Estoques elevados mantêm etanol competitivo em plena entressafra

Em plena entressafra de cana, quando a imensa maioria das usinas do centro-sul do País está parada para manutenção, o etanol hidratado continua amplamente competitivo nos postos de combustíveis dos principais centros consumidores, o que vem garantindo boa demanda e vendas elevadas. Essa dinâmica favorece os motoristas, mas impõe um desafio para as usinas, que estão acostumadas a preços mais remuneradores nesta época do ano.

Pelo menos desde meados de dezembro os preços médios do etanol estão abaixo de 70% dos valores cobrados pela gasolina em São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, que representam aproximadamente 85% das vendas nacionais do produto. Até 70%, o biocombustível é considerado economicamente mais vantajoso que o concorrente fóssil para a média da frota de veículos leves com motor flex no Brasil.

No mais recente levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizado entre os dias 3 e 9 de fevereiro, o preço do hidratado nos postos paulistas ficou, na média, em R$ 2,592 o litro – 64% do preço da gasolina e valor 10% mais baixo que o observado no mesmo período do ano passado.

Em janeiro, os preços que as usinas recebem pelo produto chegaram a cair quase 9%. Entre 4 e 8 de fevereiro, o indicador Cepea/Esalq para o hidratado reagiu parcialmente às quedas anteriores e subiu 3,74%, para R$ 1,58 o litro, em média. Ainda assim, no acumulado deste ano ainda há baixa de 3,4%, e os preços que as usinas paulistas têm recebido pelo etanol está 13,8% abaixo do patamar registrado em igual intervalo da temporada passada.

Para as usinas, a situação é delicada, porque quem pode reservou etanol para vender na entressafra prevendo preços maiores. Segundo o último levantamento de estoques do Ministério da Agricultura, referente a 15 de janeiro, foi armazenado no centro-sul um volume de 4.499 bilhões de litros de etanol hidratado, 67% acima da quantidade estocada um ano atrás, em relação à média das quatro últimas safras, o aumento chega a 61%.

Essa oferta abundante reflete uma safra em que as usinas buscaram ocupar o máximo de sua capacidade para a produção do biocombustível, e o volume só não é maior porque o produto está sendo vendido como água.

Após as vendas de etanol hidratado aos motoristas que bateram o recorde anual de 19.4 bilhões de litros em 2018, analistas estimam que o mercado continuará aquecido até o fim da atual entressafra, em março próximo, antes da entrada da oferta de etanol do ciclo 2019/20.

“Para a safra terminar com o mesmo nível de estoques da anterior, as vendas das usinas têm de alcançar cerca de 900 milhões de litros por quinzena, ou um pouco menos”, disse Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, em Ribeirão Preto.

Para garantir as vendas aquecidas, porém, os preços do etanol vão ter de continuar a guardar distância em relação à gasolina. “Muito provavelmente, os preços de etanol na bomba vão ficar abaixo da paridade de 70% até o fim da safra”, afirmou Julio Borges, da JOB Consultoria.

Para Hernandes, da FG/A, mesmo que a correlação fique um pouco menos vantajosa, as vendas deverão seguir aquecidas por causa da inércia do consumo. “Quanto mais tempo passa, maior tende a ser o consumo no mesmo nível de preços. Ou o preço pode subir para manter o volume das vendas estável”, disse o especialista.

O ritmo das vendas também dependerá do início da retomada da moagem de cana, já que uma antecipação da safra pode acelerar a pressão causada pela entrada da nova oferta. “Mas as usinas estão fazendo uma calibragem e administrando a oferta para que não haja excedente no fim da safra”, informou Borges.

 

Valor Econômico

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