
Se depender do clima, 2017 será um ano positivo para o agronegócio brasileiro, o que ajudará a cumprir a meta de evolução. O risco é pequeno para o próximo ano, com cenário favorável para café, grãos, pastagens, cana-de-açúcar e hortícolas.
A previsão é do analista de mercado Carlos Cogo, sócio-diretor de empresa Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica. Apesar do otimismo, ele alerta para problemas internos que precisam ser resolvidos, para que o setor possa manter o ritmo de crescimento previsto.
”Não temos política agrícola de longo prazo, nem linhas de investimentos agrícolas permanentes. Também faltam estoques reguladores e regras de intervenção”, critica.
“Para crescer, o País também terá de resolver a questão da inflação dos alimentos que, em nove dos últimos dez anos, superou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, argumenta Cogo.
INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS
Para ilustrar o peso da inflação dos alimentos, o analista cita o caso do feijão, cujo preço da saca de 60 quilos estava cotada em dez reais, em agosto de 2014. Exatamente dois anos depois, o quilo chegou a ser comercializado por quase 20 reais.
“Em 2014, o feijão chegou a virar adubo, porque não valia a pena colher, por causa do preço baixo”, relata. “Já em agosto de 2016, o quilo do produto, “em oferta” em supermercados, alcançava R$ 19,90, o que significa mais de R$ 1.199,00 a saca de 60 quilos, no varejo, e cerca de 600 reais ao produtor”, compara.
“A culpa da inflação dos alimentos seria das crescentes exportações de grãos, carnes, açúcar, café, dentre outros? O Brasil pode ser grande exportador agrícola sem gerar inflação de alimentos?”, questiona Cogo, acrescentando que, se estas afirmativas fossem verdadeiras, os Estados Unidos não teriam uma inflação anual em torno de 0,3%.
“Inflação sob controle resulta em alimentos mais estáveis”, ressalta o analista, lembrando que o peso dos alimentos na inflação brasileira é de 25%, ante índices de 11% a 14% na União Europeia, Estados Unidos e Japão.
Na análise de Cogo, a inflação geral e de alimentos decorre de vários de fatores, que podem atuar simultaneamente ou não, tais como, altas taxas de juros, aumentos de preços administrados (energia, combustíveis etc.), crescimento de custos de produção e a indexação.
RANKING DE EXPORTAÇÕES
Segundo maior exportador global de alimentos, atrás apenas dos Estados Unidos, na próxima década o Brasil deverá assumir a primeira posição deste ranking, conforme projeções da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Estamos em uma posição confortável, pois, cada vez mais, o mundo vai precisar de soja e milho e menos de trigo e arroz, por causa da mudança de hábitos alimentares”, ressalta.
Para atestar o potencial do Brasil, Cogo conta que dois fundos estrangeiros, clientes da sua assessoria, estão querendo investir no Brasil, na aquisição de terras, esmagadoras, processadoras de alimentos, entre outros segmentos.
Outro bom sinal é que a China, que ele considera grande vetor, tem um déficit considerável de soja: “Para garantir o abastecimento interno, o país teria que comprar uma safra inteira de soja do Brasil”. Além deste fator positivo para a cultura, Cogo menciona outro: “Este ano, o custo de produção não subiu em termos reais, ficou em 30% no Cerrado e 50% no Sul. A margem da soja é excelente”.
COMMODITIES
Quanto às commodities nacionais, o analista afirma que a área de cultivo de milho vai crescer nos plantios de verão e de inverno, mas em contrapartida, ocorrerá queda de preços do grão no início do verão.
Na opinião de Cogo, a cana-de-açúcar está em uma situação de mercado muito boa: “O único problema é que não temos marco regulatório para o setor sucroalcooleiro, para os biocombustíveis”.
“O café também está em uma situação confortável. Os preços estão sustentados e os estoques de passagens estão baixos”, justifica.
Quanto ao algodão, segundo ele, a safra deve se recuperar no próximo. Quanto ao arroz, o cultivo deverá ficar restrito às áreas irrigadas.
EXPECTATIVA
Segundo Cogo, a expectativa para 2016 é que a soja responda por 34% do valor bruto da produção agrícola, seguida pela cana-de-açúcar (25%), milho (15%), café (7%), algodão, (4%) e citros (3%). A participação das demais culturas é prevista em 22%
A projeção para 2017 é de estoques de 225 milhões de toneladas (estoques de 9 milhões de toneladas e safra de 216 milhões de toneladas). “A capacidade de armazenagem brasileira, de 158 milhões de toneladas, não acompanha a expansão da produção de grãos, portanto, teremos um déficit de armazenagem de 67 milhões de toneladas no próximo ano”, calcula Cogo.
MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Também consultor de empresas de máquinas agrícolas no Brasil, Cogo conta que o setor também está em recuperação, por causa da agricultura familiar, com tratores de pequeno porte, até 80 cavalos. De janeiro a agosto deste ano, segundo ele, “o Sudeste, com 38%, puxou as vendas de tratores para cana-de-açúcar, enquanto o Sul respondeu por 35%”.
Ele ainda ressalta que os tratores responderam por 80% da comercialização do segmento de máquinas agrícolas no Paíus.
POTENCIAL DAS PASTAGENS
Conforme o especialista, as pastagens representam um grande de potencial de migração para a agricultura no Brasil. Atualmente, o rebanho bovino brasileiro (corte mais leite) soma 215 milhões de cabeças e ocupa 168,9 milhões de hectares de pastagens.
A relação Unidade Animal (UA) por hectare é de 1,27 no Brasil. As projeções são de que a relação UA por hectare atinja 2,0 na próxima década.
“Essa relação permitirá a liberação de mais de 60 milhões de hectares para cultivos de grãos, cana e outras culturas agrícolas”, prevê Cogo.
Por equipe SNA/SP