Pecuaristas resistem vender na baixa, mas cenário não indica melhora na cotação

Os negócios com o boi gordo vivem um momento delicado. Para os pecuaristas o preço de balcão tem caído diariamente, tanto que a arroba negociada em São Paulo, importante referência nacional, atingiu na terça (28 de março), a menor cotação desde agosto de 2015.

As indústrias se beneficiam das repercussões da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, para adquirir matéria-prima mais barata quando necessário e enxugar os estoques represados na ultima semana. Esse movimento tem ajudado na queda dos preços, porém, poucos negócios são efetivados neste valor.

Na quarta-feira, 29 de março, a JBS, maior processadora de carne bovina do mundo, informou que dará férias coletivas de 20 dias [podendo ser prorrogada por mais 10], em dez de suas unidades do Brasil.

Em muitas regiões o capacidade de suporte das pastagens ainda permite que os produtores não vendam os seus animais nesta queda. Segundo o analista, Douglas Coelho, da Radar Investimento, as chuvas de janeiro e fevereiro colaboraram para o desenvolvimento dos pastos, reduzindo a necessidade de entrega dos animais em março e abril.

Outra realidade é a dos pecuaristas que contam apenas com uma unidade de abate em sua região. Nesse caso, se há paralisação, esses produtores ficam sem alternativa de venda, mesmo que a intensão seja a de entregar apenas o necessário para cobertura dos custos.

A preocupação é que o período das águas vai chegando ao fim e em quais condições estará o mercado nos próximos meses. Para maio, o mercado futuro na BM&F indica cotação em R$ 135,00/@. Esse patamar mostra a projeção dos operadores com a possibilidade de novas pressões sobre a arroba.

“O problema das exportações está praticamente sanado, então acreditávamos que nessa semana os negócios poderiam retomar com volume. Mas, agora, com a notícia da JBS, acreditamos que a pressão sobre os preços pode se intensificar”, disse o analista da Radar.

César de Castro Alves, consultor da MBAgro, disse que mesmo aguardando um posicionamento melhor de preço, o pecuarista corre sérios riscos. “O cenário que temos pela frente não é animador. Se a demanda não responder, poderemos entrar no período da seca com um grande volume de animais represados”.

Como consequência dos dias parados, as escalas de abate vão se encurtando e trazem uma boa expectativa para os produtores. Segundo Douglas, em São Paulo há indústrias precisando de animais para programação da semana que vem. “Eles precisarão voltar às compras, mas possivelmente até meados da próxima semana muitos frigoríficos ainda estarão avaliando como vão operar depois desse anúncio da JBS, que sem dúvida, baliza o mercado”, disse.

O problema, segundo Alves, é que mesmo com o retorno das compras, a concentração de animais represados e mais pesados pelo tempo extra no campo, possa superar a necessidade de abate das indústrias, diante do consumo interno deprimido, causando desequilíbrio entre oferta e demanda.

“Mesmo que a disposição de compra volte à normalidade, o cenário de preço no curto e médio prazo não são animadores. Os pecuaristas tem hoje, um conjunto de fatores que não levam a crer na recuperação das cotações”, disse o analista da MBAgro.

Agravante

Como agravante, no dia 1° de abril entra em vigor a cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as carnes no Estado de São Paulo.

As projeções da APAS (Associação Paulista de Supermercados) dão conta de que o consumidor poderá arcar com alta de 6% a 6,5% nos preços da carne no varejo.

Essa medida vem em um momento delicado para o setor. Mesmo com sinais de que a economia nacional está melhorando, o poder aquisitivo da população continua baixo para desembolsar mais na compra da carne bovina.

Cenário 2017/2018

Vale a pena lembrar que mesmo antes de a operação Carne Fraca ganhar os noticiários em todo o País, as expectativas já eram de um ano mais apertado na receita dos pecuaristas.

O mercado de bezerros apresenta recuos desde o final de 2016 e a expectativa era de que houvesse um aumento no abate de vacas, somado ao aumento de boi gordo terminado.

“É importante ressaltar que já tínhamos uma perspectiva de preços deprimidos no ciclo 2017/18, mas é claro que a operação da PF agravou esse cenário”, disse Coelho, da Radar Investimentos.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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