundamental para a missão delegada ao Brasil de abastecer parte do planeta nos próximos anos, principalmente os países da África e Ásia, que estão em crescimento e demandam cada vez mais produtos alimentares”.
Neves disse que o Brasil terá de agregar de 10 a 15 milhões hectares na produção de grãos para poder suprir essa demanda. “Podemos fazer isso de maneira sustentável e competitiva”.
Desafio
Para o consultor Frederico Busssinger, que também participou do webinar, “o desafio do Arco Norte não é implantar uma logística, e sim de tornar a logística mais eficiente”. Segundo ele, o setor impulsiona o crescimento da produção.
“Vamos ver isso acontecer com o Arco Norte. Em 2019 a produção naquela área atingiu 61 milhões de toneladas de grãos e 28 milhões de toneladas foram exportadas. Em dez anos, a produção cresceu 2,3 vezes, mas as exportações subiram 5,3 vezes. Isso significa que a logística deu conta do recado”.
TPA
Bussinger observou que, nesse contexto, o projeto de implantação do novo Terminal Portuário de Alcântara (TPA), ao norte do Maranhão, atende às necessidades de melhoria e inovação em infraestrutura.
O TPA terá canal duplo de navegação, profundidade de calado de 25 metros, permitindo o acesso dos maiores navios do mundo, e ligações com a estrada de ferro Carajás e a Ferrovia Norte-Sul. A capacidade de embarque, para o agro, será de 40.000 toneladas por ano, informou Paulo Salvador, diretor executivo da Grão-Pará Multimodal.
O terminal também irá possibilitar uma economia em frete marítimo de até 30%. As obras terão início em 2022 e a previsão é de que o TPA entre em operação em 2024.
“É um projeto diferenciado, com vantagens competitivas, envolvendo planejamento multimodal e licenciamento ambiental integrados, participação social e societária de quilombolas e apoio à revisão do plano diretor do município de Alcântara”, destacou Bussinger.
Armazenagem
Em termos de déficit logístico, que aumenta no País ano a ano, o Arco Norte pode ser considerado uma exceção à regra, segundo Thiago Guilherme Péra, coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log). Segundo ele, a região tem recebido grandes investimentos, principalmente por parte da iniciativa privada. “A logística no Brasil está mudando, e as parcerias público-privadas trazem competitividade maior”.
Apesar das expectativas, o especialista disse, durante a videoconferência, que “o Arco Norte é uma das regiões mais carentes em matéria de armazenagem”.
Nesse contexto, ele lembrou que o Brasil só consegue armazenar, em termos de capacidade estática, 75% de sua produção de grãos, e que a cada ano o País registra um déficit maior no setor porque a produção tem aumentado mais que a infraestrutura de armazenagem”.
Por causa disso, completou Péra, “há uma necessidade maior de escoar mais rápido a produção, e isso encarece o frete e reduz competitividade”.
Indutor do crescimento
O coordenador do Esalq-Log informou ainda que no ano passado, o volume de exportações pelo Arco Norte, que registrou crescimento acentuado a partir de 2017, representou cerca de 30% das exportações brasileiras.
“O corredor é um grande indutor do crescimento da produção do agro nas regiões de fronteira, que reduz o custo logístico, levando ao aumento da competitividade. Além disso, traz uma redução da saturação dos eixos tradicionais de exportação, oferecendo economia de escala no transporte marítimo”, concluiu Péra.
Apoio
Também participando do webinar, Gustavo Spadotti, supervisor da Embrapa Territorial, chamou a atenção para a necessidade de apoio logístico ao Porto de Itaqui para o escoamento da produção na região do Matopiba, que engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“O Matopiba expandiu rapidamente, tem boas perspectivas, mas as operações da região não podem ficar concentradas em um só porto, diante da expansão agropecuária que tem sido verificada no local”, enfatizou Spadotti.
Ele disse ainda que uma das características da região é o equilíbrio entre produção e preservação do meio ambiente. “São 35 milhões de hectares destinados à preservação ambiental nos imóveis rurais do Matopiba, totalizando R$ 406 bilhões de reais em patrimônio fundiário destinado ao meio ambiente”.
Fonte: Markestrat Consulting Group
Equipe SNA