Alavanca de crescimento, com recorde marcante
Confirmando estimativas de produtores e especialistas, a agropecuária se manteve na proa do crescimento econômico brasileiro no ano passado, segundo resultados oficiais divulgados pelo IBGE no último dia 1º de março. O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 2,9%, bem próximo da elevação de 3% registrada em 2022, totalizando, em termos nominais, R$ 10,9 trilhões.
Apesar da alternância de participação em cada semestre, o que é natural em virtude dos ciclos de cada cultivo, a agropecuária teve, no conjunto dos 12 meses, uma alta de 15,1%.Se não fosse pelo setor, a economia nacional teria avançado apenas 1,6%, afirma Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Trata-se do maior índice da série histórica, iniciada em 1996, sobretudo em função das safras recordes de grãos como soja e milho, que alavancaram a atividade econômica. Esse desempenho também contribuiu para o bom resultado de outros setores, como as exportações (9,1%), a indústria de alimentos e segmentos específicos do setor de serviços, que são beneficiados pela cadeia de produção e logística do campo.
A desaceleração geral da economia, verificada entre os índices de 2022 e 2023 preocupa porque revela um recuo particularmente problemático no agro: a queda de 3% no setor de investimentos mostra que os juros ainda altos fazem os produtores retardarem a modernização de estruturas, compra de máquinas, equipamentos, além de expandir seus negócios e efetuar contratações. Com isso, vencer o gargalo de armazenamento e transporte torna-se mais difícil, algo que o Portal SNA vem abordando em série de reportagens e entrevistas.
Mas a avaliação diante disso é a que não falta potencial para o agro nacional, que mesmo com essas limitações consegue contribuir de forma tão consistente e substancial com a economia.Ademais, autoridades e estudiosos já trabalham com uma perspectiva de leve crescimento para 2024, pois os dados de 2023 mostram uma capacidade de consumo maior das famílias. Para especialistas, isso é uma combinação da queda inflacionária, estímulos fiscais à economia e programas de transferências de renda.
Volta à normalidade, mas mantendo a pujança
Os números tão altos de 2023 não devem se repetir, pois as safras de grãos devem voltar ao seu patamar habitual, além da vizinha Argentina, que deve robustecer sua produção no segmento, além de retirar restrições nas exportações, o que dava espaço para as commodities brasileiras. Apesar disso, é consenso que, mesmo diante de uma retração numérica natural, em virtude da base comparativa com o ano passado, a tendência de alta segue mantida.
Isso porque o resultado médio após um ciclo tido como excepcional fará com que o combinado do biênio permaneça acima de qualquer outro país emergente. Problemas climáticos continuam a exigir atenção e esforços de agricultores, cientistas e autoridades, pois sua ocorrência coincide com períodos menos pujantes de produção, como verificado em 2023. Todos esses números, no entanto, passam por revisões comparativas conforme novos dados sejam colhidos e processados.