Travada desde o fim de 2016, a comercialização de soja e milho em maio avançou de maneira considerável em Mato Grosso, que lidera a produção desses grãos no país. As vendas foram impulsionadas pela desvalorização do real em relação ao dólar e, no caso do milho, também pelos leilões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com o pico de vendas no mês passado, os agricultores passaram a ter mais tranquilidade para armazenar o cereal da segunda safra, que começa a sair dos campos.
Segundo o Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária (Imea), as vendas da soja da safra 2016/17 chegaram a 78,2% da produção estimada para o estado (31.3 milhões de toneladas) até 12 de junho – um avanço de 9% sobre maio, mas percentual ainda bem abaixo dos 91% do mesmo período do ano passado, quando estava em curso a comercialização da safra 2015/16.
A venda de milho, por sua vez, chegou a 60,5% da produção estimada em 28.1 milhões de toneladas, com avanço de 13,8% em relação a maio. No início de junho de 2016, os produtores já haviam vendido toda a produção, que foi menor do que a esperada em consequência de problemas climáticos.
“No caso do milho, os leilões da Conab ajudaram muito e a alta do dólar arrematou”, disse Daniel Latorraca Ferreira, superintendente do Imea. Foram comercializadas 3.8 milhões de toneladas de maio até 12 de junho. Apesar do atraso em relação a 2016, agora as vendas estão mais aceleradas que na média das últimas cinco temporadas. Desde abril, a Conab vem realizando leilões para ajudar a escoar o milho produzido em Mato Grosso e garantir o preço mínimo de R$ 17,87 a saca de 60 quilos para os produtores.
Mas a queda do real na comparação com o dólar também foi fundamental. Em 18 de maio, dia seguinte às primeiras notícias da delação de Joesley Batista, um dos donos da holding J&F, envolvendo o presidente Michel Temer, o dólar comercial subiu 8% e destravou as vendas de grãos, que estavam lentas em virtude dos preços baixos. “O aumento das vendas de soja foi decorrente do câmbio”, disse Ferreira.
O superintendente do Imea destacou, entretanto, que as vendas já estão mais lentas novamente. Segundo ele, o produtor já liberou espaço nos armazéns para o milho e garantiu os custos dos insumos. Assim, a tendência é esperar cotações melhores em Chicago. Segundo o Imea, os preços da soja disponível e futura estavam acima dos R$ 70,00 a saca em maio de 2016. Atualmente, a média da saca de soja em Mato Grosso gira em torno de R$ 57,00.
Se os preços da soja não estimulam a venda, as cotações do algodão agradam. Os últimos dados do Imea mostram que as vendas de algodão em pluma chegaram a 70,15% da produção estimada de 986.600 toneladas na safra 2016/17 em Mato Grosso. A comercialização avançou 4,7% em relação ao mês de maio. Em relação a junho de 2016, as vendas estão 14,5% mais aceleradas.
Os cotonicultores também aproveitaram a desvalorização do real, que estimula inclusive a antecipação das vendas do próximo ciclo. Quase 400 mil toneladas da produção que será colhida em 2017/18, já foram vendidas. O ritmo está mais intenso que o observado nesta mesma época no ano passado. Ainda não há estimativa para o volume total que deverá ser colhido no próximo ciclo, e os cálculos do Imea levam em conta o volume previsto para 2016/17.
Fonte: Valor Econômico