WOCCU reconhece importância do trabalho de Roberto Rodrigues para o cooperativismo brasileiro

“Fico muito honrado com a homenagem, mas sobretudo com o fato de que deu certo tudo aquilo que comecei a fazer há 40 anos”. Com esta frase, Roberto Rodrigues expressou seu agradecimento por estar entre os vencedores do Prêmio “Distinguished Service Award”
“Fico muito honrado com a homenagem, mas sobretudo com o fato de que deu certo tudo aquilo que comecei a fazer há 40 anos”, diz Roberto Rodrigues ao agradecer por estar entre os vencedores do Prêmio “Distinguished Service Award”, título concedido pelo WOCCU, em Cracóvia, Polônia. Foto: Raul Moreira/Arquivo SNA

“Fico muito honrado com a homenagem, mas sobretudo com o fato de que deu certo tudo aquilo que comecei a fazer há 40 anos”. Com esta frase, Roberto Rodrigues expressou seu agradecimento por estar entre os vencedores do Prêmio “Distinguished Service Award”, considerado a mais alta honraria concedida pelo movimento mundial das cooperativas de crédito. A escolha de seu nome, feita pelo Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (WOCCU, na sigla em inglês), foi anunciada pela entidade em Cracóvia, Polônia, no dia 10 de abril.

Ex-ministro da Agricultura e ex-presidente do Sistema Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Rodrigues ainda é embaixador especial para o Cooperativismo no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (ONU/FAO) e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro). Também é um dos pioneiros na implantação de cooperativas de crédito no País.

Presidia, até o mês passado (25 de março de 2015), a Academia Nacional de Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), cargo repassado para o colega e ex-ministro Luiz Carlos Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

Para Rodrigues, tudo começou em 1974 quando fundou a Cooperativa de Crédito de Guariba, no interior paulista; depois presidiu a OCB quando teve, como líder cooperativista, participação ativa na Constituinte de 1988.

Ao ser informado da premiação, Rodrigues conta que enviou mensagem aos seus quatro filhos, entre eles Paulo, que trabalha e mora na fazenda da família no município de Guariba, onde está a cooperativa de crédito que fundada por ele em 1974.

“À época, eu defendi a tese de que precisávamos ter bancos cooperativos como os que existem em países desenvolvidos do mundo inteiro, porque é uma forma, pode-se dizer até tendência, dos bancos – públicos ou privados – caminharem com as próprias pernas. Essa era a minha tese”, lembra.

Rodrigues continua contando sobre a conversa com o filho. “Paulo, disse: “Pai, isso que o senhor fez há 40 anos está dando resultado hoje. A Cooperativa de Crédito de Guariba é um banco que nos sustenta fortemente na economia rural da região. Por isso, lembraram de você hoje”. Essa mensagem do meu filho foi a coisa que mais me impressionou, porque dá uma consistência ao meu projeto, à minha visão de 40 anos atrás”, conta, emocionado.

“Então, o objetivo que eu tinha há 40 anos está cumprido. Para o produtor caminhar com as próprias pernas só tem um jeito: tem de ter bancos cooperativos. Defendi a tese há 40 anos e agora amadureceu no Brasil. Fico muito honrado com a lembrança, mas sobretudo com o fato de que deu certo tudo aquilo que eu estava querendo durante esses anos”, diz o ex-ministro.

O PRÊMIO

Por quase 30 anos, a WOCCU tem concedido o “Distinguished Service Award” (DSA) a pioneiros que envidaram esforços para o fortalecimento do movimento internacional do cooperativismo de crédito. São pessoas cuja missão é expandir e fortalecer a inclusão financeira para além de seus países e isto merece o mais prestigioso reconhecimento, destaca a entidade.

De acordo com a WOCCU, o DSA não é uma premiação anual: é mais que isto, é concedido com base em realizações comprovadas e merecimento dos candidatos conforme a avaliação da comissão julgadora.

Manfred Dasenbrock, presidente da SicrediPar e da Central Sicredi PR-SP-RJ (que ocupa hoje o cargo de secretário-geral da Woccu), fez parte do grupo que coordenou a premiação.

