Festas juninas impulsionam agricultura, que deu origem às celebrações

As festividades coincidem com a colheita de alguns desses principais itens, como o milho, do qual o Brasil é o 3º maior produtor mundial, sendo o segundo grão mais cultivado no país. Imagem Freepik/Freestokcenter

Relação antiga que assimilou aspectos da brasilidade

Com a chegada do mês de junho, o calendário festivo reserva datas especiais para a comemoração dos dias de Santo Antonio (13), São João (24) e São Pedro (29). Embora sua origem remonte às celebrações pagãs europeias, que buscavam afastar pragas e maus espíritos durante a época das colheitas, a tradição foi incorporada ao catolicismo e tornou-se popular na Península Ibérica. O solstício de verão no hemisfério norte, que balizava as festas em outras eras, chegou ao Brasil com os portugueses e logo caiu no gosto da população, espalhando-se pelas regiões do país e alavancando economia, turismo e empregos.

O laço original com o ciclo agrícola, no entanto, se mantém, já que determinados produtos atingem o ápice de consumo em função dos pratos típicos servidos, tais como amendoim, milho, mandioca, além de frutas e raízes que servem de base para o preparo de doces e bebidas. Como o Brasil é uma potência da agricultura, a relação com as boas colheitas e com símbolos típicos das zonas rurais ganha expressões lúdicas que refletem a vida no campo, com fogueiras, danças e jogos.

As festividades coincidem com a colheita de alguns desses principais itens, como o milho, do qual o Brasil é o 3º maior produtor mundial, sendo o segundo grão mais cultivado no país. Durante os dois primeiros anos da pandemia, com a suspensão de eventos presenciais, tradicionais polos das comemorações, sobretudo no Nordeste, registraram perdas multimilionárias. Isso porque, como já foi dito, o período representa um ápice de vendas, atraindo visitantes de outras regiões e aquecendo a economia como um todo.

Simbiose entre campo e cidade

Cabe ressaltar que, diante das necessárias adaptações pelas quais as festas passou, um traço distintivo é a adoção das celebrações em cenários tipicamente urbanos, com as pessoas da cidade ostentando os símbolos e costume geralmente associados ao campo, numa homenagem à figura marcante do “caipira”. A tríade de santos do mês, mencionada anteriormente, também é tratada com uma intimidade e descontração diferentes, em comparação ao caráter solene e sóbrio reservado às datas de outros padroeiros.

Para os agricultores familiares, é também uma ótima oportunidade de escoar a produção e garantir uma renda extra, além de estreitar os laços comunitários que são muito importantes, reforçados pela coesão de pessoas que trabalham e confraternizam juntas, sobretudo em regiões mais afastadas e em cidades pequenas.

Mas nada supera o gigantismo do que acontece em Caruaru (Pernambuco) e Campina Grande (Paraíba), que disputam, numa rivalidade antiga e sadia, o título de “maior São João do Mundo”. São meses de preparo em termos de estrutura e atrações, que anima não só o público, mas o comércio e setores de transporte e hotelaria. Somente em 2023, as duas cidades juntas arrecadaram mais de R$ 1 bilhão e receberam quase 6 milhões de pessoas, somando-se todos os dias de festa, segundo dados do Ministério da Agricultura (MAPA).

Todo esse panorama evidencia que as festas juninas são uma manifestação cultural estreitamente ligada à agricultura, e seu sucesso país fora mostra a importância desse traço constitutivo da identidade nacional. Ano após ano, os números das celebrações crescem, proporcionando rentabilidade até para quem não atua diretamente no setor. Assimilando elementos europeus, misturados com aspectos tipicamente brasileiros, as comemorações sublinham a alegria e folclore do povo, ao mesmo tempo em que atesta da pujança que é celebrada nessa época.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290)

 

 

 

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp