
*Confira acima o comentário de Fernando Pimentel, diretor da Agrosecurity Consultoria e diretor geral da Agrometrika.
O acirramento do confronto entre Irã e Israel, que já dura cinco dias, intensifica a atmosfera de incertezas e de volatilidade vivenciada, globalmente e de forma crescente, deste a pandemia de Covid-19 e que, no início deste ano, recebeu um tempero a mais com a guerra tarifária de Donald Trump. Ou seja, no cenário econômico e geopolítico pode-se dizer que não está fácil pra ninguém.
Cronologia de Babel
Fernando Pimentel, diretor da Agrosecurity Consultoria e diretor geral da Agrometrika – plataforma de crédito para o agronegócio, recorda o impactos gerados pela pandemia e que ainda reverberam. “A pandemia gerou um nível de recessão muito grande. Depois tivemos um problema de inflação global, que obrigou bancos centrais, no mundo inteiro, a elevar suas taxas de juros, inclusive o banco central brasileiro. Hoje, temos uma das maiores taxas do planeta”.
Em sua cronologia dos fatos, o diretor da Agrosecurity menciona o segundo governo Trump e sua impulsiva guerra tarifária. “Apesar de estarmos num período de negociações, estas medidas trouxeram um grau de insegurança e desajuste muito grande nos mercados. E, por fim, além do conflito já existente entre Ucrânia e Rússia, agora conflito aberto entre Israel e Irã, que promete trazer desdobramentos bastante complicados para o Oriente Médio, uma das maiores fontes de energia do planeta”, atentou.
Vale ressaltar que o Irã é um grande fornecedor de petróleo, que apesar de existir toda uma discussão de transição energética, continua sendo uma commodity fundamental para várias indústrias. “Não só a questão do combustível, como o diesel e a gasolina, mas também toda a indústria química está calcada em cima de componentes derivados de petróleo”, enfatizou Fernando Pimentel.
Sim. Mas e o agro brasileiro?
Fretes marítimos
O agronegócio brasileiro já sente o impacto inicial do conflito Israel-Irã com a alta dos fretes marítimos. É bastante provável que haja alteração de rotas pelas transportadoras com intuito de desviar de zonas de ataques.
Petróleo
“O petróleo subiu 7% já no primeiro dia de conflito, o que mostra o quão sensível é o mercado em relação a essa deflagração de guerra. Então temos um cenário que cada dia fica mais difícil de fazer algum tipo de prognóstico. E o agronegócio depende, grande parte, de uma visão de longo prazo, uma vez que são trabalhados financiamentos e planejamentos de lavouras que extrapolam um ano agrícola. Ciclos que podem durar em torno de 18 meses”, explicou o diretor da Agrometrika.
Fertilizantes
O Irã fornece, por ano, 17% da ureia importada pelo Brasil, sendo este um insumo essencial no plantio de milho, commodity brasileira que divide o ranking de importância com a soja. Porém, os preços dos fertilizantes nitrogenados já estão em alta e devem subir ainda mais. Os impactos logo baterão à porta dos produtores de milho, principalmente.
Câmbio
“Ainda tem mais a questão do câmbio, uma vez que a política do governo Trump busca desvalorizar o dólar para ganhar competitividade na exportação. Tudo isso somado a esse novo elemento, chamado conflito Israel-Irã”, acrescentou o diretor da Agrosecurity.
“O momento é de ‘apertar o cinto de segurança’. O planejamento deverá ser revisado, praticamente, toda semana em face das notícias. Temos que trabalhar olhando para o câmbio, olhando para o frete e para os custos operacionais que são interligados com o petróleo; seja o fertilizante por causa do nitrogenado, seja a questão operacional do óleo diesel nas lavouras ou a questão dos agroquímicos, que também dependem de derivados de petróleo”, concluiu Fernando Pimentel.