“O reconhecimento de Roberto Rodrigues se deve ao grande trabalho que faz para o desenvolvimento do cooperativismo, não só do Brasil, como também do mundo. É um grande interlocutor das cooperativas em outros países, sempre trabalhando como promotor do desenvolvimento do setor”, afirmou Dasenbrock.

O prêmio será entregue em julho deste ano, em cerimônia a ser realizada durante a Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito, em Denver, nos Estados Unidos.

A HISTÓRIA

Em informações  distribuídas à imprensa, a OCB conta que Rodrigues iniciou suas atividades junto ao Cooperativismo de Crédito em 1974, quando, sendo presidente de uma Cooperativa de Produtores de cana-de-açucar em Guariba (SP), entendeu que seus cooperados precisavam encontrar meios de, como dizia ele na época, de “caminhar com as próprias pernas” em termos de crédito rural.

Fundou naquele mesmo ano uma cooperativa de crédito rural: a Coopecredi. Conforme a OCB, teve muita sorte porque, no mesmo ano, um banco comercial fechou uma agência que mantinha na cidade e Rodrigues trouxe o gerente da agência e mais dois funcionários destacados para montar a cooperativa, de modo que ela nasceu e cresceu sob uma gestão estritamente profissional.

Passados alguns anos, o então presidente da OCESP, Américo Utumi, visitou a cooperativa e, impressionado com o profissionalismo da mesma, convidou Rodrigues para chefiar um grupo de trabalho encarregado da criação de uma rede de cooperativas de crédito rural à imagem da Coopecredi.

Na ocasião, havia no Estado de Rio Grande do Sul um dirigente ligado ao segmento, Mário Kruel Guimarães, a quem Rodrigues procurou e em cujo modelo se inspirou para montar a rede imaginada, com cooperativas de crédito rural (chamadas Credis) ligadas às agropecuárias e com uma central para coordenar as ações do sistema no Estado.

Dito e feito. Em poucos anos, graças a uma equipe extraordinária designada pela OCESP, mais de uma dúzia de Credis estavam criadas e funcionando profissionalmente em várias regiões do Estado, e tratou-se da criação da central, base do Sistema Sicoob.

Logo depois, o então presidente da OCB, o mineiro José de Pereira Campos Filho, conhecendo o êxito do trabalho, convidou Rodrigues para coordenar outro grupo, desta vez para criar o Credis pelo País todo. Isto foi feito. Deste grupo fazia parte Mário Kruel, o idealizador do modelo que foi sendo implantado em diferentes Estados, cada qual com sua central.

LIDERANÇA NACIONAL E MUNDIAL

Todo esse movimento acabou por levar Rodrigues à presidência da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) durante dois mandatos, de 1985 a 1991; à presidência da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas e do Conselho Continental da ACI de 1992 a 1997; e à presidência da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), de 1997 a 2001. Foi o único presidente não europeu da ACI em toda sua história de 120 anos.

Entre as realizações na OCB está a coordenação dos trabalhos que levaram à autogestão do sistema cooperativista, por meio das conquistas obtidas junto à Constituição de 1988, alcançadas pelo trabalho articulado com a Frente Parlamentar Cooperativista, estimulada por ele, então presidente da Organização.

Na Constituição de 88 existe uma de suas maiores conquistas: um artigo que confere às cooperativas de crédito isonomia em relação ao sistema financeiro. Com isto, foi possível iniciar um esforço para mudar as regras do Banco Central que inibiam o funcionamento pleno das Credis. Para tanto, Rodrigues contou com o apoio do então secretário-geral do Ministério da Fazenda, Yoshiaki Nakano.

Em 1992, foi convidado pelo então ministro da Fazenda, Marcílio Marques Moreira, para representar a agricultura no Conselho Monetário Nacional, ocasião em que iniciou as gestões que culminaram, três anos mais tarde, na criação dos Bancos Cooperativo, baseados exatamente nos Sistemas Sicoob e Sicredi imaginados anos antes.

Em 2004, já como ministro da Agricultura, ele conseguiu, com o apoio essencial da OCB, que novas regras fossem estabelecias pelo Banco Central, abrindo as cooperativas de crédito para associação de cidadãos comuns, o que permitiu um extraordinário crescimento dos Bancos Cooperativos.

Por equipe SNA/SP com informações da OCB

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