Alta produtividade é desafio para ‘Cana de Três Dígitos’

“Considerando que existem peculiaridades em relação às características edafoclimáticas (solos e climas) e épocas de colheitas nas diferentes regiões canavieiras do Brasil, a estratégia de utilização de sites regionais minimizam as diversidades e permitem a seleção de indivíduos superiores que apresentam ganhos significativos para cada região”, afirma o pesquisador Ricardo Augusto Dias Kanthack. Foto: Arquivo APTA
“Considerando que existem peculiaridades em relação às características edafoclimáticas (solos e climas) e épocas de colheitas nas diferentes regiões canavieiras do Brasil, a estratégia de utilização de sites regionais minimizam as diversidades e permitem a seleção de indivíduos superiores que apresentam ganhos significativos para cada região”, afirma o pesquisador Ricardo Augusto Dias Kanthack. Foto: Arquivo APTA

O Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), localizado em Ribeirão Preto (SP), lançou um desafio para o setor da “Cana de Três Dígitos”: atingir uma produtividade média superior ou igual a cem toneladas de colmos de cana-de-açúcar por hectare, considerando todos os cortes e buscando a sustentabilidade do segmento sucroenergético do País.

Segundo Ricardo Augusto Dias Kanthack, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA),  o Brasil tem cerca de dez milhões de hectares de cana em exploração, praticamente o dobro se comparado há uma década. No entanto, a produtividade de colmos por hectare não acompanhou a evolução da área plantada, que hoje varia de 45 a 115 toneladas.

“O potencial biológico da produtividade, quando não há limitações hídrica, de nutrientes, nem de fatores climáticos e de operações agrícolas inadequadas, é superior a 300 toneladas por hectare”, afirma Kanthack.

Ele destaca algumas atividades que vêm sendo desenvolvidas para melhorar os resultados da atividade. “A Coordenadoria do Procana IAC tem nos orientado a propagar o desafio da ‘Cana de Três Dígitos’, junto às nossas parceiras, nas diversas regionais onde procuramos desenvolver propostas de trabalhos, incentivando o uso de novos cultivares, além da utilização da matriz ambiental, gestão do número de colmos, bem como outras boas práticas agrícolas”, conta.

De acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico, existem algumas ferramentas já disponíveis para otimização de resultados, como o Ambicana, um programa de classificação de ambientes de produção, que visa adequar e potencializar a produtividade em função da cultivares e dos ambientes. Também há o PreviclimaCana, que fornece previsões precisas e atualizadas da produção da safra; além do Biofábrica, que disponibiliza materiais de origens certificadas e com alta qualidade genética e vigor, e diagnóstico de doenças.

“O pacote tecnológico inclui a Matologia (estratégia para racionalizar o controle de plantas daninhas) com estudos de manejo integrado; fertilidade dos solos e nutrição de plantas; manejo integrado de pragas e doenças; núcleo de produção de mudas pré brotadas, voltado para a adoção acelerada desses novos cultivares, além de cursos e eventos técnicos e científicos”, cita Kanthack.

SITES DE SELEÇÃO

A avaliação de variedades de cana-de-açúcar em dez diferentes regiões do Brasil, sendo sete somente no Estado de São Paulo, chamadas de sites de seleção, possibilita a seleção de clones promissores e os validam como novas variedades para determinadas condições edafoclimáticas.

“Considerando que existem peculiaridades em relação às características edafoclimáticas (solos e climas) e épocas de colheitas nas diferentes regiões canavieiras do Brasil, a estratégia de utilização de sites regionais minimizam as diversidades, permitindo a seleção de indivíduos superiores, que apresentam ganhos significativos para cada região em estudo”, informa o pesquisador.

Ele ainda exemplifica que, para início de safra (abril a junho) em ambientes restritivos (com baixa fertilidade do solo e pouca disponibilidade hídrica), as cultivares indicadas são  IACSP93-2060 e IACSP97-4039. Para o meio da safra (junho a setembro), nos mesmos ambientes recomenda-se IAC87-3396, IAC91-1099 e IACSP97-4039.

“Estas cultivares possibilitam maiores produtividades em TCH (toneladas de cana por hectare), com maior teor de ATR (Açúcar Total Recuperável), resultando em mais ganhos para o setor, sem que haja acréscimo de custos”, comenta.

“Seguindo este raciocínio, teremos para cada site de seleção e de produção uma indicação técnica, que proporcionará a otimização dos potenciais produtivos, rumo ao desafio de estabelecer canaviais com três dígitos de produtividade, considerando todos os cortes”, salienta.

MAIOR TEOR DE SACAROSE

O pesquisador ressalta que o grande desafio é a obtenção de uma cultivar que expresse maior acúmulo de sacarose, alto TCH, bem como tolerância às principais doenças e pragas. Também existem outros, alguns específicos para os seguintes sites das regiões paulistas, como o aumento do potencial de produção agrícola e tolerância ao íon Al+++ (agente tóxico relacionado com a baixa produtividade agrícola de cereais em solos ácidos e com doenças degenerativas em animais) na sub-superfície (região de Piracicaba); maior brotação em período de estresse hídrico (Ribeirão Preto e Pindorama); maior capacidade de produção em solos de baixa fertilidade (Jaú); maior potencial de maturação sob baixo estresse hídrico (Mococa e Assis); capacidade de acumular massa verde no período vegetativo (Adamantina); suportar estresse hídrico e ausência de florescimento (na região Centro-Oeste, em Goianésia-GO).

“Existem outros sites nos quais o IAC trabalha para obtenção de cultivares. Em todos eles, busca-se cultivares que sejam adequados também para os plantios e colheitas mecanizados, pois essa condição tem imposto novos desafio ao setor”, explica Kanthack.

CANAVICULTURA MODERNA

Segundo pesquisas do Programa Cana IAC, os ganhos genéticos apresentados pelas novas cultivares, em relação às variedades comerciais, equivalem a 1% a 2,5% ao ano.

“O índice pode parecer baixo, porém, se considerarmos que uma variedade leva de 12 a 15 anos para ser lançada e outros tantos para serem utilizadas pelos produtores, então os ganhos passam a ser na casa de 12 a 15 %, tornando os valores expressivos”, calcula o especialista.

Kanthack também comenta que este ganho de produção, associado às chamadas adicionalidades, que são as características acrescentadas pelo melhoramento genético ─ como o maior perfilhamento, maior longevidade, porte, adaptabilidade aos plantios e colheitas mecanizadas, e bons níveis de tolerância a doenças e pragas, só para citar algumas delas ─, podem agregar valores à canavicultura moderna.

“Acreditamos que um programa de melhoramento genético será sempre necessário devido às constantes pressões de ocorrências adversas às cultivares em cultivo. No trabalho de buscar alternativas que deem sustentabilidade ao segmento, verificamos que a obtenção dos novos genótipos serão, em todas as situações, o ponto de partida”, observa.

 

Por equipe SNA/SP

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