Os primeiros resultados de um estudo que vem sendo realizado há cinco anos pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), no município da Lapa, mostram que o cultivo de amora-preta apresenta grande potencial para diversificação de culturas, principalmente para agricultores familiares das regiões mais frias do Estado.
Os frutos são consumidos in natura ou processados em forma de polpa, geleia e suco, e ainda podem ser congelados. Também são utilizados pela indústria alimentícia e cosmética, devido ao seu alto poder antioxidante natural.
No grupo de pequenas frutas, a amora-preta é a segunda espécie mais explorada no mundo, atrás somente do morango. “A cultura é apropriada para pequenos produtores familiares e encontra condições favoráveis para o cultivo em praticamente toda a região Sul do Brasil, onde as temperaturas são mais baixas”, afirma a pesquisadora do Iapar Claudine Maria de Bona, responsável pelo projeto.
Como é uma cultura recente no Estado, ainda não existem estudos sobre o mercado. Mas, segundo a pesquisadora, toda produção da fruta é comercializada in natura, em supermercados e, por enquanto, não tem excedente para industrialização.
“A cultura está começando, a oferta é muito baixa e a demanda, alta”, salienta.
No Paraná, ainda há poucos produtores e os frutos são comercializados diretamente nos supermercados e em mercados orgânicos, principalmente. “Na região, o preço é negociado com o comprador e varia conforme a demanda.”
Já no Rio Grande do Sul, onde a produção é grande, o excedente de frutos é congelado e vendido para indústrias de iogurtes e sorvetes, principalmente. O Estado é o maior produtor brasileiro, seguido por Minas Gerais.
No Paraná são cultivados 77 hectares, com uma produção de 3,2 toneladas de frutos, de acordo com dados de 2014, do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná. Ponta Grossa é o município que concentra a maior produção no Estado.
Segundo o estudo “Rentabilidade econômica da amoreira-preta na Região Paulista do Médio Paranapanema, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), publicado em 2011, a cultura da amora-preta é uma opção de renda na região de Ourinhos (SP), principalmente com a utilização de mão de obra familiar.
A pesquisa orienta os produtores a buscarem outras formas de comercialização das frutas in natura, especialmente no pico da safra, para outros mercados ou para industrialização, visando à produção de polpa de frutas e fermentados alcoólicos.
A produção de amora-preta no Brasil se concentra entre outubro e fevereiro. Nos Estados do Sul, a colheita começa partir de novembro, ocasião em que há maior oferta, com redução de preços, o que inviabiliza a comercialização de frutos in natura na Região de Parapanema (SP), segundo estudo da APTA.
PESQUISA
A primeira etapa do estudo, realizado pelo Iapar, em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), na fazenda experimental do Iapar, no município da Lapa, analisou produtividade, qualidade, fenologia (relação dos fenômenos cíclicos das plantas com sua localização geográfica e características predominantes do clima), além dos compostos ativos dos frutos e sua aceitação pelos consumidores.
O projeto está em fase de avaliação das cultivares Tupy, Guarani, Xavante e Cherokee, para oferecer alternativas de diversificação aos produtores.
“A Tupy, a mais plantada no País, foi a mais produtiva e também a preferida pelos consumidores, com frutos grandes, saborosos e resistentes; já a Xavante, possui hastes sem espinhos, o que facilita o manejo da planta no pomar”, detalha Claudine.
As cultivares estudadas no projeto foram adquiridas em viveiros. “Os fornecedores de mudas estão quase todos no Rio Grande do Sul, mas, uma vez compradas, são facilmente multiplicadas pelo produtor”, diz a pesquisadora.
“Mudas de alta qualidade, com mais de oito meses de idade, geralmente produzem já no primeiro ciclo”, afirma ela, destacando que o preço varia de R$ 6,00 a R$ 8,00, em média.
Apesar de ainda não ter realizado o cálculo, a pesquisadora do Iapar diz que o custo de implantação e manutenção da amora-preta é considerado baixo, por ser uma cultura rústica e pouco exigente em insumos, defensivos, mão de obra e área.
Além de mudas e correção do solo, é necessário material para sustentação das plantas, que deve ser feita em espaldeiras, com madeira, que pode ser oriunda da propriedade. No experimento, utilizamos adubação orgânica e irrigação por gotejamento”, conta.
A pesquisadora cita as principais exigências da cultura: condução dos ramos sobre os arames, irrigação na época de escassez de chuva, poda de limpeza, após a colheita (para retirada dos ramos que já produziram), e de inverno.
“A poda elimina folhas velhas que podem favorecer o aparecimento de pragas e doenças”, afirma Claudine, que também recomenda observar a presença de formigueiros próximos, uma vez que atacam as folhas.
A engenheira agrônoma Jessica Welinski de Oliveira D’angelo, aluna de pós-graduação em Produção Vegetal da UFPR, que está conduzindo as pesquisas, atualmente, afirma que, em relação às doenças, o estudo observou a ocorrência de ferrugem (nos ramos e folhas) e antracnose (nos ramos, folhas e frutos).
“Na safra passada, não tivemos problemas com botrytis (mofo cinzento), mas estamos realizando os testes de patogenicidade”, conta. Em relação às pragas, Jessica cita a presença de broca-da-amora e de mosca-das-frutas, cujas espécies serão identificadas e monitoradas, além de formiga-cortadeira.
“Atualmente, estou verificando o ponto ideal de colheita, visando ao prolongamento da vida de prateleira dos frutos e a manutenção dos teores dos compostos bioativos no armazenamento (ainda em fase de análise laboratorial)”, conta. Também está testando o congelamento dos frutos de cada cultivar pesquisada.
RESULTADOS
Os resultados indicam que o clima e solo da região da Lapa favoreceram o cultivo de amora-preta e apontam para a necessidade de irrigação no período seco.
“Na região, a produtividade chegou a alcançar 26 toneladas por hectare e a Tupy foi a cultivar de melhor desempenho”, informa Claudine.
Ela acrescenta que, além de boa produtividade, a Xavante se destacou pela acidez e teor de açúcar nos frutos, que são adequados ao processamento industrial. Já a Tupy, Guarani e Cherokee são ideais para o consumo in natura. O projeto terá continuidade com estudos envolvendo a incidência de doenças nas plantas e avaliações sobre congelamento e aproveitamento industrial dos frutos.
Por equipe SNA/SP