Um expressivo investimento planejado pelas grandes indústrias exportadoras de suco de laranja pode conferir maior precisão às estimativas para a safra de laranja do cinturão formado por São Paulo e Triângulo Mineiro e colaborar para o combate de doenças que insistem em ameaçar o mais importante parque citrícola do mundo.
O objetivo é voltar a trabalhar com fotografias feitas por satélite, recurso utilizado pela última vez em 2008. Naquele ano, as duas maiores exportadoras de suco do país, Cutrale e Citrosuco, gastaram entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões cada uma e puderam reforçar suas estratégias com a utilização de fotos de todo o Estado de São Paulo e da região mineira na qual elas também se abastecem de matéria-prima.
Agora, o projeto, que poderá custar até R$ 7 milhões, é liderado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), que reúne Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus Commodities. E a entidade afirma que quer transformá-lo em uma ferramenta do Conselho dos Produtores de Laranja e das Indústrias de Suco (Consecitrus), o que permitiria que os dados fossem de conhecimento também dos produtores de laranja.
Ocorre que o Consecitrus, idealizado pelas três grandes indústrias de suco e por uma parte dos citricultores paulistas para ser um ambiente de discussão sobre os diferentes desafios do segmento e de harmonização das relações na cadeia produtiva, segue à espera da autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para efetivamente sair do papel.
Sem o sinal verde, o projeto corre o risco de não vingar, uma vez que o uso conjunto das fotos de satélite poderia alimentar as acusações de formação de um suposto cartel entre as indústrias, investigadas pelo Cade há mais de uma década. “Consideramos o projeto importante e estamos à espera de aval”, diz João Sampaio, diretor-executivo do Consecitrus.
Como secretário da Agricultura de São Paulo no governo de José Serra, Sampaio mediou as conversações entre indústrias e citricultores que deram origem ao Consecitrus. Mas o conselho nasceu sem o apoio de duas das entidades que representam produtores de laranja no Estado – Faesp e Associtrus – e, em meio às históricas divergências entre as partes, passou a depender do Cade.
Chancelado por citricultores ligados à Sociedade Rural Brasileira (SRB), o Consecitrus poderá atrair às discussões que quer fomentar a nova União de Produtores de Citrus (Unicitrus), formada por algumas dezenas de produtores que colhem cerca de 30 milhões de caixas de 40,8 quilos de laranja por safra (cerca de 10% da produção paulista) e que já é reconhecida pelo Cade como parte interessada no processo que poderá levar à aprovação do novo conselho.
Para muitas das discussões que deverão ter lugar no Consecitrus – mercados, preços, trabalho, capacitação, fitossanidade, logística e tecnologia, entre outras -, o projeto de uso de imagens de satélites do cinturão citrícola é considerado pela CitrusBR de grande valia. Sobretudo depois de uma diferença de 70 milhões de caixas entre recentes estimativas das indústrias e do governo sobre a temporada em curso (2013/14).
Desta feita, as indústrias querem usar fotos não de média, mas de alta resolução e sujeitas a um processo de ortorretificação, que funciona como uma espécie de checagem dos dados apurados a partir da confirmação de alguns pontos captados. Com a tecnologia – as indústrias já identificaram três ou quatro empresas que poderão fornecê-la -, o desvio máximo é de 2%.
Conforme Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, com a tecnologia é possível enxergar perfeitamente a colheita e até se as árvores estão desfolhadas, o que pode ser um indicativo da incidência de alguma doença. A área a ser escaneada chega a 152 mil metros quadrados, o que faz do projeto um dos maiores do gênero no mundo que poderá ser desenvolvido pela iniciativa privada.
Além das fotografias, o planejamento prevê a checagem das informações captadas por equipes de campo. Como já foi questionado por Faesp e Associtrus e ainda não foi aprovado pelo Cade, o projeto dificilmente será implantado neste ano.
Fonte: Valor Econômico